Opinião

O que os leva à loucura

Uma crónica de Vera Esperança.

Esta coisa de escrever crónicas já me trouxe algumas surpresas. Uma pessoa começa a ler, a investigar e descobre coisas estranhíssimas. Na semana passada descobri que existia uma tal de FPAS – Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores.

Qual não é o meu espanto quando volvidos oito dias percebo que existe uma coisa ainda mais estranha que se autointitula de Grupo de Produtores Exportadores de Ovinos e Bovinos (GPEBO). What? Quem? Alguém consegue verbalizar esta sigla – que falta de jeito para escolher um nome.

Este grupo de meia dúzia de grandes produtores de ovinos e bovinos ou bovinos e ovinos, como queiram, juntou-se para lutar contra os ativistas, leia-se, a PATAV (Plataforma Anti Transporte de Animais Vivos), Plataforma que tem o dom de saber trabalhar e mexer com os interesses puramente economicistas e egoístas de grandes produtores. Os ativistas que integram a PATAV conseguem expor a verdade, sempre devidamente documentada, comportamento que anda a deixar os produtores à beira de um ataque de nervos. A loucura está instalada!

Sabe aquele tipo de pessoa que entra em desespero e a única saída que encontra é enfiar um tiro na cabeça? Pois, não há melhor explicação para esclarecer o aparecimento da GPEBO. Estes produtores andam desesperados proferindo palavras suicidas, que são facilmente rebatidas por quem tem o mínimo de conhecimento da realidade politica e da bovinicultura portuguesa. Refiro-me a um artigo publicado no jornal Público no dia 11 de março. Ora veja só os disparates que retirei desta notícia:

 – A comissão de inquérito à protecção dos animais durante o transporte iniciou a discussão, no Parlamento Europeu, na semana passada, poucos dias depois do destaque dado aos contestatários desta actividade, através de um programa da RTP.

 Falso. A comissão de inquérito do Parlamento Europeu iniciou-se em junho em 2020. A reportagem da RTP no Programa Linha de Frente foi transmitida no dia 25 de janeiro de 2021 e um elemento da PATAV foi ouvido no Parlamento Europeu no dia 1 de março;

O desempenho extraordinário e exemplar” do sector está a ser “diminuído e desvalorizado” por uma “minoria sem escrúpulos” .

Verdade. A falta de escrúpulos existe. E provem de uma minoria: da GPEBO. Seria útil nesta grave desinformação que os produtores/exportadores de gado concretizassem com exatidão a que se referem. Será às filmagens obtidas pelos ativistas, que expõem sem medo as condições execráveis e ilegais com que os animais são tratados antes e durante o carregamento em navios? Ora espreite aqui:

https://www.youtube.com/channel/UCTm2oNPy8fraWMO5ynZB-5Q

Tem-se tornado habitual que, de forma irresponsável e preconceituosa, algumas associações e plataformas, a coberto de uma agenda animalista, se oponham publicamente ao agro-pecuário sem informação credível, fugindo à verdade e pondo em causa milhares de profissionais, populações inteiras que convivem e dependem do agro-pecuário e a própria sustentabilidade ambiental, económica e social de um Portugal muitas vezes esquecido.

Nem sei por onde começar com tanta asneira.  Esta negociata que mete dó está a prejudicar outros setores da indústria da carne como as quintas de engorda e os matadouros, já para não falar da população que é afetada pela poluição da água e dos solos. E já nem falo tambem no metano que é expelido para a atmosfera por parte dos milhares de bovinos que contribui para as alterações climáticas por via do aumento do efeito de estufa (recorde-se que o metano é estimado ser cerca de 25 vezes pior que o dióxido de carbono no que ao efeito de estufa diz respeito ). Trata-se de animais criados para serem exportados para Israel à custa de recursos portugueses. A carne de qualidade, como gostam de qualificar, é enviada para o exterior, obrigando-se os cidadãos portugueses a consumir carne provinda de países de leste…. A economia que este grupo defende é feita à custa do sofrimento animal e de atividades que já cá andavam antes de 2015 (ano em que começaram as exportações). A defesa ambiental que invocam põe em causa a estratégia europeia Farm to Fork, ou seja, do Prado ao Prato, que assenta no consumo local, no quilometro zero, num índice de poluição muito mais baixo. A criação destes animais está a destruir montados, a contaminar águas e a poluir solos.  

Os produtores e os exportadores não são insensíveis às questões do bem-estar animal, muito pelo contrário – Ai não? Então por que razão estão tão preocupados com o inquérito do Parlamento Europeu que tem por escopo, precisamente, a defesa do bem estar animal? É bom que se decidam. Sério. Não vale a pena ficarem nervosos. É que depois só dizem disparates.

 – O esforço feito pelos produtores nos anos mais recentes tem permitido revigorar um sector de extrema importância para o país, tem contribuído bastante para fixar as populações no interior e tem conseguido captar novas gerações de profissionais para a agricultura e para o agro-pecuário.

Vá lá… desertificação do interior? Estamos a brincar? A produção de bovinos quase não precisa de mão de obra. Portanto, afirmar que este negócio é muito importante para a empregabilidade e na lutar contra a desertificação do interior é uma mentira descarada!

Aconselho seriamente o GPEBO ou GPEOB, sei lá, este grupo esquisito a acalmar-se e a pensar duas vezes antes de dar tiros para o ar – bem sei que o desespero leva ao suicídio, mas com tantos tiros perdidos ficam com a dignidade seriamente comprometida.

Tenham juízo!

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”.


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