Entrevista

“Precisamos de uma política que defina o desenho da cidade a médio e longo prazo”

Carlos Almeida foi presidente da maior freguesia de Setúbal, e está a cumprir o segundo mandato como vereador da CDU na Câmara do Montijo. 

Que balanço faz destes três últimos anos de mandato? 

Já era difícil trabalhar no mandato anterior, mas a partir de 2017 tornou-se extremamente difícil pela aptidão do PS em transformar a maioria absoluta em poder absoluto. Poderia ter dado um certo conforto a quem governa e até permitir chamar os vereadores da oposição para serem ouvidos, mas ao contrário, quando chega a altura de votar, assume-se a política do “quero posso e mando”. 

Veja o que se passou quando 2/3 dos eleitos pediram a realização de uma reunião extraordinária da Assembleia Municipal. A presidente da Assembleia pôs à votação o único ponto da ordem de trabalhos, que apontava para a tal assembleia extraordinária e os eleitos do PS votaram contra a sua realização. 

Na câmara foi gritante o que se passou com a abertura do correio dos vereadores da oposição e a destruição das gravações das atas, que são entendidas como meros auxiliares de memória. Não entendemos esta decisão pois as gravações das atas deviam ser destruídas só ao fim de determinado tempo. Esta destruição pode entender-se com o propósito do próprio presidente da câmara em autocensurar-se. 

É difícil para a oposição trabalhar quando as intervenções resvalam para a ofensa. É muito difícil debater a política e os projetos, quando há muita agressividade e se votamos contra somos acusados de estar contra o Montijo. 

O que pensa dos Movimentos Independentes? 

A realidade prática da vida tem trazido à evidência, que os movimentos têm origem na sua constituição pessoas que já estiveram nos partidos e não encontraram palco para os seus projetos. O cidadão não é independente na sua ideologia. 

“O aeroporto é um livro que não está fechado”

Que criticas aponta ao futuro aeroporto? 

O aeroporto está longe de ser um livro que está fechado, porque para os democratas não há páginas fechadas. Nos pontos negativos, podemos resumir que a nível técnico ao longo dos anos sempre foi referido que a infraestrutura vai ser extremamente onerosa e é sujeita a parecer negativo pela própria Ordem dos Engenheiros. Lembrar que os pilotos, a nível da avaliação civil, têm transmitido a ideia da enorme perigosidade do aeroporto na Base Aérea em comparação com a hipótese do Campo de Tiro. 

Há que ter em atenção as 200 mil espécies de aves que têm as suas rotas nesta zona e põem em perigo as pessoas que irão viajar. Também a nível da saúde os médicos alertam para as consequências gravosas seja em relação à poluição atmosférica seja pelo ruído. 

Mas se falarmos nas consequências económicas estas também revelam que a concessão por 60 anos com isenção das taxas alfandegárias numa infraestrutura que é do Estado faz-nos pensar que estamos a falar de um terminal que não é uma solução de futuro e serve apenas para “atamancar” o assunto. Porque não resolve o problema fundamental que é a necessidade de um verdadeiramente novo aeroporto para Lisboa. um aeroporto internacional que não dura mais que até 2035 segundo os especialistas. Não temos dúvidas que o aeroporto irá criar empregos de colarinho branco, mas também não podemos ignorar que irão sair da base 600 pessoas, em idade fértil e muito qualificadas que residem no Montijo. 

Também não acreditamos que haja turismo em catadupa, pois as pessoas que nos visitam não vão deixar de ir para Sintra, Cascais e Lisboa para permanecerem em Alcochete, Montijo, Moita e Barreiro. Acreditamos que haja maiores consumos na área da restauração, mas não mais que isso. 

Daqui a 15, 20 anos os contribuintes portugueses vão ser obrigados a suportar uma nova infraestrutura. 

“A cidade do Montijo precisa de ter uma alteração de 180 graus”

Mas o anúncio da vinda do aeroporto fez mexer com a cidade? 

O Montijo continua completamente parado a nível da qualidade de vida e precisa de ter uma alteração de 180 graus. Tal como aconteceu com a Ponte Vasco da Gama, quando o Montijo cresceu desenhado pelos construtores civis, que espalharam apartamentos fora do centro da cidade, hoje a especulação imobiliária é que planifica a cidade. No nosso projeto defendíamos a reabilitação urbana por 15 a 20 anos no concelho e freguesias, com um levantamento de todos os edifícios em ruínas e que pudessem ser regenerados, numa visão global do território. 

Precisamos de uma política municipal que defina o desenho da cidade a médio e longo prazo. 

Veja-se o que aconteceu com a mudança dos transportes fluviais do Cais dos Vapores, que não foi acompanhada com investimento na zona ribeirinha, como aconteceu nos concelhos da Seixal, Barreiro e Moita. Nessa altura houve engenho da gestão PS para disfarçar a dispersão do edificado com a criação de corredores verdes, mas faltou capacidade política para definir que tipo de cidade é que se queria (Cascais do século XXI?) para atrair, no campo do investimento e do emprego, o tipo de indústrias não poluentes, de que o Montijo precisa 

Não há projetos nem parques tecnológicos para captar investimentos e o céu dos atuais autarcas da maioria é manter o que existe, não ligando este território à realidade geográfica e cultural onde nos integramos sem perder o seu caráter competitivo. Até a nível da restauração devia seguir-se o exemplo de Alcochete e estender ao Montijo políticas comuns de ligação a estes agentes da restauração. 

Questionamos o vereador Carlos Almeida sobre a sua opinião por algumas personalidades e acontecimentos do Montijo e as respostas são surpreendentes.

Jacinta Ricardo: Uma presidente com grande capacidade de planeamento 

A morte recente da última presidente comunista da Câmara do Montijo é encarada por Carlos Almeida como “um desaparecimento de uma figura que foi sujeita a um assassinato de carácter durante anos, mas que no essencial deixa no Montijo o melhor que os autarcas da CDU deixaram à comunidade nos anos noventa com uma grande preocupação social no projeto PER e na atenção enorme ao Património, como o exemplo do Museu da Atalaia. Uma autarca com uma capacidade de planeamento muito grande. O PER e sobretudo o Plano Estratégico da Cidade do Montijo estão ainda atuais em grande medida. 

Cadeia em Canha 

Para o vereador da CDU, o aeroporto no Campo de Tiro “teria repercussões económicas num conjunto de atividades económicas que podiam envolver a restauração e o imobiliário em Canha e tudo o que funciona numa grande cidade aeroportuária. O estabelecimento prisional teria um conjunto de utentes/visitantes que não fariam fluir uma vida económica e é difícil visualizar-lhe o impacte financeiro”. 

Eu e eles

João Afonso (vereador do PSD): O seu estilo e forma inviabilizam uma discussão séria sobre temas que muitas vezes poderiam dar azo a contributos das várias forças da oposição para um debate mais sério com a atual maioria. 

Maria Amélia Antunes (ex-presidente da Câmara)A ocorrer a sua intervenção no próximo ato eleitoral – sobre o que não terço comentários -, como hipoteticamente coloca, teria de concluir-se que no PS haveria quem pensasse que a atual gestão em vez de puxar para cima essa força política, a atira para baixo. 

Luís Franco (possível candidato à Câmara do Montijo): Um camarada que interveio na região e tem muitas afinidade com as questões que preocupam as populações na área metropolitana. Se estiver disponível estará numa situação igual a qualquer militante comunista para poder enfrentar as tarefas autárquicas. 

Rui Garcia (presidente da AMRS): Tem feito um excelente trabalho na defesa dos interesses da região a todos os níveis, nomeadamente na área do municipalismo e na projeção da Arrábida enquanto património material e imaterial. 

Maria das Dores Meira (presidente da Câmara de Setúbal): Se sou capaz de acreditar que vá para Almada? Tem experiência q b, pertence a um grande coletivo e estará eventualmente em condições de continuar disponível para o seu Partido… Mas em Setúbal deixa para sempre o seu contributo e estilo pessoal. 

Nuno Canta (presidente da Câmara do Montijo): É no poder que se conhecem as pessoas. No mais muitas limitações como autarca e uma visão muito restrita da cidade e de todo o território. 

Catarina Marcelino (presidente da Assembleia Municipal do Montijo): Uma desilusão superior ao que esperava. Sem ter grandes expetativas, tem sido uma grande desilusão. 

Currículo Político: 

– Carlos Almeida 

– 63 anos 

  • Membro da Assembleia de Freguesia da Moita; 
  • Membro da Junta de Freguesia da Moita; 
  • Assessor jurídico da Associação Nacional de Freguesias; 
  • Membro da Assembleia Municipal de Setúbal; 
  • Membro da Assembleia Metropolitana de Lisboa; 
  • Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, 11 anos; 
  • Membro do Conselho Diretivo da ANAFRE Setúbal; 
  • Assessor do Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República 
  • Chefe de Gabinete de Rui Garcia na Câmara da Moita 
  • Eleito Vereador na Câmara do Montijo entre 2013 e 2021; 
  • Membro do Gabinete de Apoio a Presidência e Vereação da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo. 

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