Opinião

Com a saúde não se brinca!

Se há coisa que esta fatídica pandemia veio mostrar à saciedade é que “com a saúde não se brinca”.

Isto vale para os cidadãos, no respeito e cumprimento das regras de proteção sanitária, que as autoridades governamentais e autárquicas tanto gostam de sublinhar, mas vale também e sobretudo para estas mesmas autoridades…que não têm feito, em grande medida, a sua parte.

Na verdade, as autoridades públicas não vêm fazendo o que lhes competiria, agora e de há muitos anos a esta parte, quando não garantem a existência de transportes públicos, em quantidade e qualidade suficientes à salvaguarda do respeito pela sua adequada lotação,  quando não  fiscalizam devidamente os espaços comerciais…quando desinvestiram no SNS e nem sequer foram capazes de recuperar, pelo menos em parte, esse investimento nos últimos 10 meses em contexto de emergência.

Tentam vender agora uma perceção falsa que não tem a mínima aderência à realidade.

Porque, reiteramos, se há coisa que esta pandemia escancarou – para além da importância capital do Serviço Nacional de Saúde (SNS), da competência e entrega inexcedíveis dos nossos profissionais de saúde, na garantia dos nossos cuidados de saúde e na proteção das nossas vidas – foi o desinvestimento brutal dos sucessivos governos nos últimos anos no nosso SNS, em equipamentos e sobretudo em recursos humanos.

É gritante a falta de médicos, mormente de médicos de família, a falta de enfermeiros e dos demais operacionais de saúde, por todo o país.

Alcochete não só não foge à regra, como consubstancia um exemplo concreto e muito negativo em como um governo desnorteado e uma Câmara ajoelhada partidariamente levaram a uma situação muito grave.

Alcochete recebeu no passado dia 4 de Fevereiro, com pompa e circunstância, numa altura em que se tornou evidente o descontrolo nacional e local da pandemia e em que todos os especialistas apontam para uma degradação imensa dos demais serviços de saúde não COVID – o lançamento de uma campanha nacional montada pelo Ministério da Saúde que inaugurou em Alcochete por duas semanas uma unidade móvel de rastreio da mama… iniciativa naturalmente interessante que não consegue esconder todavia que tal “show off” apenas visa desviar as atenções do desvario em que nos encontramos.

Em si mesma, esta campanha de unidade móvel evidencia como o SNS continua sem capacidade de resposta, com naturalidade e perenidade, às diversas necessidades de diagnóstico e de assistência médica nos mais diversos domínios.

A falta de capacidade de resposta também às consequências do COVID só acentuou essa realidade ineludível.

No país, e com particular gravidade em Alcochete, a falta crescente de médicos de família e doutros profissionais de saúde, desde logo nos Centros de Saúde de Alcochete e do Samouco, a incapacidade de responder de forma universal e generalizada às populações, como acontece em S. Francisco e demais território concelhio, são verdades insofismáveis.

Nos últimos anos, não obstante ser Alcochete dos concelhos com maior e acentuado crescimento demográfico relativo, por efeito da nova ponte Vasco da Gama, o governo central vem desinvestindo gravemente na saúde, também no nosso território.

As localidades rurais, como a Barroca e o Passil perderam a sua extensão do Centro de Saúde, por força da política centralizadora dos governos PS e PSD/CDS,  tal como S. Francisco, cujo posto médico foi projetado pela CDU mas rapidamente abandonado pela executivo da Junta local do PS, que se vergou às diretrizes do famigerado governo de Sócrates.

Não fora o anterior executivo da CDU ter batido o pé e reivindicado, ao lado das populações, cedido o terreno e até adiantado o pagamento da empreitada (400.000 euros, ainda em dívida por parte do Governo), e não se teria construído o novo Centro de Saúde do Samouco. Não fora o esforço recente da Junta local com a colocação de uma pala de proteção e as pessoas do Samouco esperariam à chuva pela sua consulta.

Do mesmo modo, foi ainda o anterior executivo que negociou com os serviços regionais do Ministério da Saúde uma unidade móvel para apoio às localidades rurais.

Infelizmente, a atual maioria camarária PS/CDS contentou-se com a deslocação daquela unidade móvel apenas de 15 em 15 dias durante o período da manhã e apenas ao Passil. Não se compreendendo como pode estar aquela carrinha o tempo todo parada em Alcochete à porta do Centro de Saúde, com S. Francisco, a Barroca e demais localidades do concelho sem um mínimo de apoio.

Se era para isso, para quê o investimento numa unidade móvel, se no Passil há décadas que a Câmara disponibiliza no Centro Social instalações condignas para o posto médico?

Na verdade, estes novos senhores da Câmara Municipal de Alcochete, também no setor da saúde, não conseguiram fazer melhorar nada. Limitaram-se ao “show off” e a brincar verdadeiramente com a saúde da população.

Pois ao mesmo tempo que se perderam médicos e não se resolveu um único problema de falta de recursos humanos, não se recuperou um único serviço de extensão do Centro de Saúde, andaram a embalar as pessoas com o fiasco da cadeira dentista e com a falácia populista da dupla comparticipação municipal nos medicamentos dos idosos mais carenciados.

Em 2018 badalaram aos sete ventos o investimento de 20.000 euros numa cadeira dentista para apoio à saúde oral no Centro de Saúde. Quase 3 anos depois e a cadeira nem instalada foi.

Em 2019 inventaram uma dupla comparticipação municipal nos medicamentos já comparticipados pelo Ministério da Saúde, prometida aos idosos mais carenciados do concelho.

Ao invés de reivindicarem e de apoiarem as iniciativas legislativas na AR, nomeadamente do PCP, de isenção total do pagamento dos medicamentos por parte dos idosos com mais de 65 anos em todo o território nacional e de forma permanente, vieram agora com este número.

Tendo metido na gaveta essa intentona em 2020, em plena pandemia e quando os idosos mais precisavam, para agora a retomarem em ano de eleições autárquicas e anunciarem uma verba de 50.000 euros do erário municipal para um suposto apoio a 200 idosos que, pelo meio duma teia burocrática, a tal se têm que candidatar junto da Câmara.

Uma manobra meramente eleiçoeira que nada resolve, que a poucos idosos chegará e que nada garante no futuro.

Três anos para se preocuparem com os idosos carenciados e com a saúde dos alcochetanos, mas só agora em ano de eleições vêm com esta “brincadeira” de mau gosto, mais uma.


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