Reportagem

Papa Francisco mentiu sobre os abusos sexuais na Argentina? Pelo menos, faltou à verdade (c/ Vídeo)

O Papa Francisco tem sido o líder da Igreja Católica que mais mudanças tem feito, a nível estrutural e penal, no combate aos casos de pedofilia e abuso sexual de menores.


No entanto, a sua atitude na Argentina, onde era cardeal, continua sob escrutínio e a revelar muitas incongruências.


O então cardeal Jorge Mario Bergoglio pediu, em 2010, um estudo forense de quatro volumes e mais de 2.000 páginas sobre o processo contra o padre Julio Grassi. O estudo concluiu que o padre era inocente, que suas vítimas mentiam e que o caso nunca devia sequer ter ido a julgamento.

A alegada vítima de Grassi, “Gabriel”, disse que ainda está “à espera que Francisco reconheça a minha dor, já que a Suprema Corte decidiu que fui realmente abusado por Grassi quando tinha 13 anos”.


O relatório, que devia ser apenas interno da Igreja, chegou ao Supremo Tribunal da Argentina, que confirmou o veredicto de culpado e a sentença de 15 anos de Grassi, em março de 2017.


Na altura, Francisco – enquanto cardeal – não tinha responsabilidade direta sobre o padre Grassi. Mas em 2006, foi citado pela agora extinta revista local Veintitrés a dizer que as acusações contra Grassi eram “violência informativa contra ele” e “uma condenação pela Comunicação Social”.


O próprio padre Grassi testemunhou que Bergoglio “nunca deixou a minha mão” durante todo o processo legal.


Sob a presidência do cardeal Bergoglio, o Sínodo dos Bispos da Argentina recrutou em 2010 um advogado de defesa criminal, Marcelo Sancinetti, para iniciar um contra-inquérito sobre os que estavam contra “Gabriel” e o acusavam de estar a mentir ao fazer falsas acusações. Estes casos foram simplesmente descartados logo no julgamento inicial.

Contudo, em 2018, no final de uma audiência na Praça de São Pedro, uma jornalista perguntou ao Papa:
“Santidade, no caso Grassi, tentou influenciar a justiça argentina?”
O Papa fez uma cara de desapreço pela pergunta e disse apenas “Não”.
“Não? Então porque ordenou uma investigação de contra-inquérito?”, continuou a jornalista.
“Para nada. Nunca o fiz”, disse Francisco.
“Para nada?”, perguntou a jornalista, sem obter resposta do Pontífice.


O papel do cardeal Bergoglio no caso Grassi – e o facto de nunca ter regressado à Argentina desde que foi eleito Papa – reforçam a ideia de que Francisco possa ser culpado de má gestão da crise dos abusos na Argentina.


Estas alegações ganharam novo destaque após as alegações do arcebispo Carlo Viganò, um ex-embaixador do Vaticano, sobre Francisco e uma lista de funcionários do Vaticano antes dele que encobriram a conduta sexual de um importante cardeal dos EUA, o ex-cardeal Theodore McCarrick, a quem Francisco retirou o título de cardeal e foi sujeito à pena canónica de “redução ao estado de leigo”.


Anne Barrett Doyle, co-fundadora da BishopAccountability, um centro de recursos online sobre abusos sexuais, reuniu a documentação sobre o processo de Grassi e disse que “antes que o Papa Francisco possa responsabilizar os bispos e outros líderes da Igreja, ele deve assumir o dano que ele mesmo causou às vítimas na Argentina”.


O caso tem paralelos com o do país vizinho Chile, onde Francisco defendeu um bispo acusado de encobrir o pedófilo mais conhecido do país, o então padre Fernando Karadima.

Em 2011, sob o pontificado do Papa Bento XVI, o Vaticano condenou Karadima por abuso sexual. Na visita ao Chile em 2018, Francisco desacreditou as vítimas de Karadima, que colocaram o bispo Juan Barros em cheque, dizendo que acusações “eram calúnias”.

Pouco tempo depois, ainda em 2018, após as evidências de culpa, Francisco reconheceu o erro e afastou o padre de 88 anos do sacerdócio. Karadima morreu aos 90 anos, em julho de 2021.


O Vaticano nunca respondeu aos pedidos de comentários sobre o papel de Francisco no caso Grassi.


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