Opinião

O povo é sereno, mas até quando?

Infelizmente, na minha opinião, Portugal pouco mudou ou evoluiu, porque não podemos comparar apenas o país que tínhamos no período anterior ao 25 de Abril de 1974 com o actual momento, pois também temos de equacionar as evoluções tecnológicas que aconteceram no mundo e que foram (des)aproveitadas por todos aqueles que governaram Portugal nas últimas 4 décadas.

Se tivéssemos evoluído ao mesmo tempo e no mesmo patamar do que a evolução tecnológica permitiu, hoje em dia Portugal tinha, obrigatoriamente, de estar entre os primeiros países mais evoluídos da União Europeia e não ser um país mendigo, constantemente humilhado pelos países do Norte.

Considero que em 46 anos de uma democracia podre, que não tem protegido os portugueses da corrupção política e dos “Salgados” e “Berardos” desta vida, Portugal ficou com um atraso maior em relação aos restantes países da Europa do que aquele que havia em 1974, mesmo que em 1981 tenhamos sido o 11.º primeiro país a aderir à CEE, actual União Europeia, com duas décadas de vantagem sobre países que estavam sob o domínio de regimes ditatoriais que os isolavam do resto da Europa.

Relembro que foi somente em 2004 que a Eslovénia, República Checa, Chipre, Estónia, Letónia, Malta, Polónia, Lituânia e a Hungria aderiram à União Europeia.

Em 2007 aderiram a Bulgária e Roménia. Por último, em 2014, a Croácia finalizou os 27 países que actualmente compõem a União Europeia, pois o Reino Unido saiu em 31 de janeiro de 2020.

Se os países que pertenciam ao antigo Bloco de Leste tinham problema sociais e económicos mais graves e complicados do que Portugal tinha em 1974, como é que é possível que em pouco mais de uma década todos aqueles que eram denominados de países pobres do Leste nos estejam a ultrapassar em termos económicos e sociais?

Economicamente podemos afirmar, sem margem para dúvidas, que ficámos muito aquém daquilo que podíamos e devíamos ter alcançado. Mas, e o que dizer sobre a evolução social no nosso país?

Quem lutou ou foi contra o regime ditatorial Salazarista muitas vezes culpabilizou e ainda culpabiliza os 3 pilares da ditadura, popularmente conhecidos como os 3 F´s (Futebol, Fado e Fátima), pela serenidade do povo e do adormecimento no combate pelos direitos e liberdades dos portugueses.

Não podemos esquecer que Portugal é o único país do mundo que teve uma revolução feita com cravos, ou seja, até aí a serenidade (apatia) do povo prevaleceu, porque a revolução apenas aconteceu depois do Ditador ter falecido.

Por isso questiono o seguinte: será que hoje em dia foram eliminados os 3 pilares da ditadura, que os combatentes do regime Salazarista diziam ser o ópio do povo ou fizemos apenas uma revisão aos 3 F´s para manter os novos Donos Disto Tudo no poder?

Julgo que estamos perante a segunda hipótese, pois continuamos a ser um povo sereno, muito apático em relação à corrupção na política e continuamos a deixar que os nossos governantes nos enganem e tapem os olhos, para que tudo o que eles façam seja aceite sem contestação ou que o povo se insurja.

Desde 1974 até aos dias de hoje, pouco ou nada mudou em relação ao primeiro “F” (Futebol). Todos nós já percebemos que quem seja dirigente de um clube de futebol fica sob a capa da inimputabilidade e impunidade, que só acaba quando o seu mandato chega ao fim.

Em tempos de pandemia pudemos constatar que o Futebol continuou a ser utilizado como um sonífero para o povo, mas apenas o futebol sénior masculino da 1.ª divisão, porque assim temos mais um assunto para debater, saber se ainda somos um país machista e ultraconservador.

Acontece que este “F”, o do Futebol, foi autorizado a terminar o campeonato nacional, caso contrário os portugueses poderiam não aceitar passivamente, como aceitaram, as falhas no combate ao Covid-19 protagonizadas pelo nosso Governo.

Ao longo dos anos o segundo “F” (Fado) caiu em desuso, porque a evolução ou a involução dos tempos mudaram o gosto musical dos portugueses, tendo este sido substituído por outro “F”, o do Facilitismo.

No Facilitismo incluo o emburrecimento que tem sido implementado nas gerações pós 25 de Abril de 1974, nomeadamente à geração Y e principalmente à geração Z.

Hoje em dia um aluno pode passar sem ter os conhecimentos mínimos essenciais, porque o que importa aos governos é apresentar números positivos à União Europeia.

Também existe facilitismo na escola por ter deixado de haver autoridade escolar. Hoje em dia se o professor repreender o aluno, o mais provável é este ser despedido com a justificação de ter provocado danos psicológicos irreparáveis na “criança”.

Imaginem daqui a uma década o que é que este “F” (Facilitismo) fará à nossa sociedade, que adultos é que iremos ter e como é que vamos rivalizar em termos económicos com os restantes países da Europa que nunca enveredaram por uma cultura de facilitismo?

A percorrer este caminho vamos continuar a ser os mendigos da Europa durante as próximas décadas!

Mas o “F” do Facilitismo não se vê somente no atraso escolar que Portugal está a sofrer, vemos também na questão da falta de preparação de cidadania que começou quando deixámos de ter o Serviço Militar Obrigatório ou por não termos criado um Serviço Cívico Obrigatório para quem não quisesse servir militarmente o país.

O “Facilitismo” actual permite adormecer ainda mais o povo, pois, assim, sem estudar, aprender ou sequer “ensinar” um cidadão a ser patriota, ao poder político pouco ou nada é questionado.

Por último, o terceiro “F”, ou seja, Fátima. A devoção popular foi substituída pelo “F” do Fundamentalismo, que hoje em dia é utilizado para tudo, menos para o que verdadeiramente é relevante ou real, com alguns partidos a  utilizarem, cada vez mais, a luta contra o  Racismo e a Xenofobia ou a Protecção dos Animais como as mais importantes lutas que devem de ser travadas pelos portugueses.

Discutir se Portugal é um país racista é dar tempo de antena a quem nada tem para dizer sobre todas as discriminações que diariamente são feitas aos portugueses, independentemente da sua côr ou género.

A questão da luta contra o racismo e a xenofobia tem afastado as pessoas dos reais problemas que diariamente nos afectam a todos, mas permite dar tempo de antena aos partidos que colocam essa falsa bandeira nos seus programas, mesmo que isso faça aumentar o número da abstenção, pois o que importa é eleger deputados, mesmo que depois se venha a constatar o óbvio, que é serem uma nulidade absoluta em termos políticos.

Lamentavelmente Portugal tem pessoas racistas, como tem Angola, o Senegal, a China ou a India, porque o racismo não é exclusivo dos “brancos”, é uma “doença mental” que infelizmente ainda aflige muita gente por esse mundo fora.

Infelizmente o ser-humano ainda não evoluiu para um patamar onde ninguém sofra do mal que é ser racista, mas não podemos deixar que acusem falsamente um povo daquilo que não é.

Todavia, não vejo os partidos que ostentam a bandeira do racismo e da xenofobia criarem soluções para a discriminação que diariamente é feita a milhares de portugueses, como a de nem todos terem acesso à justiça, de recebermos os salários mais baixos da Europa ou das mulheres auferirem quase sempre salários inferiores aos dos homens, entre outras reais discriminações, pois um desses partidos até esteve numa “geringonça” e não consegui observar melhoramentos nessas questões essenciais para os cidadãos, independentemente da sua côr ou género.

Mas questiono, alguém dúvida que Portugal é dos países onde há mais protecção contra o racismo ou xenofobia?

Relativamente à protecção dos animais, já expus essa questão num texto anterior, e mesmo concordando que os animais devem de ser devidamente protegidos e que devemos punir quem os maltrata, não posso deixar de ficar preocupado ao ver como é possível que os seres-humanos estejam mais motivados a ajudar um animal que vive na rua do que outro ser-humano que esteja em condições análogas.

Por tudo o que acabei escrever posso afirmar que os 3 F´s da Ditadura (Futebol, Fado e Fátima) foram substituídos por outros 3 F´s (Futebol, Facilitismo e Fundamentalismo), que têm o mesmo efeito sonífero nos portugueses, por isso pergunto, até quando é que vamos deixar que corruptos e incompetentes nos governem e nos tapem os olhos?

Será que necessitamos de uma verdadeira revolução?

O povo é sereno, mas até quando?


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