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Corpo Voluntário de Médicos Brasil-Portugal impedido de ajudar o SNS

São cerca de cem médicos luso-brasileiros, brasileiros e luso-angolanos que residem em Portugal, e que se ofereceram como voluntários para ajudar o SNS neste momento de pandemia do covid-19, mas a quem este voluntariado foi recusado por questões burocráticas.

“Somos médicos com uma média de 12 anos de experiência profissional nos nossos países de origem, com formação em diferentes especialidades médicas” explicou ao Diário do Distrito Talita Ferreira, uma das representantes do Corpo Voluntário de Médicos, especializada em Medicina de Emergência.

“Somos quase 100 médicos, a maior parte brasileiros e luso-brasileiros e dois luso-angolanos, que nos inscrevemos como voluntários no site do SNS, na faculdade de Medicina de Lisboa, mas até agora sem nenhuma resposta.

Na sexta feira o escritório de advocacia que nos está a auxiliar pro-bono recebeu a resposta do Bastonário da Ordem dos Médicos, em como apenas aceitam como voluntários médicos inscritos na Ordem.”

No entanto este é outro problema com o qual estes médicos se deparam. “Estamos inscritos no processo de Equivalência do Diploma de Medicina 2018, 2019 e 2020, e que já moram aqui em Portugal com suas famílias, mas infelizmente por problemas burocráticos, estamos de mãos atadas, sem poder ajudar os nossos colegas de profissão e também a nação.

Muitos de nós ainda nem conseguiu fazer a prova. Eu própria estou inscrita no processo desde maio de 2019 mas a prova que estava marcada para janeiro de 2020 foi remarcada para maio de 2020 e novamente suspensa e remarcada para 2021.

Depois o processo de revalidação demora cerca de 18 meses até a realização das 3 fases (teórica, prática e apresentação de TCC), mais 4 a 6 meses para o pedido de autonomia na Ordem dos Médicos, totalizando 2 anos de processo para exercer medicina em Portugal.”

Estes médicos têm procurado ajuda para desbloquearem o processo de equivalência, conforme explica Talita Ferreira. “Já entrámos em contacto com o Comitê de Gestão de Crise, com a Ordem dos Médicos, com as Faculdades de Medicina, com o Ministério da Saúde e com a DGS para que todos tivessem consciência de que existimos e estamos dispostos a ajudar.”

Talita Ferreira esclarece também que “não estamos a pedir a revalidação do diploma, não estamos usando desse momento de fragilidade como forma de oportunismo como cheguei a ler em alguns comentários. Pelo contrário, estamos dispostos a ajudar de qualquer forma.”

E lamenta que “médicos qualificados, muitos com especialidades e anos de experiência tenham de se limitar a ouvir as notícias sem poder fazer nada. Trabalhei vários anos em UCI, tenho cursos de emergência e de suporte avançado de vida, suporte cardiológico, acesso a vias aéreas difíceis, e não posso colocar isso ao serviço de Portugal. É um absurdo. Como filha de portugueses sinto-me parte desta nação, somos todos irmãos e neste momento de fragilidade deveríamos dar as mãos.”

E deixa ainda uma sugestão. “Claro que não queremos ficar isentos das provas mas a Alemanha por exemplo, acabou de autorizar 1 ano de autonomia a todos que estão já inscritos no processo de revalidação do Diploma, para que possam atuar nesse momento de pandemia.”

Confessa que “estamos frustrados, porque temos capacidade e competência para poder ajudar. Estamos colocando os nossos currículos à disposição para serem avaliados, estamos também dispostos para deslocações fora da nossa área de residência se necessário e não estamos a pedir nada em troca.”

Apesar das dificuldades colocadas em Portugal, este grupo de médicos não cruzou os braços e “estamos a trabalhar com telemedicina no Brasil, gratuitamente, numa rede de apoio ao COVID-19. O nosso intuito é ajudar, seja de que forma for.”

«Nos ajudem a ajudar Portugal!» é o apelo que o Corpo Voluntário de Médicos Brasil-Portugal deixa nas redes sociais, onde também deixaram uma carta aberta aos portugueses.


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comentário

  1. Um verdadeiro absurdo burocrático. Como pode? Sou português e vejo a realidade lastimável do SNS com uma falta de médicos lamentável!

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