Opinião

Passos Coelho ou o Sá Carneiro que vive

“Não vale a pena viver uma vida que não seja limpa, sem medo e sem mácula” – José Gualberto, pai de Francisco Sá Carneiro in Bibliografia de Francisco Sá Carneiro, por Miguel Pinheiro.

Passos Coelho raramente intervém publicamente, na realidade desde que deixou de ser primeiro-ministro contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que Passos teve intervenções públicas, por isso, quando o faz, o país ouve. Foi o que aconteceu recentemente no encerramento da conferência “Globalização em português: Revoluções e continuidades africanas”, em Lisboa, no âmbito das comemorações dos 150 anos do nascimento do empresário Alfredo da Silva, fundador do Grupo CUF (Companhia União Fabril). O ex primeiro-ministro falou porque tinha, de facto, coisas para dizer. Desde logo Passos, que foi acusado pelos actuais protagonistas da “geringonça” de destruir o Serviço Nacional de Saúde ou o ensino público, devolve a critica, chamando a atenção que o dinheiro que será “injectado” na TAP faltará na saúde ou educação, realçando que foi no seu governo que foi conseguida a privatização da companhia aérea, revertida por este governo. O antigo primeiro-ministro referiu-se ainda à morte do cidadão ucraniano, Ihor Homenyuk, morto nas instalações do SEF, no aeroporto de Lisboa, desta forma: “Depois de meses de incompreensível inação após os factos serem conhecidos, e com a autoridade do Estado seriamente abalada e a confiança nas instituições públicas beliscada, tudo tem servido para procurar disfarçar o indisfarçável: a superior dificuldade em admitir as falhas graves incorridas ao não se ter atuado prontamente”, que acrescentou que este é um caso de “fuga às responsabilidades” dos “dirigentes” do Estado.

Passos quebrou o silêncio nesta altura porque reconhece nestes dois acontecimentos, a vergonhosa inacção do governo português no caso da morte do cidadão ucraniano e a reversão da privatização da TAP, com o consequente investimento de milhões de euros dos contribuintes, os exemplos perfeitos do que tem sido a actuação do actual governo, limitado a um passa-culpas constante, escudado num Presidente da República que o próprio catalogou um dia de “cata-vento”, incapaz de assumir as responsabilidades, nem mesmo quando estas entram pelos olhos dentro, como no caso dos resultados obtidos pelos alunos do 4º ano a Matemática no relatório “Tendências Internacionais de Matemática e Ciências” (TIMSS, na sigla inglesa). Mais uma vez, o governo em vez de assumir responsabilidades, prefere atirá-las para outros, e claro esse outro é Passos Coelho.

Passos foi primeiro-ministro num período particularmente duro, tomou medidas difíceis, medidas essas que sabia, tornariam mais difícil uma reeleição, fê-lo porque colocou em primeiro lugar o interesse do país. Todos nos lembramos das suas palavras na conferência de imprensa aquando da demissão “irrevogável” de Paulo Portas, “não me demito, não abandono o meu país”. É por este sentido de responsabilidade que não pode ficar calado quando vê o seu sucessor a não assumir as suas.

Passos Coelho representa para as pessoas da minha geração aquilo que Sá Carneiro representou para a geração dos meus pais, a esperança de um país mais justo, mais próspero e com mais oportunidades para todos, onde a ética e a responsabilidade são exercidas e exigidas por todos.

“Recuso-me a aceitar que sejamos assim, que o nosso povo tenha por natureza de ficar eternamente sujeito ao paternalismo de um homem, de um sistema ou de uma classe. Recuso-me a admitir, que ao contrário de outros povos, não possamos ser capazes de conciliar a liberdade com a ordem, o progresso com a segurança, o desenvolvimento com a justiça”. Francisco Sá Carneiro, 1969, num discurso em Amarante,


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