Opinião

Precisamos exercitar a insubmissão!

Uma crónica de Isabel de Almeida.

Portugal acolheu na passada semana a Final da UEFA Champions League disputada no Porto entre duas das principais equipas de Futebol Britânicas, o Manchester City e o Chelsea. Foi anunciado que a lotação do Estádio do Dragão para esta competição desportiva estaria restrita a 33% da lotação  do estádio (e note-se que em Portugal e para Portugueses ainda não é permitida a presença de público nos Estádios, mas como sempre lá se faz uma “atençãozinha” ao estrangeiro e vamos lá abrir uma excepção, que ninguém se importa), foram reforçadas as medidas de segurança na Cidade do Porto para acolher os adeptos britânicos de dois clubes rivais (assim uma espécie de Sporting e Benfica do Reino Unido) que também por razões de segurança relativamente à pandemia viajariam em “bolha”.

Pois bem, a verdade é que não são apenas os Portugueses que são peritos em contornar normas, aliás antes diria que estamos cada dia mais votados ao “nacional carneirismo” achamos tudo bem se é para o bem da nação, o problema é quando se vira o feitiço contra os feiticeiros, e nitidamente foi o que aqui sucedeu, pois que Britânicos e Futebol não é propriamente a combinação ideal para esperar ordem, serenidade, bolhas que não rebentem e um sucesso em todo o evento. Muito embora Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto tenha referido publicamente que não iria acontecer no Porto o que havia sucedido em Lisboa (referindo-se aos festejos do Campeonato Nacional por adeptos Sportinguistas contra os quais, frise-se nem faltaram as mui dissuasoras balas de borracha) a verdade é que no Porto acabou por acontecer algo bem pior do que em Lisboa. As ruas e bares invadidas por adeptos Ingleses que dedicaram forte atenção ao convívio regado com álcool, um cenário de caos, violência e desordem pela cidade Invicta, convívios sem quaisquer restrições relativamente a distanciamento social ou uso de máscara, e uma “bolha” que nitidamente rebentou em todos os sentidos, literal e metaforicamente!.

Mas a história não termina aqui, neste climax de guerra campal ao melhor estilo de filme de acção de Hollywood. A melhor revelação estaria para vir. O Reino Unido, depois de ter usado e abusado diríamos nós da hospitalidade Portuguesa para um evento de alto risco aos mais diversos níveis (saúde, segurança e ordem pública) decidiu esta semana retribuir a hospitalidade e a excepção do que não se permite aos cidadãos portugueses no seu próprio país, aquele onde pagam impostos, e removeu Portugal da Lista Verde dos países seguros para viajar, alegando que adeptos da Champions regressaram infectados de Portugal, e considerando que estamos num país de risco. Assim, todo e qualquer turista britânico que não regresse ao Reino Unido antes de terça-feira próxima (dia oito de Junho de 2021) terá direito a testagem reforçada e a uma agradável quarentena de mais dez dias em casa.

Resultado, a Inglaterra chegou, viu, venceu, usou, abusou e atraiçoou Portugal. Somos e fomos perfeitamente descartáveis, e fomos e somos perfeitamente submissos. Há historicamente uma tendência que se mantém no tempo para sermos “os bobos da corte Inglesa”, no rescaldo das invasões Francesas os Ingleses vieram a Portugal a pretexto de socorrer os Portugueses libertando-os do vil jugo Francês e quando demos por nós O General Britânico Beresford estava pronto a ser uma espécie de Governador do Reino, e o exército começou a recrutar Ingleses ao invés de cidadãos nacionais. Mais tarde, em 1890, em pleno imperialismo e colonialismo, surge o ultimato Inglês, pelo qual Inglaterra exige que Portugal retire as suas tropas de um território entre Angola e Moçambique que havia sido descoberto pelos nossos exploradores mas que levantava aos Britânicos uma indigesta contrariedadezinha: estávamos no caminho deles no plano de ligar o Cairo (no Egipto) à Cidade do Cabo (África do Sul) e cedemos claro.

Desta feita cedemos, desrespeitámos pela desigualdade os nossos compatriotas que não podem celebrar nada no seu país e ainda vemos o turismo  concebido também erradamente “para Inglês ver” a perder a esperança de recuperação, com os aeroportos cheios de turistas Ingleses a regressar à pressa, contrariados também eles é certo, cancelando o resto das reservas hoteleiras.

O Primeiro Ministro António Costa já admitiu que entende não existir razão que justifique esta restrição de Portugal na lista verde, pois o Reino Unido tem mais infecções que nós, mas temos de ir com calma e diplomacia!

Talvez eu esteja a atravessar um ano demasiado difícil, talvez pessoalmente esteja cansada de diplomacias, e não me seja fácil lidar com a contenção das revoltas que me assolam, mas quer-me parecer que deveríamos retirar lições em nosso favor da história nacional e devíamos aprender a ser insubmissos de quando em vez.

Há situações em que não vamos lá com paninhos quentes nem com diplomacia, mas sim pondo as garras de fora e lutando pela nossa dignidade. Sejamos insubmissos, pelo menos se não resolver tudo, uma coisa posso garantir-vos, ser insubmisso é uma das melhores terapias para a alma que conheço. Dos fracos não reza a história! Parafraseando uma turista britânica hoje num aeroporto Português, num toque de inconfundível humor britânico: “Boris we hate you!”


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