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Julgamento da morte de Jéssica com contradições e respostas pouco claras

Está quase a fazer um ano depois da morte da pequena Jéssica que abalou a cidade de Setúbal, hoje arrancou o julgamento com cinco arguidos acusados de homicídio e droga

Os noticiários abriam todos no dia 22 de junho de 2022 com a trágica morte de uma criança de três anos de seu nome Jéssica Sanches, uma morte que poderia ser como qualquer uma, mas que abalou o país e até a cidade sadina, pois os contornos do crime foram pesados com mais de 150 lesões em todo o corpo da criança que acabava por morrer sozinha e sem o auxílio da sua progenitora que terá, segundo a acusação, deixando a criança a agonizar sozinha em casa e a mãe a divertir-se no ‘karaoke’.

Ao coletivo de juízes, Inês Sanches [mãe de Jéssica] terá dito esta manhã que não prestará quaisquer declarações.

Inês terá chegado ao tribunal sem algemas, apesar de estar em prisão preventiva na cadeia de Odemira, ao contrário de Ana Pinto, a sua filha Esmeralda e o marido Justo Montes que entraram na sala algemados. O filho do casal que agora é acusado de homicídio qualificado em conjunto com a sua filha, Eduardo Montes, é o único arguido em liberdade a aguardar julgamento, este é acusado de tráfico de droga e de fazer de Jéssica o seu transporte de droga. Eduardo Montes já se encontrava na sala quando os pais e irmã entraram, Ana Pinto, terá entrado na sala e olhado para o filho dizendo “Estás tão lindo, meu amor”, a mulher foi avisada por um dos guardas prisionais para não proferir tais palavras.

O casal e a filha estão a ser acusados pelo Ministério Público de terem sequestrado e violarem a pequena Jéssica, recorrendo a agressões que vão desde palmadas, murros e bofetadas. O presidente do coletivo de Juízes, Pedro Godinho, questionou Justo Montes se queria prestar declarações e a resposta foi afirmativa.

“É tudo mentira”, afirmou perante o coletivo, Justo Montes é um dos cinco acusados tráfico de droga agravado e de um crime de violação agravado, o arguido confirmou que a pequena Jéssica esteve cinco dias na sua casa, mas negou as agressões de que é acusado.

— O que lhe disseram?

— Que a miúda vai ficar uns dias e depois a mãe vem buscá-la. Depois não sei mais nada.

— E a miúda depois ficou la a fazer o quê?

— Eu não vi nada. Eu não sei. Eu nunca estava em casa.

Justo Montes respondeu ao juiz com um discurso curto e pouco esclarecedor, negando ainda conhecer Inês Sanches, mas o juiz parou o raciocínio do arguido quando disse que Jéssica comeu na sua casa, durante os cinco dias que lá esteve, ao contrário daquele que acontecia quando estava com a mãe: “A mãe dava-lhe só iogurtes”. Mas o discurso de Justo Montes continuo pouco claro para o coletivo e para o Ministério Público, sendo que Pedro Godinho alertou o homem. “O senhor tem o direito de dizer o que quiser, mas as coisas têm de fazer sentido”.

Depois foi mostrado ao arguido algumas fotos do corpo da criança, aquando da autópsia, documentos que fazem parte do processo, visando mostrar novamente as lesões provocadas à criança durante a estadia na sua casa. “Não vi, não me lembro”, disse constantemente.

— Chegou a ver a menina sem cabelo?

— Não.

— Viu alguma coisa?

— Ah, só que menina caiu da cadeira. Perguntei à minha mulher, ‘o que se passa com a miúda?’ E ela disse que não era nada.

— Viu ferimentos?

— Vi. Bateu com a boca na cadeira.

Para além das lesões, o processo inclui outras fotos de Jéssica com múltiplas marcas de violência, incluindo a cara, mas as respostas do arguido continuaram a ser as mesmas: “Não sei, não tenho nada a ver com isso e não quero saber”. O juiz Pedro Godinho tentou perceber a questão das queimaduras que a criança apresentava no corpo.

— O senhor fuma?

— Fumo.

— Como acende o cigarro?

— Então, com um isqueiro ou com fósforos.

— E a sua neta brinca com isqueiros?

— Não, não.

-Porquê? É que foram encontrados vestígios da Jéssica em isqueiros que estavam na sua casa. O é que os guarda?

— No bolso.

— O isqueiro está sempre ao pé de si?

— Sempre no bolso.

— Pois, foi onde foi encontrado o isqueiro. Como foram encontrados vestígios da Jéssica no seu isqueiro?

Com as questões sucessivas do juiz, Justo Montes deixou por responder às questões.

A primeira sessão, que teve inicio esta segunda-feira, teve interrupção para almoço, pelas 13h00, e estava marcada para as 14h30, mas não acabou por acontecer devido à greve dos funcionários judiciais. A audiência ficou adiada para esta terça-feira.


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