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Rodrigo Guedes de Carvalho: “A literatura é uma estética”

O escritor, jornalista e pivô Rodrigo Guedes de Carvalho foi o convidado de mais uma edição do ‘365 Dias de Romance’, dinamizada pelo município de Palmela, em parceria com a Casa Ermelinda Freitas (Programa Mecenas de Palmela) e a Livraria Culsete.

A conversa, num estilo intimista com pouco mais de uma hora, decorreu este sábado na Casa Ermelinda Freitas onde o autor, que se estreou com o romance ‘Daqui a Nada’ (1992) vencedor do Prémio Jovens Talentos da ONU, falou da sua obra e, sobretudo, das suas personagens, revelando alguns pormenores interessantes.

“Faço poucas descrições das minhas personagens, mas preciso de ter mentalmente uma ideia de como são. Por isso, se quero uma mulher loura, de 40 anos, com plástica, procuro na internet. Coloco esses termos e depois escolho sempre um rosto da quinta página da procura, imprimo e coloco-o na parede que tenho no quarto onde escrevo.

É também nessa parede, com cortiça, que faço o traçado do romance, com post-it e os resumos, de forma a conseguir um dos aspectos mais importantes dos meus livros: que as personagens sejam credíveis, sendo falsas e que os leitores lhes tomem as dores como suas.”

Uma característica das suas personagens é todas serem designadas por dois nomes. “É uma questão de musicalidade, porque acho mais bonito terem dois nomes do que apenas serem o Chico. É uma mania minha.

A literatura é uma estética, e tem de ter musicalidade. Por esse motivo por vezes batalhamos com uma palavra, para não estragar todo um parágrafo. E talvez seja também devido à memória da minha avó me tratar sempre por ‘Rodrigo Manuel’ e associe isso à ternura de avó.

Por outro lado, detesto os livros em que as personagens são designadas apenas por uma inicial, não consigo ligar-me a essas.”

Diário do Distrito
DR – Diário do Distrito

Ainda sobre o seu método de trabalho, explica que “trabalho no romance que estou a escrever todos os dias. Mas neste último estou a adiar um pouco porque, como acontece com todos os romances, ao chegar ao fim, tenho pena de ter de me despedir das personagens…

Também não me foi fácil matar uma das personagens num dos meus livros. Andei a pensar e pensar como o podia salvar, e depois, na hora de a matar, pedi-lhe desculpa e expliquei-lhe que a morte era a única hipótese para a história.”

Rodrigo Guedes de Carvalho nasceu em 1963, no Porto, e veio estudar para Lisboa, na Universidade Nova, no curso de Comunicação Social, mas confessa que não era essa a carreira que perseguia.

“Queria mesmo a área de publicidade, mas não consegui. Entretanto surgiu a oportunidade de uma formação na RTP, onde aprendi a gostar de jornalismo, e tem sido esse o meu percurso.”

Mas na televisão teve outra oportunidade, ao escrever os argumentos para ‘Coisa Ruim’ (2006) e ‘Entre os Dedos’ (2009).

«O que escrevo não tem nada a ver com jornalismo»

Mas voltemos às suas obras, sobre as quais afirma só lhe interessar “escrever sobre pessoas, porque são um universo infinito. Quando pensamos que duas pessoas podem viver durante anos juntas e nunca se conhecerem totalmente; e até que ponto é que nos conhecemos e sabemos que tipo de reações podemos vir a ter em certas situações?”.

E depois temos o cosmos da família, onde existe a «ditadura do sangue», em que nos dizem que temos de gostar das pessoas que são nossa família. Mas é preciso ter muita sorte com a família que nos calha, assim como com o país onde nascemos.”

Na literatura aprecia “Somerset Maugham, Virgílio Ferreira, António Lobo Antunes, Saramago e Garcia Márquez, que sinto falarem comigo através da sua obra.

Questionado sobre se a literatura é um meio para escrever sobre o que o jornalismo não permite, é peremptório: “o que escrevo não tem nada a ver com jornalismo, até porque já escrevia antes de ser jornalista. O meu primeiro romance, ‘Daqui a Nada’ (que em breve terá uma reedição, surgiu aos 20 anos, antes de entrar na RTP.

Escolhi apenas escrever romances, não escrevo contos ou poesia. Habituei-me a correr a maratona e não sei correr apenas 500 metros.”

Apesar disso, Rodrigo Guedes de Carvalho é autor de uma peça de teatro, ‘Os pés no Arame’, e estreada em 2002, e que contou com nova encenação em 2016.

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DR – Diário do Distrito

Frisa que também “não tenho agenda de temas para escrever. Os temas surgem porque a linha do romance o pede.”

As obras do autor são ‘A Casa Quieta’ (2005), ‘Mulher em Branco’ (2006), ‘Canário’ (2007), ‘O Pianista de Hotel’ (2017), que recebeu o Prémio Autores SPA para Melhor Livro de Ficção Narrativa 2018, ‘Jogos de Raiva’ (2018) e o seu mais recente romance ‘Margarida Espantada’.

Rodrigo Guedes de Carvalho está a trabalhar noutro romance que se prepara “para lançar na próxima Primavera, e será um spin-off, onde vou recuperar um personagem de outro romance”, refere, sem adiantar muito mais.

Teremos de esperar para ler.


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