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‘Este é um grito de alerta’: 87 médicos estão demissionários no Hospital de Setúbal

O alerta foi dado esta tarde por vários directores de serviço do Hospital de S. Bernardo, Setúbal, na sequência do agravamento dos problemas na instituição.

A demissão de Nuno Fachada, director clínico do Centro Hospitalar de Setúbal levou outros 87 médicos a assinarem também a sua demissão.

Numa conferência de imprensa que decorreu nas instalações de Setúbal da Ordem dos Médicos após uma reunião com o presidente da sub-região de Setúbal da OM, Daniel Travancinha, os médicos demissionários solicitaram a intervenção urgente do Governo e do Ministério da Saúde na resposta à falta de médicos no Hospital de S. Bernardo.

A falta de médicos, de condições e de pagamento justo das horas extraordinárias foi um problema também abordado.

“Após a queda da capa da pandemia, o SNS mantém a falta de médicos, e de jovens médicos”, sublinhou Daniel Travancinha. “Os profissionais de saúde têm trabalhado para além da exaustão e essa é uma situação grave sobretudo no Hospital de S. Bernardo, onde os serviços de oncologia e obstetrícia estão em risco de fechar, ao que se junta a eminente perda do Hospital do Outão, com este serviço a passar para as já deficientes instalações do S. Bernardo.”

O presidente da sub-região de Setúbal da OM garantiu ainda que “a Ordem tem estado sempre a apoiar estes médicos, porque são eles quem verdadeiramente está nesta guerra, e não por si mesmos, mas para defenderem os direitos dos seus pacientes”.

Nuno Fachada recordou um pouco do seu percurso profissional enquanto ortopedista e frisou que esta sua demissão e dos outros 86 médicos “não é um baixar dos braços, é um grito de alerta sobre o estado a que o S. Bernardo chegou e sobre tudo o que ali está mal.

Queremos que acabe de uma vez a fuga de médicos, porque neste momento todos os blocos operatórios estão em ruptura e o que está em causa é a resposta à população.

Este hospital tem de deixar de ser visto apenas como um hospital regional. E em relação às obras mais uma vez prometidas, esperamos que não sejam apenas para encaixar os serviços do Hospital do Outão.”

‘Exigirem-nos quantidade, ao invés de qualidade’

Jorge Cortez, médico anestesiologista, relembrou o papel do Hospital de Setúbal na formação de centenas de médicos, “porque fomos durante anos uma referência”, e reiterou o apoio ao director clínico demissionário.

Lamentou também que “após a pior passagem da pandemia, queríamos retomar as cirurgias, e todos os médicos estavam dispostos a fazer ainda mais para conseguirmos dar resposta, mas só há 50% das salas de cirurgia a funcionar porque não há médicos suficientes”.

Outro alerta deixado pelo médico é o facto de “exigirem-nos quantidade, ao invés de qualidade. Temos de atender um determinado número de doentes, sem olhar à qualidade desse atendimento. E os médicos têm de decidir se estão do lado da direção ou com os doentes.”

Por sua vez, outro dos médicos demissionários, o oncologista António Meleiro reiterou o problema da falta de médicos, “mas por outro lado temos oncologistas que querem vir para Setúbal, estão numa base de dados governamental e o processo não avança, pelo que temos de recorrer a prestadores de serviços, que além de ganharem mais à hora que os médicos recebem por horas extraordinárias, são também um problema de gestão de recursos humanos para o Hospital, porque têm as suas horas e folgas”.

O Sindicato Independente dos Médicos demonstrou “apoio por esta luta que apenas demonstra  a falta de respostas do Governo, pelo processo negocial de carreiras, ordenados e condições de trabalho, quer para manter os médicos, quer para atrair jovens médicos”.

‘Hospitais conseguem contratar, o Governo não consegue’

O presidente do Conselho Regional do Sul (CRS) da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, reiterou que “estas demissões são um grito de alerta e de solidariedade para com quem tem trabalhado em condições indiscritíveis, mas que o faz e continua a fazer pelos seus doentes.

Vamos novamente discutir o Orçamento de Estado, com verbas vindas da UE e continua a não existir verba para estes colegas que são os verdadeiros heróis. Este é também um apelo ao poder politico para que o Governo perceba que há muito a fazer pelo SNS e pelos profissionais de saúde que vivem uma situação dramática, sobretudo no Centro Hospitalar de Setúbal, onde a obstetrícia e a oncologia correm o risco de fechar.”

A terminar a conferência, o Bastonário da OM, Miguel Guimarães, agradeceu o esforço a todos “os directores clínicos demissionários, e mostrar-vos a minha solidariedade. São poucos, multiplicam-se nos serviços, estão em exaustão mas continuam a fazer o seu trabalho para que o Hospital de Setúbal não  colapse. Não é isto que os setubalenses querem e esperam do Governo.

Durante a pandemia, os hospitais tiveram oportunidade de contratar pessoal médico e auxiliar e fizeram-no. Mas o Governo não consegue.”

Miguel Guimarães enumerou depois os principais motivos de luta da classe médica “que passa pela revisão e actualização das carreiras; pagamento das horas extraordinárias com valores plausíveis; e melhorar as condições de acesso dos médicos aos hospitais, garantindo que podem ficar onde fazem a formação, em vez de terem de ir a concurso.

Deixo um apelo muito forte ao Governo e ao Ministério da Saúde para darem resposta à situação aguda do Hospital de Setúbal. E reitero que estes médicos são heróis porque a sua luta é também pelos seus doentes.”


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