AlcocheteAtualidadeReportagem

A fronteira da guerra, pelos olhos de quem lá está, esteve, e voltará para buscar “irmãos”

Tetyana Antoniv é ucraniana, mora em Alcochete há um bom par de anos, tem o seu próprio negócio, e é conhecida e acarinhada por toda a gente.

O filho mais velho de Tetyana tem 28 anos e está na Ucrância. Com o coração apertado, esta cidadã fala do seu filho como um herói: “ele está lá a defender o nosso país, e eu se pudesse também lá estava”, diz Tetyana, que à conversa com o Diário do Distrito, confessou falar com o filho todos os dias. “Tem que ser rápido”, explica, “porque as comunicações são controladas, as chamadas são escutadas, e é só mesmo para perceber que está tudo bem. Ele está na linha da frente, e já aconteceu estarmos a falar, e ouvir-se estrondos… tem mesmo que ser uma conversa muito rápida”, frisou.

Passar por tudo isto “é muito triste… é um cenário que não tem explicação, está tudo destruído”, diz Tetyana Antoniv que nos conta que “há imagens que não passam nas televisões.”

A pedido do filho, Tetyana ficou por cá, e fez jus aos conselhos do jovem, aplicando da melhor forma, a teoria de que “por cá poderia ser mais útil, e ajudar mais pessoas”.

O Movimento Tetyana Antoniv de Alcochete surge de um primeiro apelo desta “ucraniana-alcochetana”, através das redes sociais, em que pedia à comunidade bens de primeira necessidade, artigos de higiene, roupas e medicamentos, para posterior envio à sua comunidade na Ucrânia.

Em poucos dias, este apelo tornou-se num verdadeiro movimento de solidariedade, tanto que já seguiu uma carrinha carregada de material para a fronteira Polónia-Ucrânia, e no regresso, vieram os primeiros cidadãos ucranianos.

Neste momento, em Sintra está um camião cedido pela empresa Windoor, “atolado” para seguir viagem, depois de mais uma “vaga de doações”. No seu estabelecimento comercial, Tetryana não tem mãos a medir, e já está planeada uma nova viagem com uma carrinha, apenas com medicamentos, para que no regresso possa trazer mais pessoas… e falando em pessoas, estão a ser ultimados os pormenores para saírem da região, dois autocarros cedidos pelos Transportes Sul do Tejo, com 60 lugares cada um, para recolher pessoas na zona da fronteira. Maioritariamente, serão mulheres e crianças, já que é essa a prioridade neste momento.

Taras Bidak foi buscar o seu filho de 9 anos à fronteira! Quis trazer a mãe, “mas ela quis lá ficar”, explicou.

Taras Bidak é um dos motoristas das carrinhas que levam mantimentos, e voltam com pessoas, e por isso está a preparar-se para voltar à estrada. “É tudo muito difícil”, disse-nos também com os sentimentos à flor da pele! Taras Bidak já estava a viver em Portugal com a atual mulher, também ucraniana, e agora voltar à sua terra em tempo de guerra, e ver todo um cenário, é “muito, muito triste”, desabafa.

Taras tentou explicar-nos um pouco do que viu, mas não encontrou muitas palavras: “é tudo muito difícil, na fronteira está muita gente, quase que parece um campo de futebol, com muita gente ali amontoada e junta. Está muito frio, está a nevar, e as mulheres andam por ali… muitas grávidas, muitas crianças, ali no chão apenas com uma manta, algumas com a roupa que têm no corpo, porque também não há mais nada… muitas daquelas pessoas não têm mesmo mais nada!!!”, explicou.

“E tenho mesmo que ir”, disse, “já que os homens não podem vir, têm que lutar pela nossa terra, temos que tentar ajudar aqueles “irmãos” trazendo as mulheres e as crianças…”

Apenas acrescentar que uma das principais dificuldades neste momento, é conseguir arranjar “espaço” para estas pessoas. Tetyana Antoniv explica que “as doações têm superado tudo o que era possível”, e por isso diz estar de “coração cheio”. As pessoas têm sido maravilhosas, estou eternamente grata”, e o que falta agora, é apenas “arranjar espaço para as pessoas ficarem”. Para estão contabilizadas entre oito a dez casas na zona, de pessoas anónimas que colocaram os imóveis à disposição desta “mega operação”.


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