À Boa MesaDistrito de SetúbalMontijoPalmelaReportagem

Sector vinícola da península com quebras mas confiante no futuro

Aproxima-se a passos largos mais uma época de vindimas, e embora o país esteja a sair aos poucos de uma situação de confinamento perante a pandemia de covid-19, todos os sectores de economia sentiram os seus efeitos.

A vitivinicultura é um dos sectores com maior peso na península de Setúbal e foram as preocupações e a actual situação deste que o Diário do Distrito quis conhecer através de quatro dos produtores de vinhos da região.

«Na Quinta do Piloto, o impacto foi significativo»

Filipe Cardoso, que representa duas empresas, a Quinta do Piloto e a Sivipa, refere que “nestas duas empresas temos situações distintas.

Na Quinta do Piloto o negócio parou completamente, pois a nossa faturação depende da nossa loja na Quinta que fechou no dia 14 de Março e da restauração, que também se encontra fechada. Conseguimos fazer algumas exportações, mas houve outras que estavam planeadas que ficaram sem efeito, por isso, na Quinta do Piloto, o impacto foi significativo.

Na Sivipa o caso muda de figura, o mês de abril correu muito bem, mais a nível de exportação que de mercado nacional, embora, no mercado nacional também não correu mal, pois a maior parte dos nossos clientes são os supermercados e estes estão a comprar mais.”

Os prejuízos na Quinta do Piloto já foram contabilizados “e tivemos uma quebra de 75 %, só não foi de 100% porque ainda conseguimos fazer uma exportação que ajudou”, ao passo que na Sivipa “o ano até está a correr bastante bem, e estamos a aumentar em mais de 10 % a faturação num período similar”.

A situação de pandemia não irá perturbar a vindima “porque esta é maioritariamente automatizada, pelo que não temos grande necessidade de mão de obra.

Em relação à produção, e como disse atrás, não temos excedente de stock, logo, não se prevê dificuldade no escoamento do vinho de 2020. Tanto a Sivipa como a Quinta do Piloto têm crescido todos os anos, por isso, mesmo com este percalço, penso que iremos conseguir repor alguma normalidade nos próximos meses.”

Interrogado sobre a possibilidade de produzirem álcool gel, à semelhança de outras empresas, Filipe Cardos explica que “temos pensado no assunto, mas uma vez que não dispomos de destilarias, não poderemos entrar nesse negócio. Chegamos a pensar o investimento numa destilaria, mas como as vendas, sobretudo na SIVIPA, têm corrido bem, desistimos da ideia.”

Sobre o futuro espera “sinceramente que esta pandemia acabe e que todos possamos voltar ao normal, e que os próximos meses a economia mostre sinais de mudança e que a crise deixada pela pandemia não seja tão grave como se anuncia. Os nossos stocks não eram muito grandes, por isso, não temos uma grande pressão de ter de vender.”

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«Não podemos dizer que está tudo igual como estaria antes»

Conhecida como sendo uma empresa ‘de mulheres’ a Casa Ermelinda Freitas teve o seu início em 1920 por Deonilde Freitas, continuada por Germana Freitas, depois por Ermelinda Freitas após a morte do seu marido, Manuel João de Freitas, e conta agora com a direção de Leonor Freitas.

“A covid-19 trouxe alterações a todos os sectores, e no sector do vinho também não podemos dizer que esta tudo igual como estaria antes. Vamos continuado a laborar e vendendo sobre tudo os vinhos mais económicos, reforçando que felizmente o vinho ainda é um produto onde existe procura e consumo», refere a sócia-gerente, Leonor Freitas.

Como principal preocupação aponta “a saúde dos nossos colaboradores, bem como tomar todas as medidas para que cada um dos mesmos seja um agente de saúde, pois queremos continuar a laborar. Depois logo farei outros levantamentos e recolha de dados”, esclarece quando questionada sobre a contabilização de prejuízos.

“A Casa Ermelinda Freitas, gerência e colaboradores continuam unidos para nos mantermos a trabalhar agradecendo assim aos consumidores a ajuda que tem dado ao adquirir os nossos vinhos.

E temos de agradecer aos consumidores que nos tem ajudado a ir escoando o que se vai laborando, bem como a preferência pelos vinhos da Casa Ermelinda Freitas, e enquanto isto acontecer iremos manter a nossa estratégia.”

Sobre a próxima vindima considera que “ainda é muito cedo, pois neste sector sempre se diz que até ao lavar dos cestos é vindima. No fundo isto quer dizer que cada dia vai ser um dia pois ainda temos muitos dias pela frente de sol, calor e chuva até pôr as uvas na adega.

O que se prevê perante os acontecimentos atuais, é que vai ser uma colheita normal e nada mais consigo antecipar, pois o futuro ninguém o sabe.”

Durante o período este período, a Casa Ermelinda Freitas, em parceria com o Instituto Politécnico de Setúbal, produziu álcool gel nas suas instalações, que foi distribuído em hospitais e IPSS no distrito, além de agentes de proteção civil e estabelecimentos prisionais.

“Nós próprios tínhamos dificuldades em adquirir este produto e o que encontrávamos estava com um preço muito alto, tínhamos o álcool, mas não sabíamos fazer o gel, e foi nessa altura que recebi um telefonema do presidente do IPS, a perguntar se tínhamos álcool que pudéssemos dispensar para poderem fazer gel pois sabiam como fazer mas não tinham o álcool necessário, que conseguimos através da Vinisol a preço muito barato, tendo sido assim possível criar esta conjugação de esforços que permitiram uma grande aprendizagem em prol da nossa sociedade podendo assim ajudar todos os que necessitam.”

Apesar deste ‘desvio’ da produção da empresa vitivinícola, Ermelinda Freitas não irá fazer desta uma área de negócio. “Não é a nossa área fazer álcool gel, este foi apenas feito por uma necessidade sentida de responsabilidade social, dando à mesma um produto que muita falta fazia. O foco principal da Casa Ermelinda Freitas é fazer sempre os melhores vinhos, ao melhor preço para poder satisfazer os seus consumidores.”

«Vamos trabalhando, o que é bom»

Jaime Quendera, gerente da Cooperativa Agrícola de St. Isidro Pegões garante que “o vinho vai-se vendendo, não com antes até porque as exportações decresceram bastante devido ao fecho de alguns mercados, mas vamos trabalhando o que é bom.

Também temos estado a escoar a produção, felizmente, e normalmente até escoamos tudo e não chega, portanto se este ano sobrar um pouco não nos fará diferença até porque necessitamos de reforçar stocks.”

Os prejuízos ainda não foram contabilizados “porque agora a nossa grande preocupação é a saúde dos nossos colaboradores e manter-nos em laboração. Quando as coisas normalizarem mais logo iremos contabilizar os prejuízos, que os temos também, todos os terão, uns mais outros menos.”

O fabrico de álcool gel não foi ponderado pela empresa “porque não temos álcool e já não destilamos a muitíssimos anos”.

Também Jaime Quendera não quer fazer futurologia sobre a colheita deste ano, mas adianta que “as uvas vêm bem, julgamos que se tudo decorrer dentro da normalidade, mantermos a produção dos anos anteriores. Já sobre o número de trabalhadores que possamos contratar julgo que será igualmente o mesmo, temos tudo muito mecanizado, e julgo que não haverá grandes restrições devido ao COVID.”

DR – Assis Lobo

«A colheita de 2020 será uma incógnita»

“Tivemos de facto um decréscimo acentuado nas vendas, porque vendemos essencialmente para o canal HORECA, e tivemos um decréscimo mais acentuado no mês de Abril, cerca de 60%. Também as exportações ficaram em stand by” explica Ana Maria Lobo, da Casa Agrícola Assis Lobo.

Na tentativa de diminuir os prejuízos, a empresa está a realizar “algumas campanhas, mais para acompanhar o mercado do que propriamente para escoar o produto. No início do ano, já tínhamos vendido uma parte de vinho granel, com algumas previsões nossas de como seria o ano.

Claro que nunca iriamos imaginar o que se iria passar, mas conseguimos gerir bem os stocks que temos.”

Embora não ponderem o fabrico de álcool gel Ana Lobo explica que “já colocamos ao dispor da nossa CVR, aquilo que temos disponível de álcool, caso seja necessário”.

Acerca do futuro considera que “a colheita de 2020 será uma incógnita… em Julho 2018, fomos talvez das empresas mais afetadas pelo escaldão, perdemos cerca de 70% da nossa produção. Por isso até ao lavar dos cestos é vindima (como se costuma dizer). Faremos os possíveis para manter o número de trabalhadores e em relação ao escoamento logo se verá.”


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