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Segurança | ‘Os técnicos hospitalares são quem muitas vezes vemos antes de morrer’

Decorre durante este sábado no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal, a 2.ª edição do Fórum Nacional de Segurança, Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas, onde estão a ser abordados vários temas de forma a sensibilizar para as causas e consequências da sinistralidade rodoviária com motociclos.

Carlos Pereira, presidente da organização ‘Benção dos Capacetes’, iniciou os trabalhos frisando que “este fórum tem também como objectivo homenagear e recordar os motociclistas que perderam a vida na estrada” e anunciou que a edição de 2024 irá ter lugar, novamente, em Torres Vedras.

O presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva, deu as boas vindas aos presentes, e afirmou que “actualmente não se justifica o número de acidentes e vítimas mortais nas estradas. Todos temos de contribuir para aumentar a segurança rodoviária”.

Destacou depois o papel das sete associações motards existentes no concelho “que realizam um trabalho essencial como parceiros da autarquia nesta questão que a todos nos preocupa, a da segurança”.

O primeiro painel foi ‘A sinistralidade rodoviária. Condições de segurança. Fatores de risco’, que teve como moderadora Daniela Azevedo, e como oradores Pedro Miguel Silva, do Conselho de Administração do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT); Alain Areal, director-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP); Subcomissário Leandro Berenguer, adjunto do Comando da Esquadra Moto da Divisão de Trânsito da PSP; Francisco Mendes Godinho, Diretor do Departamento de Segurança Rodoviária e Ferroviária – IP; Patrícia Tenreiro, da APAVAM – Associação Portuguesa de Apoio Vítima Acidente Mota e Rodrigo Ribeiro, advogado.

O aumento da sinistralidade rodoviária com veículos de duas rodas, a necessidade da mudança de comportamento dos automobilistas e motociclistas, bem como a implementação de uma formação mais defensiva, foram algumas das conclusões dos oradores.

“A sinistralidade rodoviária é um fenómeno deveras complexo”, definiu Pedro Miguel Silva (IMT), “para o qual contribuem três factores: o comportamento humano, as infraestruturas e os veículos, com maior preponderância para o primeiro”.

Para Alain Areal (PRP) “a mudança de comportamento é muito difícil de corrigir, e por isso as campanhas de sensibilização devem ser cada vez mais direcionadas para os mais novos. Por outro lado, é essencial uma reformulação completa do sistema de ensino de condução, porque actualmente falta formação sobre técnicas adequadas para ciclomotores e motociclos.

As escolas de condução preparam os alunos para passar no exame e não para fazerem uma condução segura.”

O Subcomissário Leandro Berenguer destacou “o papel muito importante que as autoridades têm ao nível da fiscalização, sendo que o principal objectivo é sensibilizar para o comportamento dos condutores, de forma  a que estes conduzam de forma segura.”

Também a PSP registou um aumento no número de acidentes em duas rodas entre 2019-2022, dos quais resultaram mais vítimas mortais e feridos graves.

“Em Portugal caíram três airbus em 2022”, mencionou Francisco Mendes Godinho (IP) comparando o número de mortes nas estradas, de 460, com o número de passageiros de um airbus.

“Temos de trabalhar para mudar as mentalidades, porque se a noticia fosse que tinham caído ao Tejo três aviões, seria um enorme rebuliço, mas tratando-se de mortes nas estradas, apenas as lamentamos e seguimos em frente.”

Patrícia Tenreiro (APAVAM) destacou também a importância da maior formação ao nível do ensino de condução “porque aprendi a fazer um oito, mas quantas vezes alguém teve de o fazer na estrada?”, e também destacou as ações que a APAVAM está a realizar junto das escolas “porque é com os mais pequenos que podemos implementar a mudança”.

A última intervenção coube ao advogado e deputado Rodrigo Ribeiro, que de forma irreverente considerou que “não há santos nem culpados, mas todos temos de fazer a nossa parte, das entidades públicas no caso das infraestruturas, aos legisladores e até à comunicação social”.

“O que se continua a ver é a falta de respeito pelas fardas, mas as autoridades estão presentes para fazer cumprir a lei e para garantir a segurança de todos, só que muitos ainda os consideram como ‘inimigos’. Se visitassem alguns países e vissem o nível de corrupção ali existente e de falta de formação, iriam a pé a Fátima agradecer os agentes de autoridade que temos cá.”

Rodrigo Ribeiro agradeceu ainda “aos técnicos hospitalares, que são quem muitas vezes vemos antes de morrer” e a elementos da GNR “pela formação que dão aos motociclistas, e que salvam muitas vezes a nossa vida, mais do que todas as aulas que tivemos na escola de condução.”

A iniciativa contou ainda com a intervenção de Miguel Meira Cruz, ‘O sono, efeitos na condução’, o painel ‘Formação. Presente e futuro.’, e durante a tarde decorrerá o painel ‘As duas rodas na sociedade portuguesa’ e ‘Inspeções. Condições de Segurança. Fatores de riscos.’

A iniciativa é organizada pela Bênção dos Capacetes, em parceria com a Câmara Municipal do Seixal, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, a Guarda Nacional Republicana e a Polícia de Segurança Pública.

A sinistralidade em duas rodas em Portugal está acima da média europeia, tal como o número de vítimas mortais, facto que tem vindo a ocorrer desde 2016.

As vítimas nas estradas com cilindradas mais elevadas são sobretudo homens, com idades compreendidas entre os 45 e os 65 anos, e no caso dos ciclomotores, as vítimas têm entre os 25 e os 39 anos de idade.

As colisões perfazem 60% da sinistralidade, sendo os despistes 40%, ocorrendo a maior parte dos acidentes dentro das localidades.


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