Opinião

Um Aeroporto a prazo ou uma opção estratégica com futuro?

As grandes opções estratégicas que foram tomadas pelos sucessivos governos nas últimas décadas e que prejudicaram o país, têm sido aproveitadas pelos grandes grupos nacionais e internacionais para a obtenção de lucros astronómicos e pelos políticos que depois vão trabalhar para esses mesmos grupos.

Mas agora, com uma recessão económica à vista, não nos podemos dar ao luxo de errar na nossa maior opção estratégica que é o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL).

Estamos há mais de 45 anos a tentar decidir sobre a localização do NAL, pois é do interesse estratégico do país retirar o aeroporto do centro de Lisboa, onde este já não pode crescer, mas, por causa dos interesses pessoais e/ou autárquicos, a solução Campo de Tiro de Alcochete, que sempre foi apontada em todos os estudos como sendo a melhor para o país, nunca foi adiante.

Como todos bem sabemos, o Governo desprezou todos os estudos já elaborados para o NAL e tem defendido a localização da base aérea n.º 6, no Montijo, para a construção de um aeroporto complementar em Lisboa, que não é um NAL, depois da opção Montijo ter sido chumbada em estudos anteriores, sem explicar aos portugueses as verdadeiras razões desta posição ou sequer esclarecer que a mesma impede que Portugal, mais uma vez, consiga ter uma estratégia de mobilidade global.

Um novo aeroporto em Portugal não pode ser mais uma obra megalómana inútil, usada para dividir dinheiros públicos pelos “amigos” à custa dos contribuintes portugueses, como tantas outras obras que têm sido feitas no nosso país.

Temos o dever de exigir mais dos nossos políticos e fazer um verdadeiro escrutínio do dinheiro que é usado por quem é eleito, pois não podemos aceitar passivamente que este não seja aplicado em prol e na defesa dos superiores interesses de Portugal.

Evidentemente que não nos podemos esquecer que estamos a viver sob o espectro de uma pandemia mundial, mas esta não pode servir de desculpa para tudo. Temos de ter uma opção estratégia para Portugal que impeça uma regressão económica de proporções avassaladoras ou mesmo a bancarrota e que até consiga melhorar a qualidade de vida dos portugueses nos próximos anos.

Por essa razão é urgente para Portugal ter um projecto de grandes dimensões para relançar a nossa economia, algo que apenas a construção de uma cidade aeroportuária pode conseguir.

Portugal não pode abdicar da oportunidade de construir uma cidade aeroportuária no Campo de Tiro de Alcochete, onde também irá ficar o novo aeroporto de Lisboa (NAL) que poderá rivalizar com o aeroporto de Madrid e criar uma mais-valia e enorme riqueza para todo o país, aproveitando o projecto de mobilidade global que é urgente aplicar.

No entanto, é imperativo esclarecer que, caso o aeroporto complementar do Montijo venha a efectivamente a ser construído, Portugal ficará prejudicado com o embuste que o Governo de António Costa criou.

Em 2017 o Governo de António Costa celebrou um contrato com a ANA aeroportos, que é detida pelo grupo francês de construção e gestão de concessões Vinci, o qual condicionou que a escolha do futuro aeroporto recaísse sobre o aeroporto complementar do Montijo, porque é mais lucrativo para a ANA/Vinci manter a funcionar o aeroporto General Humberto Delgado, em Lisboa, por mais uma década.

Sucede que no aeroporto complementar do Montijo não poderão aterrar aeronaves de longo curso, devido ao tamanho da pista e a outras condicionantes da segurança de voo e este terá uma vida útil que não chega aos 10 anos, o que é manifestamente insuficiente para as necessidades futuras do país.

Outra das questões que automaticamente deviam de impedir a construção do aeroporto complementar do Montijo é que a grande maioria das companhias aéreas já afirmou que, por variadas razões, não têm intenção de o vir a utilizar.

A localização do Campo de Tiro de Alcochete é a única que permite a construção de uma cidade aeroportuária, que é indispensável para Portugal, pois permite retirar passageiros ao Hub de Madrid, utilizar uma rede ferroviária transeuropeia de alta-velocidade, possibilita a criação das sinergias necessárias com o porto de Sines e pode usufruir de uma rede rodoviária que o aeroporto do Montijo não terá.

A construção do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete pode ser realizada em 4 fases, com uma melhor optimização dos dinheiros públicos e garante a sua viabilidade de um aeroporto internacional para Lisboa nos próximos 50 anos. Um aeroporto complementar no Montijo terá um prazo máximo de vida de 9 anos e obrigará no futuro à construção de um novo aeroporto de Lisboa (NAL) que substitua o actual aeroporto Humberto Delgado.

No actual contexto de pandemia, a necessidade urgente de termos de aumentar a capacidade aeroportuária em Lisboa deixou de fazer qualquer sentido no imediato e se até é mais rápido construir a 1.ª fase do Campo de Tiro de Alcochete, que desempenharia, sem restrições, as funções de aeroporto complementar ao Aeroporto Humberto Delgado (Portela + 1), pergunto que interesses se escondem por detrás desta demanda do Governo?

Outras localizações, como Monte Real, Alverca ou Beja também não têm condições para que aí seja construída uma cidade aeroportuária, pelo que, automaticamente ficam afastadas da escolha possível para a localização de um novo aeroporto de Lisboa (NAL), mas cada uma destas localizações têm outros problemas, devidamente assinalados nos vários estudos que foram realizados nas últimas décadas, que as impedem de ser uma solução global para o país.

Mas um novo aeroporto de Lisboa (NAL) não pode beneficiar apenas a capital, pois o nosso país não tem a extensão que outros têm, pelo que deve gerar riqueza para todo o território nacional, o que uma cidade aeroportuária apontada à mobilidade global pode fazer.

É nesse ponto que devemos deixar de pensar apenas no nosso “umbigo”, nomeadamente os autarcas que exigem um aeroporto à “porta de casa”, pois sabem que essa posição pública angaria votos localmente, mas sabem que não é a melhor solução para o país, e temos de começar a pensar em Portugal como um todo, porque se o país conseguir avançar e melhorar economicamente, todas as regiões serão positivamente afectadas.

A localização do Campo de Tiro de Alcochete tem todos os estudos já realizados há anos – peças de arquitectura e de engenharia, avaliação ambiental estratégica, analise custo-benefício, aprovações dos municípios e outros necessários e suficientes para poder começar a ser construído sem quaisquer problemas.

Convém também desmontar uma das maiores falácias propagadas pelo Governo que é o aeroporto no Montijo poder criar 10 mil postos de trabalho.

O tipo de aeronaves, operadores e passageiros que poderão usar o aeroporto complementar do Montijo, bem como os serviços que nele poderão existir, não permitem gerar o número de postos de trabalho anunciado pelo Governo, pois comparando com os rácios de aeroportos semelhantes ao que será o aeroporto do Montijo, facilmente se conclui que este número é pura e simplesmente irreal.

Já o Campo de Tiro de Alcochete, situando-se no mesmo lado do Tejo, permitirá criar muitos mais empregos do que o do Montijo, porque será um aeroporto de raiz, inserido numa cidade aeroportuária.

Uma cidade aeroportuária no Campo de Tiro de Alcochete irá criar, só na Margem Sul do Tejo, mais do que os 10.000 empregos anunciados para o Montijo, mas ainda conseguirá criar outros tantos postos de trabalho nas regiões mais próximas, nomeadamente a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde já está inserido parte do distrito de Setúbal, e no Alto e Baixo Alentejo.

A juntar a isto, reitero que em termos de infra-estrutura aeroportuária, é mais rápido construir a primeira fase do Campo de Tiro de Alcochete do que (re)constuir e adaptar a Base Aérea nº 6 do Montijo.

Ao nível das acessibilidades, todas as alterações que são requeridas para o aeroporto do Montijo tanto para a mobilidade fluvial como rodoviária e até a ferroviária, são “pensos rápidos” completamente fora do contexto das infra-estruturas que são necessárias de acordo com os planos estratégicos de redes transeuropeias de modo a satisfazer as recomendações da União Europeia.

Mas não é apenas de economia que as pessoas necessitam, também temos de criar condições para que os nossos filhos possam viver num país mais amigo do ambiente.

A construção de um aeroporto complementar no Montijo terá efeitos nocivos nos ecossistemas e na saúde das populações que residem nos concelhos limítrofes e é do conhecimento público que não será possível mitigar os problemas sonoros, ambientais e outros que terão de suportar as pessoas que vivem nesses concelhos.

Se o Governo não ouve com atenção as associações cívicas ou os cidadãos interessados apenas no melhor para o país, qual a razão para desvalorizar completamente a opção técnica defendida pela Ordem dos Engenheiros, instituição acima de qualquer suspeita, que indica o Campo de Tiro de Alcochete como a única solução de raiz que permite a Portugal ser competitivo e rivalizar com o aeroporto internacional Adolfo Suarez – Barajas (HUB de Madrid)?

E porque é que o Governo não escuta atentamente todos os pilotos que já denunciaram a falta de segurança que irá existir no aeroporto do Montijo para os aviões e, consequentemente, para os passageiros?

Talvez a resposta possa ser dada pela Vinci, pois caso o aeroporto complementar do Montijo seja construído, ao abrigo do contrato de concessão, terão de ser adjudicadas ao grupo francês as obras de requalificação do aeroporto de Lisboa (Humberto Delgado), a construção da terceira travessia do Tejo (TTT) e de novos terminais fluviais para o Montijo.

Mas, para além do lucro que estas obras trariam à Vinci, com enorme prejuízo para os portugueses, o adiamento da construção de um novo aeroporto de Lisboa (NAL) que substitua o actual, algo que o do Montijo não consegue fazer e que o de Alcochete sim, irá permitir ainda ao grupo francês aumentar os seus lucros com o aumento de receita na Ponte Vasco da Gama, através da Lusoponte que também é detida pela Vinci, e da activação da cláusula indemnizatória constante no contrato de concessão.

É por tudo isto e muito mais que a decisão pela construção de uma cidade aeroportuária, nomeadamente no Campo de Tiro de Alcochete, onde ficará situado o novo aeroporto de Lisboa, aliada a uma política de mobilidade global, é finalmente escolhermos uma opção estratégica que beneficie o futuro do nosso país e de todos nós.


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