Opinião

O Homicídio é banal!?

Se o mundo já anda, no geral, virado do avesso, se as mortes se sucedem implacáveis por obra do vírus assassino, ou devido a maior exposição ao perigo e especial fragilidade de doentes crónicos ou oncológicos, a verdade é que estas tragédias não vêm revelando um crescendo de humanidade, tolerância, compreensão, aceitação do outro, respeito para com a nobre e sagrada essência da vida humana, sendo a vida e a saúde o que temos de mais precioso e o que mais está sob ameaça nestes tempos.

Estamos nós, enquanto sociedade, a vivenciar uma nítida crise de valores, que se é certo que se manifestava já na era pré Covid, também não é menos certo que se tem vindo a agudizar, ao menos em Portugal.

Perante a notícia de mais um homicídio violento, desta feita sendo o alegado autor e a já certa vítima dois jovens estudantes universitários de Psicologia Social e das Organizações, e considerando todas as estatísticas de mortes violentas e de outros episódios sociais de violência acentuada, questiono-me enquanto cidadã Portuguesa o que se passa neste pais que já foi famoso pelos brandos costumes?

O que move um ser humano comum, do nada, a achar-se no Direito de tirar a vida a outra pessoa? O que poderá levar a que o faça gratuitamente, tantas vezes perante a fragilidade da vítima, perante a impossibilidade de defesa da mesma, em total submissão desde logo pelo factor surpresa no modus operandi ou pela sua desvantagem ostensiva em termos físicos (pais que matam filhos, por exemplo).

Além do acto em si, já de si incomum, que deveria ser uma excepção e nunca a regra, faz pensar o elevadíssimo grau de violência que é imprimido a estes actos desumanos e criminosos, porque os corpos falam com a voz da ciência o que a perda da vida não permite relatar! Se pensarmos na banalidade com que hoje, em Portugal, por motivos fúteis, se tiram vidas com laivos de extrema violência, com marcas que deixam antever o sofrimento infligido nas vítimas. É assustador ver e ler notícias em Portugal, não só pelo vírus, mas por estes novos fenómenos de extrema agressividade, violência e impulso para matar a que temos assistido nos últimos dois meses e meio.

Será que a pandemia veio também ajudar a servir de gatilho para fazer crescer este sentimento de indiferença pelo outro, esta total incapacidade de empatizar que passa da indiferença à muito grave e assustadora propensão e predisposição para cometer crime de homicídio?

Podemos considerar que o confinamento está a acelerar processos mentais patológicos? Podemos questionar que a impossibilidade ou severa limitação no convívio com outros humanos em termos de afectos está, de facto, a tirar-nos a capacidade de sermos aquilo para que nascemos: seres humanos que se distinguem dos animais por terem emoções (como considera a psicologia clássica)?

Poderá, numa perversa contradição, a falta de afectos fazer-nos perder a capacidade de ser afectivos, empáticos, cientes dos valores sociais que vimos colhendo há várias gerações?

 

E o que podemos esperar desta geração que agora cresce assim, atrás de um ecrã, com  afectos meramente virtuais? Tenho medo dos resultados que daqui possam surgir.

É certo que diversas variáveis contextuais condicionam a ocorrência deste fenómeno nos seus vários exemplos, naturalmente há diferenças entre contexto, espaço social, motivações, formação académica, características de personalidade dos autores e das vítimas, famílias mais ou menos funcionais, patologias que podem surgir sem se anunciar ao nível mental, grupos sociais e culturais que promovam o ideal da violência como forma de contestação à opressão da sociedade e ao seu julgamento (por exemplo, a crítica social e a violência como forma de reacção e contra poder ao poder instituído pode relacionar-se com o fenómeno artístico do rap, podendo mesmo arriscar-se uma interpretação psicanalítica, onde se sublima através de uma forma de arte inusitada e contra o sistema toda uma série de impulsos e emoções agressivos, hostis, violentos) mas e o que explica a banalização do homicídio?

Apelo sinceramente à comunidade científica da área das ciências sociais e humanas que se mobilize em torno destes fenómenos para nos ajudar a compreender e prevenir este tipo de situações. Urge salvar a “humanidade” dos seres humanos.

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