Atualidade

Da Lupercalia a Cupido com passagem por três S. Valentim

O dia mais romântico do ano está aí, entre a compra de lembranças (onde não devem faltar os corações e os chocolates), e os jantares a dois, alguns marcados com semanas de antecedência e que animam o sector da restauração.

Todos sabemos que este dia está dedicado a S. Valentim, o sacerdote romano que casava jovens casais, à revelia do imperador que pretendia obter assim dos seus soldados a maior fidelidade.

Mas as raízes desta tradição, como muitas outras do cristianismo, estão ainda mais longe, na Lupercalia, festa pastoral anterior a Roma Antiga, celebradas pelos sabinos e depois adaptadas pelos romanos no dia no dia 15 de fevereiro.

A Lupercalia servia para purificar a cidade no final do ano, que nessa altura terminava em Março, espantando os maus espíritos e promovendo a saúde e a fertilidade.

Era também conhecida como dies Februatus, em homenagem aos instrumentos de purificação chamados februa (purificações) e daí a base etimológica para o mês chamado Februarius – Fevereiro.

Este mês tinha como divindade padroeira a deusa Juno Februalis, Februlis ou Februata, mas também uma suposta divindade purificadora chamada Februus e também a Fauno Luperco, deus simbolizado com corpo de homem e pernas de bode.

As descrições do festival Lupercalia relativas ao ano de 44 a.C. atestam sua continuidade ao longo dos séculos.

Anualmente, um corpo especial de sacerdotes, os luperci sodales eram eleitos entre os patrícios mais ilustres da cidade. A 15 de Fevereiro encontravam-se na gruta Lupercal para sacrificarem dois bodes e um cão e serem ungidos na testa com o sangue, limpado da lâmina do sacrifício com uma manta de lã embebida em leite.

Vestiam-se então do couro dos animais, simbolizando Fauno Luperco, ao qual arrancavam tiras, chamadas februa, com as quais saíam ao redor da colina a chicotear o povo, em especial as mulheres inférteis, que se reuniam para assistir o festival.

Em 494 d.C., o Papa Gelásio I proibiu e condenou oficialmente a festa pagã e numa tentativa de cristianizá-la, substituiu-a pelo dia dedicado a São Valentim, assinalado a 14 de Fevereiro.

Mas, tal como noutras celebrações definidas como ‘pagãs’, também a Lupercalia foi difícil de extinguir, e foi sendo celebrada pela população nominalmente cristã numa base regular no reinado do imperador Anastácio.

S. Valentim, o santo que pode nunca ter existido

Não há nenhum apaixonado que não conheça, pelo menos de nome, S. Valentim, que apadrinha o Dia dos Namorados.

São Valentim é um santo que já foi reconhecido pela Igreja Católica, celebrado a 14 de Fevereiro, que seria a data do seu martírio, mas que a mesma Igreja Católica deixou de celebrar em 1969 por duvidar da sua identidade e até da sua existência.

Isto porque o nome refere-se a pelo menos três santos martirizados na Roma antiga, que surgiram nas antigas listas de mártires, surgidos nos primeiros séculos da era cristã: são eles dois bispos sepultados em diferentes locais da Via Flamínia, em Roma, e um terceiro que teria sido torturado e morto na África, todos eles assinalados a 14 de Fevereiro.

Os autores da Enciclopédia Católica afirmam que os dados que chegaram até os dias atuais sobre esses três supostos mártires «carecem de valor histórico» por serem escassos, insuficientemente fundamentados e de data muito posterior à época em que se supõe que tenham vivido.

No entanto, ao longo dos séculos, os três mártires unificaram-se na memória popular, acabando por dar origem a uma personagem e uma tradição que, apesar das directrizes da Igreja, continua bem ‘vivo’.

Reza assim a lenda deste S. Valentim: durante o seu governo, o imperador Cláudio II proibiu a realização de casamentos, com o objetivo de formar um grande e poderoso exército, acreditando que sem relações familiares os jovens iriam alistar-se com maior facilidade.

Apesar da proibição, um bispo romano continuou a celebrar casamentos em segredo.

Quando isso foi descoberto, Valentim foi preso e condenado à morte, mas os jovens casais conseguiam fazer-lhe chegar flores e bilhetes, nos quais afirmavam ainda acreditar no amor.

Entre estes estaria uma jovem cega, Artérias, filha do carcereiro, que conseguiu a permissão do pai para visitar Valentim, por quem se apaixonou.

Milagrosamente a jovem recuperou a visão, mas Valentim acabou mesmo por ser decapitado a 14 de fevereiro de 270 d.C.

Cupido, o Deus do Amor

E claro, os apaixonados também tinham de ter um deus que os protegesse das adversidades.

E estes é Cupido, também conhecido como Amor, era o deus equivalente na mitologia romana ao deus grego Eros, e seria filho de Vénus (deusa da beleza e do amor) e de Marte, (o deus da guerra).

Da mãe herdou o poder de fazer os humanos e os deuses apaixonarem-se, pelo que andava sempre com o arco e flechas (possivelmente herança paterna), para disparar sobre os corações.

Cupido encarnava a paixão e o amor, situação que podia vir a causar problemas, tal como Júpiter (deus dos Deuses) previu, e por isso tentou obrigar Vénus a desfazer-se do próprio filho, o que ela, como mãe, não aceitou e escondeu o bebé num bosque, onde este se alimentou com leite de animais selvagens.

Só que esta ‘graça’ de Cupido um dia iria virar-se contra o próprio, ao atirar uma flecha sobre si mesmo, apaixonando-se por Psique, uma humana cuja beleza causou inveja a Vénus.

Por isso pediu ao filho que fizesse a jovem apaixonar-se pelo homem mais feio da Terra.

Ao ver Psique, e achando-a tão bela, aproximou-se demasiado da jovem, e ao preparar a flecha, esta moveu um braço e Cupido acabou por acertar em si mesmo, e é caso para dizer, provou do próprio remédio, ao apaixonar-se perdidamente.

Uma vez que ela era humana e ele divino, urdiu um plano: instalou Psique num magnífico palácio, para onde esta foi transportada pelo vento, e casou com ela, mas colocando uma exigência: nunca ela lhe veria o rosto.

Visitava-a todas as noites, e embora Psique fosse feliz, a curiosidade levou a melhor e uma noite, acendeu uma lamparina para lhe ver o rosto. Por infelicidade dos deuses, uma gota de óleo caiu sobre Cupido e de imediato toda a magia desapareceu e Psique deu por si, não mais num palácio, mas numa zona deserta e pedregosa.

Mas deuses são deuses e Cupido recorreu a Júpiter para recuperar a sua amada. Comovido pelo amor que o deus demonstrava, e porque também precisava dos seus préstimos, o rei dos deuses acedeu e mandou Mercúrio transportar Psique para o reino dos deuses, onde a tornou imortal como deusa da alma.

Aí casaria com Cupido na presença de todos os deuses e numa festa que se prolongou por vários dias, o sonho de qualquer casal.


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