OpiniãoSeixal

A Marcha dos Desalinhados

Esta semana um artigo de opinião de Samuel Marques

Olá caríssimos(os) leitores(as) hoje trago-vos a marcha dos desalinhados. Tratou-se da marcha lenta organizada por um grupo de cidadãos do concelho do Seixal.

Há muito tempo que eu não participava de uma manifestação pública de cidadãos.

A última em participei foi na dos 300.000 convocada pela CGTP-IN. Era um tempo em que o país tinha acordado para a bancarrota que estava próxima. Vivia-se o governo de José Sócrates. E todos vocês sabem muito bem como acabou. Ficou uma factura que ainda hoje estamos a pagar.

Agora depois disto ainda mal recuperados da bancarrota do BES; BANIF; BANCO PRIVADO e BPN, caiu-nos o COVID-19 em cima. Qual peste negra da idade média.

O país parou durante 3 meses. As empresas; escolas; famílias; comercio local e o comercio internacional parou. Os museus fecharam; os casamentos foram cancelados os funerais foram restringidos. Pessoas não puderam despedir-se dos seus entes queridos. Os idosos nos lares de 3 ª idade não têm visitas.

Em suma a vida parou com os custos sociais que daí advieram. E não foram poucos.

O desemprego estava a 29 de Julho deste ano na última avaliação do INE (instituto nacional de estatística) com mais de 180 mil empregos destruídos graças à pandemia. As feiras pararam; a área da cultura sofreu uma implosão. Parou tudo.

Há fome e há revolta atrás da porta que ainda não saiu totalmente à rua.

Os festivais de verão não se realizaram. O PCP com toda a razão diz que os mesmos não estão proibidos. E é a mais pura verdade. Não estão proibidos, apenas não há condições económicas e técnicas para se realizarem, até porque durante bastante tempo a DGS proibiu ajuntamentos de mais de 10 pessoas.

Posto isto, a marcha aconteceu marcada pelos cidadãos do concelho e teve uma adesão que superou as minhas expectativas, com cerca de 100 viaturas e com cidadãos de todos os quadrantes políticos e também cidadãos sem qualquer filiação partidária e alguns microempresários que também viram os seus negócios prejudicados por tudo o que o covid19 trouxe.

Foi uma marcha lenta que se comportou de forma ordeira. Sem qualquer incidente a relatar. As pessoas vieram à janela. Algumas acenaram e outras filmaram.

Foi um grito de alerta. Conseguimos chamar a atenção da a comunicação social com a presença da RTP; TVI; JORNAL DE NOTÍCIAS; CM; CM TV; TV RECORD; O OBSERVADOR e claro o DIÁRIO DO DISTRITO. Desculpem-me lá se me esqueci de mencionar alguém.

Ao contrário do que alguns elementos apoiantes do PCP quiseram fazer passar, a marcha pautou-se por ser um sucesso. Não estrondoso nem nada que se pareça.

Num concelho de 46 anos de tradição comunista não seria de esperar nenhuma vitória clamorosa.

Aproveito para também endereçar os meus agradecimentos à PSP pela forma como esteve presente facilitando o decorrer desta marcha e pelo apoio constante.

Uma marcha sem qualquer incidente durante o percurso. Apenas as habituais “bocas” no Facebook com as não menos habituais ALEGAÇÕES  de que foi este ou aquele partido que organizou a coisa. Ou até a mais estapafúrdia de que teria sido o jornal DIÁRIO DO DISTRITO a organizar. Nada mais falso. Mas a contra-informação sempre foi uma arma na política. E o PCP sempre foi useiro e vezeiro no uso desta táctica. No fundo nada de novo.

Claro que poderíamos falar de outros episódios caricatos como a guerra dos cartazes; os falsos “fiscais” da Câmara Municipal do Seixal, entre outros.

Mas isso seria desviar o foco dos cidadãos que se quiseram organizar.

E fizeram esta marcha não contra o PCP nem contra ninguém em particular, mas sim contra a realização de uma festa com estas dimensões neste ano em concreto com a pandemia a decorrer.

O Partido Comunista Português poderia ter feito a festa em moldes diferentes, mantendo o carácter político e organizando debates; feito os discursos e o lançamento do livro que está previsto.

Em vez disso optou pelo formato tradicional. Barracas de comes e bebes; espetáculos; comício e toda a habitual mise-en-scène.  São opções legitimas e o PCP e os seus militantes são livres e soberanos de as tomar.

Agora o PCP não se pode eximir é de ter que lidar com as críticas.

E após a destruição social e económica que houve com o confinamento do país, o PCP não pode esperar compreensão e apoio à sua festa por parte de todos os cidadãos, não apenas do concelho do Seixal, mas de todo o país.

As pessoas também tiveram as suas vidas em suspenso; tiveram que apertar os cintos; algumas nem puderam estar presentes nos funerais de familiares e amigos.

O PCP bem pode vir rasgar as vestes e comportar-se como se fosse vítima de um complot ou cabala contra o partido.

O PCP tem algumas razões para se queixar. O PCP precisa de se financiar. Precisa da festa do AVANTE como prova de vitalidade política.

Depois temos o Costa que, através do seu silêncio, e a DGS (Direcção Geral de Saúde e não Direcção Geral de Segurança como o secretário geral do PCP referiu por lapso, e que os mais atentos e marotos dirão que é um sinal de alguma reminiscência do passado).

Pois o Costa confinou o país, mas deu ao PCP a possibilidade de fazer o AVANTE.

O PCP prepara uma festa para 100.000. Depois as regras são mudadas pela DGS para apenas 33.000 e a 3 dias do evento, afinal já só são 16.500.

Se o PCP tem razões de queixa, que siga por este caminho, que de certeza que não vai errar. Não se virem é contra a comunicação social e contra os que decidiram mostrar o desacordo no concelho do Seixal.

Fica-vos mal e vai-vos custar votos.

O PS lançou a isca e o PCP mordeu o anzol. Se algo correr mal o PCP terá que pagar o preço político. E com eleições autárquicas daqui por um ano a factura poderá ser pesada. O PCP poderá ficar marcado como o culpado da desgraça. E isso poderá ser uma machadada na recuperação e ou manutenção de autarquias. Já não bastava alguns militantes no Alentejo estarem a entregar os cartões do partido para passarem para o CHEGA.

Agora o Costa está a dar o aperto ao obrigar-vos a ficar com a fava do OE.

A festa está aí eu apesar de ser contrário ao formato da mesma este ano, conformo-me com ela. Participei da marcha lenta exercendo o meu direito democrático a protestar. Eu e os outros “carinhosamente” apelidados nas redes sociais de O BANDO DA AMORA.

Gostei do termo, fica-nos bem. Até parece que éramos um bando de salteadores. Ousamos quebrar o sacrossanto verniz de unanimidade em torno da festa do AVANTE. É pena, mas isto chama-se viver em democracia. Fizemos a nossa marcha. Poucos ou muitos, mas estivemos presentes. Nem que fosse só eu a Sónia Alves e o Joel Lira. Nem que fosse só eu e o cidadão que desfilou de bicicleta. Teria valido a pena. A justiça de uma causa não se vê no número de participantes. Vê-se nas convicções. E normalmente o tempo acaba por dar razão a quem a tem.

Vou terminar com votos sinceros e sem qualquer reserva mental de que a festa corra pelo melhor e que os riscos apontados pela DGS não se materializem. Se assim for vamos todos sair a ganhar vocês porque não terão de pagar a factura política. E a população do Seixal e do país que já não aguenta outro confinamento. E a economia também não.

Artigo escrito de acordo com a antiga grafia.


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