Opinião

Superliga Europeia? Afinal ela já existe!

Uma crónica de Bruno Fialho.

Desenganem-se aqueles que pensam que vão ler um texto sobre a aberração desportiva que Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, sonha e quis criar, nomeadamente uma Superliga Europeia de futebol, em que o objectivo seria fazer com que os clubes ricos da Europa pudessem ficar ainda mais ricos e os clubes mais pobres abandonados à sua sorte.

 O título até pode ter levado o leitor a pensar na questão futebolista, mas, na verdade, hoje irei debruçar-me sobre a União Europeia.

Relembro que, desde 1 de Janeiro de 1985, estamos inseridos numa União Europeia, onde os países ricos e poderosos têm interesses bastante díspares em relação aos dos países mais pobres, onde Portugal se inclui, o que é em tudo similar ao que está a acontecer no futebol, onde o Real Madrid e companhia não querem saber da solidariedade e do desporto em si, mas apenas naquilo que podem conseguir para eles.

É por isso que afirmo que a Superliga Europeia já existe e ela é a própria União Europeia, onde países como a França e Alemanha decidem tudo, sem prestar contas a ninguém, e onde apenas zelam solidariamente pelos interesses dos outros países, caso não colidam com os deles.

Se todos os países da U.E. estivessem a “jogar” no mesmo “campeonato”, entre muitos outros exemplos, já teríamos um salário mínimo europeu e a livre circulação de pessoas e bens seria mesmo uma realidade.

Evidentemente que um salário mínimo europeu não pode ser decretado do dia para a noite, mas passados 35 anos da entrada de Portugal na U.E., penso que as questões relativas à criação de um salário mínimo já podiam de ter sido ultrapassadas.

O facto de nunca ter sido criado um salário mínimo europeu de raiz solidária, mais uma vez, é uma situação que apenas favorece os países ricos e poderosos, pois estes continuam a poder usufruir da mão-de-obra barata nos países pobres, que até podemos dizer que é mão-de-obra “escrava”, onde também aproveitam para instalarem fábricas ou comprarem empresas a preço de saldo.

Um salário mínimo europeu, não como aquele que está a ser discutido há algum tempo no Parlamento Europeu, mas um que estabeleça as bases para uma sociedade mais justa e solidária, irá permitir haver uma maior dignidade no trabalho e fazer com que os desequilíbrios económicos entre os diversos países que integram a U.E. sejam mais facilmente colmatados.

Nesse sentido, pergunto se considera justo ou normal que, por exemplo, um holandês que pertença à classe média possa vir passar férias a Portugal e fazer uma vida luxuosa, mas, em sentido contrário, um português do mesmo estrato social e com um trabalho similar, apenas possa ir de férias à Holanda se fizer uma vida de “pobre”, comendo as habituais sandes de queijo e fiambre que todos nós apreciamos, provavelmente feitas na pensão (sem estrelas) onde fica instalado e que, normalmente, fica a quilómetros do centro da cidade?

Relativamente à circulação de pessoas e bens, também deixo aqui uma questão: já tentou comprar um carro na Alemanha, onde estes são muito mais baratos do que no nosso país, e depois trazê-lo para Portugal sem ter de pagar os impostos pornográficos que nos são exigíveis neste e noutros casos, sendo que, se for algo que não seja um carro, até pode ir a Badajoz (ou a qualquer outro país da U.E.) comprar caramelos, câmaras de filmar ou telemóveis sem pagar esses impostos obscenos?

Todavia, em relação à União Europeia, ao contrário do que penso sobre a situação criada pelo presidente do Real Madrid e “sus muchachos”, ainda consigo ter alguma compreensão pela imposição de decisões que é feita pelos países ricos e poderosos (ex: França e Alemanha), porque ninguém gosta de ser gozado ou enganado quando ajuda outros, que é o que tem acontecido sempre que a União Europeia concede uma “bazuca” cheia de dinheiro para ser desperdiçada por um país (Portugal) que é conhecido por ter os maiores corruptos do mundo.

Assim, considero que o sonho de uma Europa unida e capaz de tratar solidariamente os seus membros tem sido destruída por países como o nosso, onde demasiados políticos são corruptos, incompetentes e roubam descaradamente o dinheiro que nos é distribuído, pois sabem que existe sempre alguém que os iliba e garante uma impunidade sem fronteiras.

Por isso, aproveito para recordar o discurso de Salgueiro Maia, proferido na madrugada de 25 de Abril de 1974, durante a parada da Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”.

Da mesma forma que é importante recordar o que disse Marcello Caetano após o 25 de Abril: “Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.”

“Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie, que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”

Hoje em dia, caso Salgueiro Maia fosse vivo, por incrível que pareça, teria de dar razão a Marcello Caetano e fazer uma nova revolução, mas sem cravos, para que ninguém se apropriasse dela e para que, para além da liberdade, também conseguisse dar aos portugueses um país onde a corrupção não seria o “pão nosso de cada dia” e onde os corruptos não vivessem “à grande e à francesa”, com uma vergonhosa e imoral impunidade.

É por tudo isto que não responsabilizo a União Europeia ou os países ricos pelo estado em que está Portugal, porque ser solidário é uma coisa, ser parvo é outra!


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