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Presépios e Lapinhas ‘recriam’ nascimento de Cristo

Muito antes de adotarmos a tradição de “fazer a árvore de Natal”, os lares e as famílias portuguesas já assinalavam esta época natalícia com o Presépio – a réplica do lugar sagrado onde veio ao Mundo o Menino Jesus.

A palavra “presépio” vem do latim e significa estábulo, manjedoura. Foi São Francisco de Assis quem iniciou a tradição do presépio como celebração do Natal em 1223, em Itália. O seu objetivo era de celebrar o natal da maneira mais realista possível. Para explicar aos camponeses como foi a noite do nascimento de Jesus, São Francisco pegou num pouco de argila, e com muita paciência moldou vários bonequinhos de barro. Primeiro, fez um bebé. Em seguida, o pai e a mãe. Depois, os três reis montados em camelos, alguns pastores, um boi, um burrinho e, por fim, uma bela estrela!

Mais tarde, com a autorização do Papa, São Francisco montou um presépio de palha utilizando uma imagem do Menino Jesus, com um boi e um burro vivos perto dela. Teve tanto sucesso que passou a ser feito por toda a Itália, primeiro nas casas dos nobres até chegar às dos mais pobres. O Rei Carlos III levou esta tradição para Espanha e para a América Latina, e daí passou a ser usada em todas as culturas cristãs.

Outras cerimónias mais antigas já tinham feito referência à cena do nascimento do Menino Jesus. Em Roma, na basílica de Santa Maria Maggiore, durante a Idade Média (século VIII), o papa costumava celebrar a missa de Natal com uma manjedoura cheia de palha sobre o altar. E, no século XI, representava-se em muitas igrejas europeias, o officium pastorum: uma imagem do Menino Jesus era colocada atrás do altar onde se celebrava a missa de Natal e cinco cantores, desempenhando o papel de pastores, perguntavam ao sacerdote onde estava o Salvador recém-nascido; a imagem era então trazida por eles para a frente do altar e, ao som de cânticos e hinos, todos se ajoelhavam.

O presépio, com a sua manjedoura, simboliza uma das maiores e primeiras lições que Cristo nos ensinou: a humildade. Apesar de poder ter nascido num palácio, Jesus escolheu nascer no lugar mais simples, em Belém.

Em Portugal, o costume de armar um presépio é pelo menos do século XIX. Normalmente, o presépio é armado no início do Advento (4.º Domingo antes do Natal), sem a figura do Menino Jesus, que só é colocada na noite de Natal. O presépio mantém-se armado até ao dia de Reis, altura em que termina a época natalícia.

Os presépios portugueses têm o seu máximo esplendor no período barroco, com os presépios de figuras de barro executados por Machado de Castro e seus discípulos.

Em Lisboa podem ser vistos dois lindíssimos presépios da autoria de Machado de Castro: um na Basílica da Estrela, e outro no Museu Nacional de Arte Antiga, com centenas de figuras populares que se dirigem para a gruta ou estábulo onde o Menino Jesus nasceu, muitas delas carregadas com presentes.

São frequentes os pastores, com ovelhas às costas; mulheres que levam patos, um peru, ou galinhas em cestos; ou com um cesto de ovos; um cego tocador de sanfona, muitas vezes com um rapazinho que lhe serve de guia; camponeses levando enchidos, bilhas de leite ou de azeite ou cestos de fruta, enquanto passam por cenas do quotidiano, como a matança do porco, a taberna, a estalagem ou a vendedeira de leite a ordenhar a vaca.

Lapinha madeirense

Por terras da Madeira, o presépio tem honras diferentes, porque é armado num local específico e em escadinha.

Lapinha dos Açores

Assim as famílias colocam junto da parede da casa fronteira à porta de entrada, uma mesa coberta com a colcha da rede, vermelha e enramada, e estendem sobre esta uma toalha branca, cheia de rendas. Na parede, um arco com os ramos de alegra-campo, ornado com flores e cadeias de papel de cor, são os chamados «Arquinhos do Menino Jesus».

Sobre a toalha coloca uma escadinha, e no mais alto desta a escultura do Menino Jesus. Um arco de flores de papel emoldura esta imagem. Sobre a escadinha e a mesa são colocados os pastores. Também as «cabrinhas», o «ensaião», e as «searinhas», os «brindeiros» (pães pequenos para as crianças), as garrafinhas de vinho e a fruta – laranjas, maçãs, anonas, castanhas, nozes, etc e diante do Menino um pires, para as esmolas, e uma lamparina de azeite a arder.

Sobre a mesa, em frente do Menino, há quem coloque também em miniatura, as cinco imagens tradicionais do Presépio: o Menino, Maria, José, a vaca e o burrinho. Desta forma une o Presépio à Lapinha. O Menino da Lapinha, por vezes com um globo nas mãos, representa já o Menino Rei do Mundo.

Na Madeira, porém, o povo não costuma distinguir entre «Presépio» e «Lapinha».


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