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Covid-19 aumenta problemas financeiros nos bombeiros

As Associações Humanitárias dos Bombeiros enfrentam um novo desafio com a pandemia de coronavírus 19, uma vez que o Estado de Emergência levou à diminuição dos serviços prestados, o que a curto prazo irá causar uma quebra a nível financeiro, a que se junta o aumento dos preços dos equipamentos de proteção.

O Diário do Distrito entrevistou os presidentes das Associações Humanitárias de corporações do distrito de Setúbal sobre os receios para o futuro e como estão a enfrentar este novo desafio, com a aproximação de mais uma época de fogos florestais. Depois do concelho de Palmela, seguem-se hoje as duas corporações do concelho do Seixal.

«Esperemos que o Governo
tenha consciência daquilo que
os bombeiros lhe pedem»

Bombeiros Mistos do Concelho do Seixal

Brázio Romeiro, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Mistos do Concelho do Seixal deixou, em primeiro lugar, uma nota “pelo trabalho extraordinário que a corporação desenvolveu no momento difícil que atravessamos, mercê da boa dinâmica entre o Comando e a Direção”.

Sobre os problemas financeiros que a Covid-19 tem causado às corporações, o Comandante José Raimundo refere que “não sentimos diminuição no que respeita ao transporte de doentes não urgentes porque não é uma área onde tenhamos muitos serviços, apenas nos hemodialisados, que continuamos a fazer, e algumas fisioterapias. Mas notámos um decréscimo nos transportes de urgência, até porque antes as pessoas queriam transporte de ambulância para as urgências, mas agora recusam-no por receio.”

“Esta corporação muniu-se de outras ferramentas para suportar as despesas” acrescenta o 2.º Comandante José Mendes. “São formações em empresas; serviços de prevenção, como no Centro de Estágios do Benfica, e a venda, manutenção e revisão de material de combate a incêndio, para o qual estamos certificados pela ANPC.

E nestes tivemos realmente uma grande quebra financeira, na ordem dos 12 mil euros mensais, e aos quais acresce o aumento das despesas para os equipamentos de proteção, na ordem dos 15 mil euros, uma perda total de cerca de 30 mil euros.”

O 2.º Comandente acrescenta que “sempre que uma equipa de dois bombeiros sai para a rua por indicação INEM em caso de suspeita de COVID-19, é feita uma análise sobre qual o grau de proteção com que tem de se equipar que pode ser apenas luvas e máscara cirúrgica; o nível 2 com bata, avental, tapa-pés, touca, máscara FFP2 e luvas; até ao nível 3, com equipamento completo de fato, óculos, viseira. E cada equipa tem, para os três níveis de segurança, este leque de equipamentos que pode rondar os 60 a 100 euros, a preços de há uns dias atrás.”

A isto acresce o aumento dos preços de materiais como álcool e géis desinfectantes, máscaras e luvas “e sobre os quais estamos a ver um aproveitamento das farmácias e das empresas e que o Governo está a permitir” lamentou o Comandante José Duarte. “Um ventilador para um veículo que custava cerca de 2.500 euros, estão a pedir hoje 16.000 euros e é difícil encontrar.

E a quebra financeira irá reflectir-se em Maio ou Junho, porque até agora a corporação tem uma situação económica regulada, mas iremos sentir o peso deste problema financeiro, que também irá impedir que avancemos com alguns projectos que tínhamos para este ano, como a compra de mais uma ambulância e um veículo de incêndios florestais, compra de equipamentos de proteção individual para combate a incêndios e a remodelação  do destacamento de Santa Marta de Corroios.”

A corporação tem contado com o apoio de empresários, organizações, instituições, amigos anónimos e principalmente da Câmara Municipal do Seixal, “que nos tem fornecido desinfectantes e equipamentos, bem como as refeições diárias para os 60 operacionais dos dois turnos” refere Brázio Romeiro.

O problema poderá vir a ser minimizado “se for implementado aquilo que a Liga dos Bombeiros já transmitiu, que passa pela actualização dos valores dos protocolos celebrados em 2013, entre o INEM e a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), que deviam ser revistos anualmente, mas tal nunca aconteceu” explica o presidente da AHBMCS.

“As despesas de intervenção de hoje não são as mesmas que em 2013, mas o INEM continua a pagar a mesma verba para o custo do combustível e de aquisição de material, até aos ordenados. E da parte do Governo, devia ser implementado um subsídio para o combustível, à semelhança do ‘gasóleo verde’, porque cada vez que saímos para uma emergência ou para ir combater incêndios noutros pontos do país, pagamos o gasóleo ao preço do mercado.

E embora os nossos bombeiros tenham seguros de vida, estes não cobrem a situação de pandemia, algo de que a Liga já deu conta ao MAI, que se comprometeu tomar medidas, porque tem de ser criada uma situação de excepção. Temos os profissionais e os voluntários a virem todos os dias para o quartel, numa extraordinária consciência cívica, mas e se algum ficar infectado?”.

Por sua vez o Chefe Carlos Pina destaca que “durante um mês abdicámos do serviço de escala obrigatório como voluntário, devido à possibilidade de contágio, mas os nossos operacionais continuam a vir ao quartel e até fazem mais serviço de escala do que em tempos normais.”

Também a época de incêndios se aproxima, mas não preocupa para já o Comandante José Raimundo. “Teremos de avaliar na altura, mas o nosso corpo de bombeiros está estruturado e preparado para dar resposta a essas situações, bem como para os acidentes, tal como estiveram agora para o covid-19.”

Piquete dos Bombeiros Mistos do Concelho do Seixal

«Apelámos aos voluntários para que permaneçam no quartel todo o tempo que puderem»

Bombeiros Mistos de Amora

A presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Mistos de Amora, Lúcia Soares, refere ao Diário do Distrito que “é evidente que a AHBMA começa já a sentir dificuldades de tesouraria, uma vez que é notória a redução de transporte de doentes não urgentes e de serviços particulares.

A falta de recursos materiais e humanos obriga-nos a uma gestão e organização interna mais rigorosa.”

A responsável lamenta que “para responder a todas as solicitações no transporte de doentes suspeitos de serem portadores do COVID -19, enquanto agentes da Proteção Civil, muitos serviços não podem ser efetuados por falta de recursos humanos e materiais, situação agravada pela morosidade com que todo o processo se desenvolve e as normas que após o transporte têm que ser cumpridas, quer em relação aos bombeiros, quer em relação às viaturas.

É com imenso esforço a nível operacional que conseguimos manter o transporte de doentes hemodialisados e ainda realizar alguns serviços INEM, forma do contexto do COVID -19, mas cujas receitas são manifestamente insuficientes.”

Em relação ao funcionamento da corporação Lúcia Soares frisa que “neste momento apelámos a todos os voluntários que permaneçam no quartel todo o tempo que puderem, de modo a facilitar as rendições e haver rotação de equipas, que permitam algum descanso, tanto aos voluntários como aos funcionários, que não deixam de ser também voluntários.

Felizmente, contamos com a presença de alguns voluntários cuja entidade patronal, de forma voluntária ou a nosso pedido os disponibilizou para estarem ao serviço da corporação, por entenderem o estado calamitoso em que nos encontramos.”

Em relação ao início da época de fogos, a presidente afirma que “sinceramente neste momento não lhe sei responder. A esta altura já tínhamos assumido o dispositivo DECIR 2020, à semelhança dos anos anteriores.

Contudo, penso que face ao momento que atravessamos a nossa prioridade está a ser o combate à pandemia e ainda não refletimos bem sobre o dispositivo, situação que acredito ser generalizada a todos os corpos de bombeiros.

Aguardamos indicações das entidades competentes, mas certamente iremos responder positivamente, redobrando esforços e contando com o apoio dos nossos parceiros de luta, a Câmara Municipal do Seixal e as Juntas de Freguesia de Amora e Corroios, entidades sem as quais há muito a nossa capacidade de intervenção seria quase impossível.”

Também esta responsável deixa o agradecimento à Câmara Municipal do Seixal “que é a grande aliada e o garante da operacionalidade das associações de bombeiros do concelho do Seixal, apoiando financeiramente, garantindo as refeições aos bombeiros de serviço, fornecendo equipamentos entre outras ajudas, sempre atempadamente e atenta às necessidades do momento.”

DR – BMA – Agradecimento pela oferta de viseiras de


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