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Pequeno comércio e esteticistas reabrem em todo o país

No primeiro dia de desconfinamento e o fim do Estado de Emergência o pequeno comércio em Portugal, bem como as esteticistas, cabeleiros e barbeiros reabriram esta segunda-feira, com novas regras para o atendimento ao público.

Uma vez que esta jornalista reside no Seixal, foi aqui que foram realizadas as entrevistas a alguns destes comerciantes que regressam agora a uma «normalidade fora do normal».

Georgina Carapinha é cabeleireira, na Arrentela, e explica ao Diário do Distrito que esteve encerrada quarenta dias “desde 16 de Março até hoje”.

«Hoje tem sido muito desgastante a nível psicológico»

 Embora não tenha tido necessidade de recorrer a despedimentos, e ainda “sem noção dos prejuízos, posso dizer que foram muitos. Foi um mês e meio sem receber nada, e não tive quaisquer ajudas do Estado”.

Por outro lado, lamenta que teve de “arranjar dinheiro para implementar todas as medidas que nos são impostas, e que passam por desinfectantes que não são um produto qualquer, e por isso são mais caros e temos de disponibilizar o álcool gel que também não é barato.

Já tínhamos luvas e máscaras, mas tivemos de comprar muitas mais, porque se os clientes não trouxerem, temos de lhas fornecer, e vamos gastar o dobro das luvas e material descartável.

E até os penteadores que eram laváveis, têm de ser agora descartáveis por cada cliente.”

Como se não fosse suficiente, também o horário e a forma de atendimento sofreu alterações. “Foi-nos imposta a abertura às 10h00, nem sequer é o horário que podíamos praticar antes, e só podemos ter duas clientes dentro do salão.

Ora isto diminuiu ainda mais o número de pessoas que podemos atender, porque se há trabalhos até rápidos, outros demoram algum tempo e durante esse período, em que podia estar a atender outros clientes, não o posso fazer e por isso não conseguimos ter a rentabilidade que precisamos.”

Esta cabeleireira já trabalhava por marcação prévia, mas com as limitações, tem de reduzir o número destas. “E não tem sido fácil explicar aos clientes a necessidade de cumprir as novas regras. “Estou ao telefone desde as 9h00 com marcações, mas tem sido difícil, sobretudo para algumas pessoas, perceberem que não podem vir quando querem, e que têm de vir de máscaras e cumprir outras regras. Tive de colocar uma cadeira na entrada porque as pessoas não percebem que não podem estar mais do que duas clientes cá dentro. Tudo isto tem sido muito desgastante a nível psicológico.»

Apesar destas limitações, Georgina Carapinha compreende a implementação destas medidas de segurança “porque temos de alterar as nossas rotinas pela segurança e saúde de todos. Temos de nos adaptar e começar devagar, porque é difícil trabalhar de máscara e viseira, com os óculos a embaciar, mas espero que tudo isto passe rápido.”

«Não tive de despedir ninguém,
o prejuízo é apenas meu»

Encerrada desde o dia 15 de Março Adozinda Gonçalves, proprietária das Modas Zinda, ainda não tem noção do prejuízo dos dias que esteve sem poder abrir a loja de modas e retrosaria na Aldeia de Paio Pires. “Como sou sozinha, não tive de despedir ninguém, o prejuízo é apenas meu. Mas foi muito bom voltar a abrir hoje a loja, e ver os ‘vizinhos’, como os funcionários da barbearia Banza, fizemos uma festa.”

Além do seu negócio, tem também um outro estabelecimento alugado na Amora, cujo arrendatário “ainda não veio pagar a renda, mas compreendo porque ele vive daquilo e teve de estar encerrado, portanto não teve qualquer rendimento. E como eu estou reformada, nem como muito, cá me vou aguentando.”

Também esta loja se preparou com medidas de protecção “e tenho máscaras para os clientes que não tragam a sua, tenho géis desinfectantes, e entre cada cliente desinfecto o balcão e o espaço, porque é uma questão de segurança para os clientes e para mim, que já tenho uma certa idade” diz entre sorrisos atrás da viseira.

«Somos um pouco como cobaias»

Paula Raposo, que dirige a ‘Estética Onda Zen’ na Torre da Marinha, esteve encerrada quarenta dias “desde o dia 13 de Março até hoje, mas ainda não fiz as contas aos prejuízos. Mas foram imensos.

E a isso vai juntar-se agora as despesas que temos para poder abrir, porque vamos de ter de duplicar o material que usamos e tudo aumentou bastante de preço, das luvas às máscaras e aos desinfectantes que temos de usar para higienizar o espaço e para as nossas clientes, tudo a fundo perdido e tudo descartável.”

Um ‘pé-de-meia’ foi o que conseguiu manter esta esteticista “para poder pagar a Segurança Social, a água, luz, renda. Concorri ao lay-off e recebi 113 euros, que já deu pagar algumas despesas, e o meu marido tem um ordenado fixo, o que ajuda um pouco”.

Este estabelecimento de estética já funcionava com marcações “até pelo tipo de trabalho que fazemos, e também já usávamos máscaras e luvas.

Quando as minhas clientes souberam da reabertura, voltaram a marcar e já sabem que tem de ser uma de cada vez e vou tentando organizar a agenda de forma a que possa ter uma cliente na zona exterior e outra na sala fechada, para não estarem em contacto. E tento que quando a cliente vem, faça logo tudo, das unhas à depilação, para que possa fazer uma única higienização logo que ela saia.”

No momento de receber as clientes, prefere que “não venham com luvas, porque não sabemos aquilo em que tocaram. Prefiro que entre, coloque o álcool gel, lavem as mãos na casa-de-banho e depois novamente aplicarem o gel. A partir do momento em que começo a trabalhar com ela, também tenho muitos produtos desinfectantes para desinfectar.”

Um dos principais problemas coloca-se com o uso de máscaras e viseiras. “É um horror, tudo a embaciar, e o calor que sentimos durante o trabalho”, embora reconheça “a necessidade de nos protegermos. Nunca pensei vir a viver algo como isto, e por isso tudo está a ser uma adaptação, como a abertura de estabelecimentos como o meu, em que estamos num contacto muito directo com os clientes. Acho que nós somos um pouco como cobaias, se tudo funcionar irão avançar para mais aberturas, senão, tudo volta a parar, mas nós já estivemos estes dias na ‘linha da frente’ e com maior risco de contágio, por muitas medidas de segurança que tomemos.”


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