Opinião

Saudades do capitalismo

Apesar de ter o privilégio de continuar a trabalhar, embora num cenário diferente do habitual, normal e desejável, sinto a falta da vivência em normalidade numa sociedade livre que a economia de mercado nos proporciona. Em suma, tenho saudades do capitalismo.

Sinto saudades daquelas pequenas coisas, mas muito significativas, que o capitalismo nos proporciona, que até aqui dávamos como totalmente adquiridas, e que perdemos. Mesmo que temporariamente, mas perdemos. Por exemplo, só aqui em Palmela, perdemos o prazer de ir almoçar ou jantar fora num dos excelentes restaurantes da Vila, da Lagoinha, da Quinta do Anjo e do Pinhal Novo. Perdemos o prazer de dar uma volta aos concelhos vizinhos de Setúbal, Montijo ou Barreiro para usufruir dos respetivos centros comerciais, onde podemos comprar tudo o que gostamos, desde livros a roupas, entre muitas outras coisas. Também o pequeno prazer de tomar um café, num dos ora excelentes, ora acolhedores, ora típicos, cafés do concelho perdemos. Até desfrutar do lindíssimo castelo de Palmela, do seu café e da sua pousada, perdemos. E isso contribui para uma abatimento coletivo que só a responsabilidade de nos mantermos vivos nos faz suportar.

Esta suspensão do normal funcionamento do sistema capitalista transmite-nos a impressão, terrivelmente real, de vivermos num sistema comunista. A memória da vivência das populações dos países da Europa de Leste que depois da II Grande Guerra caíram desgraçadamente sob o jugo da, felizmente, extinta URSS é um cenário que facilmente nos assalta neste momento de abatimento coletivo. A presença do medo, agora do vírus antes do aparelho totalitário e repressivo do Estado. A inexistência da possibilidade de ir comer a um restaurante ou fazer compras num centro comercial. A impossibilidade de circular livremente, a pé ou de carro, por onde e para onde quisermos. As filas de pessoas para entrada em estabelecimentos que vendem bens de primeira necessidade. A sociabilização limitada ou proibida. A desconfiança social generalizada. A miséria económica que se avizinha para aqueles que não trabalham para o Estado. Tudo isto e ainda mais nos remete para uma parcial reedição daquilo que Álvaro Cunhal designava de “sol da terra” e que os libertos das grilhetas do fanatismo ideológico doentio designam de ditadura comunista.

Se alguma coisa verdadeiramente pedagógica esta pandemia nos ensinou foi o que é viver num sistema comunista. Nunca se esqueçam desta lição. Eu não me vou esquecer.


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