Opinião

Turismo e património no Seixal

Esta semana um artigo de opinião de Marlene Pires Abrantes

Em abril de 2003 a Câmara Municipal do Seixal celebrou um protocolo com a Universidade de Aveiro que deu origem ao Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo no Concelho do Seixal, dado a conhecer posteriormente em 2005.

É um documento, que apesar de ter boas intenções, a verdade é que é pouco útil por um lado porque está obsoleto, por outro lado porque passados estes 16 anos a autarquia não executou metade do que foi sugerido nomeadamente nos pontos 6.1, 6.2 (património cultural) e 7 (descartou para os privados).

No ponto 6.1 refere-se à “Rota da Arqueologia Industrial”, dada a presença de fábricas no concelho.

Assim, era proposto que fossem integrados os seguintes recursos: Moinho de Maré de Corroios; Fábrica de Lanifícios de Arrentela; Fábrica da Pólvora de Vale de Milhaços; Forno de Fundição da Quinta da Trindade, Fábrica da Cortiça da Mundet Sociedade Lisbonense da Pesca do Bacalhau, Forno de cal da Azinheira, Lagar de azeite do Pinhalzinho, Lagar de Azeite da Cooperativa agrícola de Almada e Seixal e por fim o Alto Forno da Siderurgia Nacional.

No ponto 6.2 refere-se à “Rota da Ecologia e Faina no rio Tejo”, aqui estavam incluídos recursos como o Antigo Terminal Fluvial do Seixal, Ponta dos Corvos, Lago de Maré da Quinta da Fidalga, Zonas de Sapal, Núcleo Naval de Arrentela, Embarcações tradicionais, Alto Don´Ana – Mundet e o Projeto do Parque Histórico-Natural do Brasileiro Rouxinol.

Refletindo sobre estes 2 pontos, é óbvio e indiscutível que o que está aberto e de facto se pode visitar é muito insuficiente quando comparado com o riquíssimo património histórico do concelho.

Como são igualmente insuficientes os locais históricos no concelho que são dados a conhecer.

De acordo com a carta do património do Seixal (pode consultar aqui), existem 100 monumentos, conjuntos e sítios, infelizmente para nós alguns tiveram um triste fim, nomeadamente os que se seguem: – Fábrica de cortiça da Mundet no Seixal – boa fatia vendida a privados ao desbarato, refeitórios destruídos para construir hotel; uma outra parcela foi entregue de bandeja à CGTP por um período de 50 anos.

– Terraço Paleolítico da Quinta da Trindade, freguesia do Seixal. Nota: A maior parte do prédio sofreu profundas alterações na morfologia do terreno, no âmbito das operações urbanísticas em curso (loteamento urbano e construção de um centro de estágios

desportivos). Por esse motivo, o Terraço Paleolítico poderá ter sido parcial ou totalmente destruído.

– Lagar de Vinho da Quinta de Santa Teresinha, freguesia do Seixal. Nota: Na sequência de uma operação de loteamento urbano, o imóvel foi demolido entre 6 e 10 de maio de 2004.

O equipamento do lagar foi removido e guardado para posterior instalação no interior de um dos novos edifícios a construir no local.

– Ermida de Santa Marta de Corroios, freguesia de Amora. Nota: O imóvel foi demolido em 24 de maio de 2005, na sequência das obras de remodelação da rede viária e arranjos de espaços exteriores, no âmbito da implantação do Metropolitano Sul do Tejo.

– Subsolo da Antiga Capela de Nossa Senhora da Boa-Hora (já demolida), na Calçada da Boa-Hora, Arrentela. Nota: Na sequência de uma operação urbanística (edificação), o sítio foi destruído pelas escavações realizadas em agosto/setembro de 2004, sendo as terras removidas para local incerto.

– Galerias de Vale de Gatos, Amora – Vale de Gatos. De acordo com a autarquia (ver neste link)

“Fase de construção do Complexo Desportivo Carla Sacramento, durante a qual foram detetadas várias galerias provavelmente utilizadas para exploração mineira (ouro?) em Época Romana. Vestígios dessas galerias são visíveis em vários cortes estratigráficos.”

Este é um exemplo gritante! A autarquia tem conhecimento deste espólio. E o que fez? Preservou? Protegeu? Deu a conhecer?

Por fim, ponto 7. O conteúdo é o mais característico desta autarquia: incentivar à instalação ou incentivar à recuperação se compararmos com os pontos anteriores. O que é da responsabilidade da autarquia, o património, portanto, não executa.

Mas depois incentiva as entidades privadas a fazê-lo! Haverá coisa mais fácil do que incentivar a recuperação de quintas antigas com a argumentação que serão para instalação de unidades hoteleiras, esquivando-se ao seu dever? Que tipo de incentivos foram dados?

O que temos de questionar sobre o turismo no Seixal, é quanto à utilidade de um documento que apenas nos fornece dados turísticos de 2004? O que foi executado? O que falta? Como integrar a população neste processo turístico? De que forma é planeado um turismo sustentável? Que projetos a longo prazo? Quais os timings? Vamos ter um hotel com vista para as descargas no rio Judeu? E o que fará o executivo nesse caso? Coloca um outdoor com a frase: “A culpa das descargas não é nossa, é dos Governos de direita?

Questiona-se se o objetivo é ter o discurso: está a ser construído um hotel na Mundet, mas os louros são da autarquia? Se o discurso continua a ser, o que corre bem foi a autarquia, o que corre mal foram os privados e o Governo? O que queremos para o futuro do turismo no município?


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