EntrevistaMoita

«Podemos mudar o mundo de algumas pessoas»

Um grupo de amigos, um sentido de cidadania e solidariedade, e o aproximar da época natalícia, foram os ‘ingredientes’ que levaram à criação do grupo ‘Moita Solidária, que gerou uma verdadeira rede solidária e que o Diário do Distrito foi conhecer através de Daniel Demérito e Marco André.

“Tudo começou pela ‘carolice’ de um grupo de amigos que se reuniram em Novembro, pessoas que já se conheciam porque tínhamos feito actividades solidárias e também participámos em eventos no movimento associativo do concelho”, explicou Daniel Demérito.

“Por outro lado, muitos de nós passámos por dificuldades quando crescíamos e sabemos o que é estar em situação complicada, por isso tentámos dar a mão a quem precisa.

Decidimos juntar-nos para levar a cabo uma iniciativa solidária, visto que já tínhamos feito algumas a título individual e daí nasceu o ‘Grande Natal Solidário na Moita’, comigo e com o meu colega Filipe Beja”.

As recolhas decorreram entre 5 a 20 de Dezembro de 2019, entregues em onze associações do concelho, “com quem contactámos para servirem como pontos de recolha. Como sou designer gráfico, criei o logotipo e a comunicação do evento e a fazer a divulgação dos pedidos, que iam de roupa a bens de higiene e alimentares, tanto para famílias como para animais.

O Clube Moitense cedeu-nos uma sala na sua sede para a separação dessas dádivas, e como isto é um processo do povo e para o povo, fizemos vários apelos nas redes sociais para voluntários e a resposta foi também fantástica e veio e um enorme conjunto de pessoas”.

O trabalho dos voluntários centrou-se na divisão dos bens consoante as categorias ou tamanhos de roupa, bem como garantindo que os bens doados estivessem nas melhores condições, “embora praticamente tudo o que nos foi doado estivesse quase novo”.

A acção de solidariedade iria culminar com a entrega dos bens às famílias “que fizemos porta a porta, consoante os pedidos que nos foram chegando. Além disso, ainda juntámos dinheiro entre os voluntários para conseguir comprar alguns bens alimentares e completar os cabazes que foram entregues.

Felizmente foi um sucesso essa primeira iniciativa, o que nos permitiu ajudar cerca de cem pessoas, trinta famílias, o que para uma primeira iniciativa foi espectacular, provando que juntos somos sempre mais fortes.”

Daniel Demérito utiliza uma frase para classificar este movimento: “podemos não conseguir mudar o mundo, mas podemos mudar o mundo de algumas pessoas, e foi um pouco por aí que começámos”.

A definição das famílias a receber auxílio foi feita através de apelos “que antes do Natal foram chegando a alguns dos elementos do grupo. Depois fizemos também alertas nas redes sociais para que nos fizessem chegar casos, fossem de famílias ou de animais, mantendo o anonimato, após o que entrávamos em contacto e procurávamos obter informações sobre as suas necessidades.”

‘Solidariedade não é apenas no Natal’

Com o sucesso do evento, veio a vontade de continuar a ajudar até porque “a solidariedade não se faz apenas na altura do Natal, temos de ajudar estas pessoas durante todo o ano” frisa Daniel Demérito.

“Por isso decidimos transformar esse evento no ‘Moita Solidária’ em que temos dado continuidade ao projecto ajudando ainda mais pessoas e com outras actividades, como a presença no «Abra a Bagageira» aqui na Moita, com uma banca com material que nos é doado ou que temos a mais em casa, e cuja receita é utilizada inteiramente para comprar bens de primeira necessidade, por elementos do grupo.”

O próximo passo será a constituição como Associação Sem Fins Lucrativos “porque isto está a ganhar uma enorme dimensão, cresceu para lá dos nossos sonhos”.

Ainda não contactaram os órgãos autárquicos “porque se tratava apenas de um grupo de amigos a fazer um evento solidário, nunca pensámos que tomasse esta dimensão e viesse a precisar de toda uma logística.

Os actuais membros do grupo, que são cerca de 32, todos passaram por experiências no movimento associativo em várias áreas, e já nos apercebemos de que este projecto cresceu demais para ser apenas uma iniciativa informal.”

Daniel Demérito garante que “a seu tempo iremos contactar a Câmara Municipal e as Juntas porque será necessária uma estrutura diferente e um espaço, porque é muito material que nos chega e embora o Marco André tenha feito um enorme sacrifício para guardar muitas das dádivas, já se revelou insuficiente”.

Outro passo pode ser candidaturas “a fundos ou recursos técnicos através do Governo, como computadores para aumentarmos a capacidade de gestão do nosso trabalho”.

Se bem que a solidariedade tenha sido ‘extraordinária’, há alguns pequenos percalços. “Certas pessoas procuram-nos para saber mais coisas, quem são as pessoas que ajudamos, as moradas, etc.” refere Marco André. “E por vezes já tenho até dado a minha morada, porque é aqui que estamos agora a colocar os bens, para me virem cá entregar coisas, combinam comigo e depois não aparecem. Estamos a contar com essas dádivas, mas felizmente há sempre depois quem nos entregue outras.”

Para quem quer ajudar, além de encontrar os pedidos na página, “ainda pode contribuir através de dois mealheiros solidários” explicou Marco André.

“Estão em dois pontos de referência na Moita. São dois cafés, o ‘Miragem’, junto ao mercado municipal, e no ‘A Velha Xica’, onde qualquer pessoa pode depositar o seu donativo, e depois de recolhido o dinheiro, divulgamos na página quanto foi obtido em cada um dos cafés, verba que será depois para a compra de bens de primeira necessidade que são doados às famílias.”

Papas e artigos para senhora de 102 anos

Das várias acções de ajuda do grupo, uma viria a causar uma reação muito positiva, para quem a acompanhou pelas redes sociais. Tratou-se de um pedido de ajuda para uma senhora com a linda idade de 102 anos.

“Foi um pedido que nos chegou por familiares, expondo o caso, que necessitava de papas e alguns bens farmacêuticos e cremes hidratantes. Este foi um dos primeiros casos do ‘Moita Solidária’, e começámos a fazer os pedidos através das redes sociais. Felizmente, conseguimos encher a dispensa do Marco com essas dádivas, que fomos entregar à família no dia 8 de Fevereiro e conhecemos a senhora pessoalmente, que embora fragilizada, nos recebeu com muita alegria. Iremos depois tentar acompanhar para ajudar da forma que conseguirmos” explicou Daniel Demérito.

Impunha-se uma questão: afinal a Moita é de gente solidária? E a resposta é pronta: “Muito solidária! Quando começámos este projecto não contávamos que fosse crescer tanto e por isso ainda nos estamos a adaptar a este crescimento.

Sabíamos que as pessoas eram solidárias, mas não esperávamos a este ponto, quer com as partilhas dos projectos quer, claro, com as dádivas. E só assim é que podemos ajudar. Foi também por isso que escolhemos a designação ‘Moita Solidária’ porque este concelho o é realmente.”

No próximo dia 22 de Fevereiro, estarão na ‘Feira da Bagageira’ na Moita, durante todo o dia, pela segunda vez.

“A nossa primeira presença foi muito boa, conseguimos angariar 65 euros, e tivemos o cuidado para não interferir com os outros vendedores que lá estão, salientando sempre que estávamos ali de uma forma solidária. E foi também muito interessante porque os outros vendedores receberam-nos de braços abertos e ainda contribuíram para a nossa causa.

Isso demonstra que as pessoas têm um lado solidário dentro de si, o que falta por vezes é um incentivo para despertar esse lado.”


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