Opinião

Setúbal e a cor de mil jardins

Por esta altura as autárquicas já se desenrolam a meio gás. Os partidos vão apresentando os candidatos concelho a concelho, participando sempre que possível o líder nacional nestas mesmas apresentações, especialmente quando o seu candidato é o favorito, para dar ânimo, mas essencialmente para se ganhar mais projeção na comunicação social.

Por cá, esse momento também já aconteceu com o partido favorito à vitória, a CDU, que está no poder há duas décadas. Os comunistas apresentaram também, uns dias antes ou depois dessa oficialização, o hino de campanha, mais uma vez escrito e cantado pelo Toy.

Por meio da música encontramos a bela frase “Setúbal tem a cor de mil jardins”, mas infelizmente apenas para rimar com “nós queremos tanto o André Martins”.

Só que se há alguém que não devemos querer é André Martins. Obviamente que não por motivos pessoais, mas porque este representa uma candidatura cansada, gasta e repetida que já deu o que tinha a dar. Como tudo na vida, o que é demais enjoa e CDU demais também enjoa.

Não há nada para continuar (como diz o slogan da CDU), depois de 20 anos de governação que nos surpreenda. Precisamos de novas ideias e novas formas de olhar para a nossa cidade que não passem exclusivamente pela lente da CDU.

É importante que a maioria absoluta deste partido tenha um final para que finalmente Setúbal possa usufruir dos contributos de todos.

A governação dos últimos 20 anos já mostrou o que tinha a mostrar, já teve mais que tempo para o demonstrar. Aliás, foi sempre resposta comum dos eleitos da CDU, quando questionados sobre o trabalho feito, o célebre «está à vista».

A expressão resume na perfeição o cariz de intervenção deste partido: faz-se o que der para estar à vista, o que der para ser falado, para se cimentar o lugar no poder. Só que o que não está imediatamente à vista pesa muito, como pagar impostos de cidade rica quando quase ninguém tem dinheiro para arrendar uma casa, por exemplo. Também não está imediatamente à vista a quantidade de diplomados que saem todos os anos do Instituto Politécnico de Setúbal para trabalhar noutra cidade, dado que aqui apenas encontram trabalho no setor Horeca.

Talvez também escape aos mais distraídos a diferença de investimento entre as zonas periféricas da nossa cidade comparativamente ao centro.

O interesse da autarquia vai diminuindo tanto quanto mais afastadas vivam as pessoas do centro. Viver na Freguesia do Sado, da Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra e até em algumas zonas de São Sebastião, acaba por ser viver numa outra Setúbal.

Estar há muito tempo no poder cria vícios e tolda a visão, porque se vêm as coisas sempre da mesma perspetiva e tende-se a repetir a mesma fórmula para garantir a vitória vezes e vezes sem conta.

Porém, o desgaste acontece na mesma, e nós setubalenses precisamos de conhecer novas realidades. Queremos uma visão estratégica que fale de futuro e dos desafios reais que enfrentamos todos os dias. Desafios que quem está a governar há muito tempo já não reconhece porque não os vive e porque está mais preocupado em «Continuar Setúbal», o que na prática significa apenas continuar no poder.

A nossa terra precisa de valorizar os seus estudantes, atraindo emprego e investimento que lhes permita aplicar o que aprenderam, em Setúbal. Precisa de encontrar alternativas viáveis para baixar os impostos aos setubalenses, de conseguir ligar convenientemente toda a cidade sem adiar projetos para datas junto a eleições.

É preciso acrescentar mais vertentes à marca Setúbal, que não se fiquem apenas pelo turismo e que não sobreponham a atração turística à qualidade de vida de quem optou por se estabelecer aqui. Para termos uma cidade moderna, aberta e viva não podemos manter no poder absoluto quem acredita em regimes fechados e avessos à democracia.

É necessário terminar com a maioria que governa, para que finalmente sejam incluídos os contributos de outros projetos que acrescentam valor à cidade.

Queremos menos CDU e mais Setúbal.


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