Opinião

Cucu, passaroco lindo!

Uma crónica de Vera Esperança.

Não gosta, pois não? Isto do confinamento, ai jesus e tal, que o pessoal é livre. Pois é, é livre, sim. Liberdade de movimentos, pensamentos, deslocação e circulação. Até que nos impeçam. E se há impedimentos justificáveis, outros existem que carecem de qualquer justificação.

Portanto, faça aqui uma introspeção e imagine-se dentro de uma gaiola, pode ser amarela com telhado laranja e pendurada na cozinha, junto àquela janela onde dá o sol mais quentinho de inverno. Uma daquelas gaiolas em que um pássaro esvoaça há já 3 anos do poleiro de cima para o de baixo, mas não sem bater com as asas nas grades e perder umas poucas de penas. Já encarnou a coisa? Agora vou falar para si, como se fosse o menino pequenino da mamã, engaiolado há 3 anos no seu palácio. Concentre-se:

Que lindo, oh passaroco, que lindo que és. Estás feliz, é? Olha que lindo, está a cantar!!! Que felicidade! Oh passaroco da mamã!!!! És lindo, tão azulinho. Cucu!

E então? Como se sente? Cucu! Oh, passaroco lindo!

O passaroco, como lhe chamo carinhosamente, não canta para si ou para mim, não canta porque está feliz. Canta, na tentativa de atrair o seu parceiro sexual, canta na sua solidão, para ela e contra ela. O seu periquito ou um qualquer pássaro desses mais comuns que vivem na tristeza de uma gaiola, poderiam voar e expandir as suas asas durante 3 horas por dia, a que corresponderia, em média a cerca de 100 quilómetros. Isto sim, seria liberdade, isto sim, seria felicidade. Isto sim, potenciaria a possibilidade de encontrar o seu parceiro sexual e construir uma família permanente, sim, porque as aves acasalam para a vida, sofrendo com a perda do seu parceiro. Não são como muitos humanos que casam e descasam como mudam de camisa.

Governos existem que já há muito perceberam a crueldade de manter animais engaiolados. Não acredita? Veja o exemplo que provém da India. Este país reconhece os animais como ser sencientes e titulares de direitos fundamentais, proibindo o seu comércio, o seu aprisionamento. Na India estão também proibidos testes de cosméticos realizados em animais, luta de cães, entre outras práticas consideradas cruéis para os animais.

 Em 2013 foi neste país proibida qualquer atividade que incidisse sobre importação e captura de espécies cetáceas, porquanto foi reconhecido que o cativeiro compromete o bem-estar destes animais, deixando-os em estado de pânico e stress permanente, podendo, em última instância, comprometer a sua sobrevivência. No que em concreto se refere aos golfinhos, foram reconhecidos com o estatuto de pessoa não humana, seres detentores de especiais direitos.

Mas voltando às aves, esses animais sofisticados e inteligentes, constituem hoje um importante elemento de estudo e interesse para a comunidade científica que investiga os seus poderes cognitivos, sobretudo no que diz respeito aos corvídeos que aparentam ter capacidades cognitivas semelhantes às dos grandes símios como é o caso dos chimpanzés. Veja-se, por exemplo, o caso dos corvos que deixam nozes junto de estradas para que os automóveis as partam e eles possam recolher o seu miolo.

Um estudo mais recente vem ainda demonstrar que as aves têm também uma consciência e um auto reconhecimento, tal como os seres humanos, pois existem microcircuitos no cérebro de pássaros semelhantes ao neocórtex dos mamíferos, o que significa que os pássaros podem pensar e aperceberem-se da realidade que os envolve.

No que respeita a aves selvagens se alguma vez encontrar alguma ferida, por favor, não a ponha em cativeiro. Contacte de imediato o SPENA/GNR (808200520) ou o LXCRAS (se estiver em Lisboa (217710870). Depois plante uma árvore e espere que ela venha livremente cantar para si.

Lá porque está confinado, não confine quem não precisa.

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”. 


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