Opinião

Polícias Low-Cost

Uma crónica de Bruno Fialho

Já todos sabíamos que os polícias em Portugal são mal remunerados, têm más condições de trabalho e que muitos daqueles que têm o sonho de enveredar por uma profissão em que o principal propósito deveria ser o combate ao crime, no início da sua carreira e na maior parte das vezes, se não residirem perto do local onde ficam colocados a trabalhar, vivem no limiar da pobreza.

Também é do conhecimento público que os nossos governantes e políticos em geral desprezam a nossa Polícia, tal como nutrem o mesmo sentimento pelas Forças Armadas, porque se algum dia for necessário libertar o povo desta corrupção e ditadura encapotada em que estamos submersos, serão os homens e mulheres que pertencem a essas instituições (Polícia e Militares), como sempre acontece em qualquer revolução, que irão ser a chave para o sucesso da mudança de regime.

Voltando à falta de condições que se vive na polícia, se falarmos das viaturas, das armas, do equipamento ou da formação de tiro, constatamos que é tudo low-cost.

Mas o que desconhecíamos, e é algo que a jornalista Sandra Felgueiras descobriu esta semana, era que as chefias da PSP usam o low-cost a seu belo prazer e para o seu próprio benefício, isto enquanto há polícias que sacrificam a sua vida para proteger os cidadãos e que passam por necessidades.

Para que fiquem bem enquadrados nesta história, a situação é a seguinte: a Montepio PSP de Lisboa tem atribuído apartamentos de tipologia T3 e T4 em zonas nobres da capital a menos de 550 euros/mês aos membros dos próprios órgãos sociais da associação e a altas patentes da polícia.

Todavia, relembro que na maior parte dos casos, muitos polícias trabalham em esquadras degradadas, algumas sem água ou condições mínimas de higiene, e outros tantos são obrigados a habitar casas sem condições, devido a estarem longe do seu local de residência habitual.

As casas usadas pelas chefias da PSP, que são todas localizadas em zonas nobres da capital,  são atribuídas sem que haja um concurso público, e são arrendadas por menos de 550 euros/mês aos membros dos próprios órgãos sociais da associação e a altas patentes da polícia.

Entre as muitas chefias da PSP que estão a ser investigadas pelo Ministério Público, temos o Director nacional, José Ferreira de Oliveira, que enquanto assumiu funções em Espanha como oficial de ligação junto da Embaixada de Portugal em Madrid, requereu uma das casas da associação para, alegadamente, ficar a residir nela um seu sobrinho.

A casa que foi atribuída a este Director nacional da PSP é um T4 na Avenida de Berna, que ele arrendou à associação do Montepio PSP pela quantia de 550 euros/mês, quando todos bem sabemos que para um imóvel com a mesma tipologia e naquela zona, a renda deveria rondar os 1.500 euros.

Portanto, tal como acontece na política, na polícia os que governam também praticam a velha máxima: “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.

Perante esta vergonha a que assistimos, como poderão os polícias, que não auferem milhares de euros por mês, terem algum respeito pelos seus chefes e directores nacionais?

E o povo? Que devido à forma como os sucessivos governos têm tratado os polícias, atribuindo à maioria deles baixos salários e más condições de trabalho, hoje em dia tem pouco ou nenhum respeito por aqueles que deviam ser melhores do que os comuns?

E como continuar a aceitar que um agente da autoridade saiba que está a prejudicar cidadãos, como nos momentos em que tivemos estados de emergência ilegais, com a desculpa de que tem que respeitar ordens superiores e nada faz em relação a esta situação ilegal e imoral dentro na própria PSP?

Das duas uma! Ou hoje em dia a polícia está cheia de meninos que  nem à tropa foram e por isso não têm coragem para lutar contra a corrupção que se vive no seio da própria polícia, ou devido aos baixos ordenados que auferem e às más condições laborais que têm, para não terem de se chatear muito, andar na caça às multas é o máximo que julgam que devem fazer.

Em ambos os casos, a todos os polícias coniventes com estas situações eu digo o seguinte: façam o favor de sair da Polícia porque são uma vergonha para a instituição que representam ou pelo menos deixem de andar a autuar indiscriminadamente e assim já não prejudicam quem precisa de ir trabalhar.

Portanto, hoje em dia em Portugal temos verdadeiros polícias low cost, seja porque uns nada têm (baixos salários e falta de condições de trabalho) ou porque outros gozam esse low cost (usufruem de apartamentos) às custas do contribuinte.


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