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‹‹Somos invisíveis no palco, mas não podemos ser invisíveis perante o nosso governo›› – Igor Azougado, administrador da Caramelo Prod.

A CODIV-19 levou a uma paragem total dos serviços técnicos. Igor Azougado é o proprietário e responsável da Caramelo Prod., empresa de audiovisuais, e sentiu na pele o impacto da pandemia no setor.

 

Igor Azougado é um dos rostos mais conhecidos da música do Pinhal Novo. Membro da banda Shivers, presidente da AJCOI e com passagens pelas rádios Popular FM e Super FM, esteve à conversa com o Diário do Distrito sobre os problemas que a pandemia trouxe ao setor das empresas de serviços técnicos. 

Em 2013 criou a Caramelo Prod., empresa de audiovisuais. Após uma temporada de concertos de norte a sul do país, Igor sentiu a necessidade de ter material que torna-se a banda Shivers auto-suficiente. Uma coisa levou à outra e acabou por criar a empresa. ‹‹Eu fiz um investimento inicial, que ainda foi muito dinheiro e tive um kit minimamente decente para começar a trabalhar. Então, as pessoas que me conheciam, eu já estava no ramo e os concertos da banda permitiram-me fazer contactos de norte a sul do país, queriam é que as coisas acontecessem. Vínhamos de um período de crise, era importante também este setor começar-se a movimentar-se. Comecei a fazer todo o tipo de eventos››.

Com a pandemia, a Caramelo Prod. parou de 7 de março a 24 de abril. Comparada a outras, Igor considera que a sua empresa teve sorte em conseguir alguns trabalhos na fase de pandemia. ‹‹Eu tive sorte, eu conheço muitas que não trabalham desde essa altura. Eu já tive alguns projetos. Durante o estado de emergência tive o Fado no Átrio e em julho o Fado nas Coletividades. De resto, eu tenho tido algum trabalho, claro que não tem nada a ver com o ano passado, mas tenho tido de forma a subsistir››.

Realçou a importância da Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos e da manifestação realizada no Terreiro do Paço. ‹‹Esta problemática fez com que, pela primeira vez, as empresas criassem uma associação que representasse o setor. A Caramelo Prod. é o sócio nº 19, somos mais de cem. Não é só audiovisual, tem outros serviços técnicos. É muito importante porque quando é a empresa A ou B não tem peso junto do governo, mas quando tu juntas 140 empresas numa associação e representas quatro mil empregados e mais de três mil freelancers, já faz a diferença. A manifestação que fizemos teve impacto a nível mundial, foi inovador. Sem violência, só com uma mensagem, não podem deixar morrer este setor… Somos invisíveis no palco, mas não podemos ser invisíveis perante o nosso governo. Precisamos de um apoio específico, não há e não vai haver tão cedo trabalho para todas as empresas, é impossível. Muitas já não conseguem pagar ordenados em agosto porque há muitos meses não têm entrada de rendimentos, não têm eventos e têm uma estrutura pesada.. É muito complicado››.

@DR – Manifestação realizada pela Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos [Foto: Página de Facebook / Miguel Mestre].
Sobre o futuro, Igor não se mostra muito positivo. Não há data prevista para o fim da COVID-19 e, enquanto não houver cura, haverá sempre este entrave. ‹‹Eu acho que está muito complicado e não vejo isto a voltar ao normal enquanto não houver uma vacina, cura ou tratamento. A grande maioria das entidades públicas têm receio em programar. Acho que pode ser o fim, tanto das pequenas empresas da área da cultura, como das médias. Olhando para a situação, não vejo o próximo verão a ser um verão como deve de ser. Quando eu digo como deve de ser, estas empresas nesses quatro meses (junho, julho, agosto e setembro) têm de faturar 70 ou 80% do que faturam por ano. Este verão faturaram zero ou pouco mais do que isso. Além disso, não podemos esquecer que tudo isto é uma bola de neve, não só do nosso setor, mas também para quem depende de nós e não só, como os artistas, discotecas, etc››.


Aos olhos de Igor, a culpa não é de ninguém, ninguém previa isto. No entanto, os métodos de apoio não são os corretos, nem a forma de gerir os mesmos. ‹‹Os apoios que chegam é em forma de endividamento, e quem é que se quer endividar sem saber como vai ser o futuro? Eu não me importava de me endividar se tivesse a certeza que em 2021 ia voltar a trabalhar como trabalhei em 2019. O problema é que não há previsão. Por norma, temos espetáculos marcados com três ou quatro meses de antecedência. Imagina que há outro surto, estado de emergência outra vez. É um assunto sensível, devia-se verificar os setores individualmente. Houve muitos setores que não pararam, outros que pararam totalmente e outros tantos que voltaram a meio gás ou menos. Devia ser analisado setor a setor e fazer  investimentos. Eu acho que apoiar estas empresas é fazer um investimento. Tem de haver um investimento público, as empresas não podem cair, estamos a falar de não sei quantas pessoas para o desemprego, vamos ter que ter esse custo na mesma, mas com ordenados no fundo de desemprego… E isto são os que têm  contratos…. E os recibos verdes? Ainda têm de ser vistos de outra maneira, são os precários. Tem de ser tratados com mais cuidado, vivem constantemente em precariedade, não tem direito a nada››.


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