Opinião

Afinal, não era mentira

Esta semana, um artigo de opinião de Pedro Guerreiro Cavaco.

O pré-aviso fora dado. Mas ocorrera ao primeiro dia do mês de Abril e o Governo, quiçá, terá pensado tratar-se de uma brincadeira. Não os levou a sério.

Depois, bem depois já o sabemos. O país esteve parado e o fogo foi apagado pelo (sempre) bombeiro de serviço, Pedro Nuno Santos.

Neste artigo quero escrever, mais que fazer crónica do que ocorreu, sobre o facto evidente que resulta da perca de poder da CGTP e UGT e, a par, o emergir de sindicatos que não lhes são afectos ou, como correu com os enfermeiros, sem acção sindical, em que a Presidente de uma Ordem Profissional dirigiu o combate.

Parecem distantes os tempos de luta em que se via e ouvia dirigentes sindicais com peso, convocando e desconvocando, dirigindo palavras de ordem, protestando e ameaçando com greves… dirigentes de peso esses afectos à CGTP e UGT, ainda que desde sempre me tenha parecido que a primeira, ligada ao PCP, teve sempre maior força.

Bom, quão distantes? O tempo de uma legislatura, na verdade.

A Gerigonça feriu as centrais sindicais. Terão pedido força pela conivência parlamentar entre PCP e PS, em concreto; terão perdido a rua; terão perdido poder reivindicativo; terão perdido protagonismo; e terão gerado desânimo crescente entre os seus associados.

Paralelamente, emergiram outros sindicatos, até aqui desconhecidos, com a força e com o poder de parar um país (algo que não se entende, ainda que o destinatário não fosse o Governo…), com poder reivindicativo, ou seja, o oposto das centrais sindicais.

Mais. Reparemos que as greves mais recentes não são de um todo, mas de uma classe profissional concreta. Procurarei exemplificar. As greves não foram da função pública, mas dos enfermeiros. Não foram dos motoristas de pesados, antes dos motoristas de matérias perigosas. Avizinha-se 8ler parágrafo seguinte), nova paralisação, agora dos motoristas de mercadorias. E por aí fora. Ou seja, há uma reivindicação classista e delimitada, mas com um poder ímpar.

Sindicatos esses que não estão associados à CGTP ou UGT e que por via disso agem ao arrepio das intersindicais.

E quando se questiona por que razão Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, não usou da palavra nesta greve mais recente, por exemplo, eis a resposta. Esta não foi uma luta da CGTP. Nem esta nem outras ocorridas, como sejam enfermeiros, estivadores no Porto de Setúbal ou uma (nova) que se anuncia quando escrevo estas linhas, do Sindicato de Motoristas de Mercadorias (sindicato independente).

E quando se perdem lutas, perde-se força.

A par dos sindicatos, recentemente vimos emergir uma força de protesto nas ruas a qual foi totalmente inesperada. Sim, refirmo-me aos enfermeiros. Recordemos a denominada “greve cirúrgica” dos enfermeiros. Foi uma greve financiada através de uma plataforma de crowdfunding, liderada por Ana Rita Cavaco, Bastonária, que agiu – e cito – na defesa da dignidade dos profissionais, conforme estipula o estatuto da ordem dos Enfermeiros.

Foi então – pasme-se – que o PCP e a CGTP criticaram a greve aludindo a que o financiamento das paralisações subvertia o direito à greve, alem de afectar o prestígio e o respeito que os profissionais de enfermagem merecem da população. Foi extraordinário.

Bom, o que ressalva daqui?

Pro um lado, com a gerigonça, CGTP e UGT perderam campo de acção por absoluta limitação da força de protesto. Ao fim e ao cabo, cederam perante os partidos a que se vinculam historicamente. Por outro, o emergir de sindicatos independentes e que, na aparência, conseguem resultados iguais sem vínculo doutrinal/partidário.

Escrever que a CGTP não está ferida de morte porquanto terá um novo líder (é o último mandato de Arménio Carlos) e verá o PCP distanciar-se do PS o que lhe permitirá respirar.

Uma derradeira nota para os piquetes de greve. Quero alertar o seguinte, os trabalhadores têm tanto direito à greve como o têm a não fazer, e se alguém obsta a que esse direito se exerça, seja por que meio for, afectando essa legitimidade constitucional, terá(ão) de responder em sede própria. Actos abusivos não são permitidos.


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