Opinião

A simbiose perfeita

Uma crónica de Vera Esperança.

Com as devidas adaptações, o tubarão equivale ao lobo mau, mas como as meninas e os meninos não vão para a água sozinhos, ficou fora das histórias infantis. Foi então enganosamente denegrido nas histórias dos mais crescidos. Ai, seus malandrecos!

Todos já acreditam (acreditam, certo? Bom…) nas nefastas consequências inerentes ao aumento da temperatura do planeta que se prevêem para os próximos anos. Consequências até já visíveis e quantificáveis em algumas zonas. Mas o que é que isto tem a ver com os tubarões?

Estes seres marinhos, cuja população já foi dizimada em 90%, preservam a vida e a boa saúde dos corais. Nas águas que circundam a Polinésia Francesa ainda podem ser observados tubarões em concentrações iguais às do passado. Mas este é dos poucos mares do mundo onde esta observação ainda vai sendo possível.

Para além de ajudarem na preservação dos recifes, os tubarões ajudam a equilibrar a comunidade de peixes, caçando os predadores dos peixes limpadores, seres mais pequenos, que assumem por incumbência manter os corais livres de algas e de parasitas que os podem infestar.

Contudo, com o flagelo do aquecimento global e com o aumento da acidez dos mares, as plantas microscópias que vivem no tecido dos corais, também eles animais marinhos, que lhes dão a cor e os nutrientes necessários à sua sobrevivência, acabam por ser expelidas, provocando a morte destes seres vivos que ficam sem acesso à sua principal fonte de alimento. Os corais da grande barreira da Austrália já estão todos brancos e sem os nutrientes essenciais, acabando por morrer. Nenhum recife consegue sobreviver nestas condições. E a morte dos corais provoca a morte de muitos animais que neles habitam e que deles precisam para sobreviver.

Entre 2016 e 2017, mais de mil quilómetros da Grande Barreira de Corais perdeu a cor. Semanas após a descoloração, muitos morreram, destruindo toda uma comunidade. Em todo o mundo, metade dos recifes de corais rasos já morreu.

As ilhas Raja Ampat, situadas no Sudeste da Ásia, estão rodeadas por um mar que no passado perdeu grande parte da sua população de tubarões e outros grandes peixes devido a anos de pesca não regulamentada. Hoje, são um santuário marinho, um viveiro de tubarões bebés e outros seres, como tartarugas que se alimentam de ervas marinhas.

Os mares da ilha Misool foram protegidos em 2007 e a recuperação tem sido extraordinária. Hoje, há vinte e cinco vezes mais tubarões que há 10 anos atrás. Os tubarões estão a regressar aos recifes locais ajudando-os a restaurar o equilíbrio da comunidade, conferindo maior resiliência contra a descoloração. Mantas gigantes retornaram a este santuário. Misool é um dos poucos locais do planeta onde a biodiversidade está a crescer – atualmente, há três vezes mais peixes que há uma década atrás.

São poucos os santuários marinhos e em muitos é ainda permitida a pesca comercial. Temos de lutar pela sua defesa, pela sua criação, pela vida dos corais, dos tubarões e de todos os outros seres marinhos que fazem parte de uma comunidade perfeita.  Existência de recifes é um bioindicador da qualidade da água e do equilíbrio do ambiente.

Temos de transformar um terço dos nossos mares costeiros em áreas adequadamente protegidas para assim conseguirmos manter a vida na água e na terra.

Conto consigo!

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”. 


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