Opinião

Se o objecto da política não for a pessoa, está podre

Se há coisa que Lisboa e Porto nos mostram às claras é a existência de pessoas sem abrigo. Mas não nos foquemos apenas nestas duas cidades, pois a pobreza está transversalmente espalhada por regiões, cidades, vilas e aldeias. E – pasmem-se! – ao nosso lado se não na nossa família.

Portugal parece ter despertado para este problema sobre o qual o Presidente da república tem, há muito, chamado à atenção, desde a notícia de um bebé encontrado num Ecoponto em Santa Apolónia.

Tenhamos a profunda certeza de que a pobreza existe, que existem sem-abrigo que vivem ao frio e à chuva, que muitos deles têm resistências, mas que estas não podem obstaculizar medidas concretas e necessárias para, pelo menos, a minimização do flagelo.

Repugnam-me os políticos e as políticas que esbanjam dinheiro em eventos sem cuidar daqueles que, ao seu cuidado, nada têm.

Propus ao meu partido que fosse pioneiro em lançar um desafio à Câmara Municipal do Seixal para, em dois locais estratégicas, erigir um espaço de abrigo, onde os que nada têm pudessem dormir debaixo de um tecto, com um colchão, pudessem fazer a higiene diária e tomassem uma refeição condigna.

Se o objecto da política não for a pessoa, está podre, não serve e tem de ser substituída.

As forças vivas dos concelhos têm obrigações e responsabilidades. Certamente veremos muitos autarcas e pessoas com responsabilidades em eventos múltiplos no próximo mês de Dezembro. Não estou contra, faz parte. Mas deverão ter em mente um plano global de interacção com associações e promover que pessoa alguma fique ao frio e à chuva no Inverno que se segue e nos subsequentes.

Fiz parte de uma associação. Às Sextas, ininterruptamente, chovesse ou fizesse sol, saía com um grupo de voluntários, numa carrinha, para distribuir comida pelo concelho do Seixal. Sim, o nosso concelho tem pessoas carenciadas. Muitas delas recorrem às paróquias, semanalmente, para terem comida em casa.

Enquanto não houver erradicação de sem-abrigos, nenhum político se pode deitar descansado sem que a consciência lhe pese; e se não pesar, terá objectivos pessoais, mas não os tem comunitários.

Não está em causa um princípio de igualdade; o que está em causa é, verdadeiramente, uma desigualdade que merece, de per se, tratamento desigual, diferenciado.

Não me irei afastar um milímetro desta ideia e procurarei persuadir mais e mais pessoas a chamarem esta necessidade a si e a reclamarem junto dos eleitos um direito natural, societário, humanizante. Precisamos de políticos e de políticas humanistas.

Desejo verdadeiramente que os eleitos promovam iniciativas de combate às desigualdades tratando-as convenientemente e, reitero, exorto aos meus companheiros que assumam esta iniciativa da criação de um ou mais Espaço-Abrigo, um espaço edificado, amplo, com condições, logística, técnicos especializados, balneários e refeitório.

Não basta aparecer na festividade natalícia em iniciativas de solidariedade. Mais importante que uma fotografia de circunstância, são as pessoas. A política, se não lhes for dirigida, de nada vale.

Permitam agradecer publicamente a todos os que estiveram ao meu lado – perto de uma centena de pessoas – no Salão Nobre da Ordem dos Advogados, no dia 7, a propósito do lançamento do meu livro «O homem que acusou Deus, um advogado criminal no mundo secreto do Opus Dei» e, outrossim, o meu agradecimento a todos os que têm adquirido e lido o livro. A todos, sem excepção, o meu obrigado e votos de boas leituras.


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