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Pais receiam pela saúde dos filhos na EB/JI da Quinta de Santa Marta de Corroios

Após a publicação da reportagem, esta noite o Diário do Distrito recebem a resposta da autarquia seixalense, que publicamos abaixo.

Dores de cabeça, queixas de mal-estar e dificuldades respiratórias, foram os sinais de alerta para Nuno Caldeira e Sónia Alves, vizinhos e encarregados de educação de duas crianças de seis anos que iniciaram este ano lectivo, em turmas diferentes, o seu percurso escolar na EB/JI da Quinta de Santa Marta de Corroios, no Seixal.

As desconfianças sobre as possíveis causas destes sintomas, vieram a comprovar-se para Sónia Alves, após os exames médicos a que o seu filho foi sujeito, conforme explicou ao Diário do Distrito.

“O meu filho queixava-se diariamente de dores de cabeça e um problema ocasional de sangramento do nariz em dias muito secos, passou a ser uma situação quase diária.

Fui aconselhada por várias pessoas a consultar um oftalmologista, paguei uma consulta particular porque tinha uma certa urgência perante as queixas, e o médico verificou que ele não tem qualquer problema, nem precisa de óculos.”

A determinada altura, o menino começou também a queixar-se de falta de ar “e disse-me que isso acontecia quando estava muito tempo dentro da sala de aula. Eu fiquei muito alarmada, porque o meu filho gosta da escola e não foi ensinado a mentir, logo para ele se queixar era a sério.”

Apresentou a situação ao médico de família, “que o mandou fazer uma série de exames, raio-x, e provas respiratórias. Nesta foi detectada uma obstrução bronquial e aconselhado o uso de aerossóis; no exame de alergologia foi detectado que o meu filho é alérgico a duas estirpes de ácaros, uma delas só existe em locais com bolores e humidades.

Ora se a minha casa não tem esse problema, o ATL onde ele anda desde bebé também não, só podemos deduzir que é da escola, que pode não afectar outros meninos, mas tem provocado problemas ao meu filho.”

Nuno Caldeira também está a passar pelo mesmo com a sua filha. “Notei algo estranho nela, sempre foi saudável e começou a queixar-se, desde o início do ano lectivo, de dores de cabeça e no corpo. A própria professora ligou para a mãe a alertar para essas queixas.

Pensámos que fosse devido ao começo das aulas, a um ritmo que ela não estava habituada e por esforçar mais a vista. Fomos com ela ao oftalmologista, que não detectou qualquer problema.

Entretanto, comecei a ver os alertas da Sónia Alves nas redes sociais sobre o estado da escola e as queixas do filho, começámos a ver que as queixas coincidiam e associámos a situação. As duas crianças também frequentaram a Brincolândia juntos, e nunca tinham tido problemas.” Confessa que ainda não falou com os responsáveis da escola, “mas quando vou buscar a minha filha à escola, verifico que as janelas escorrem humidade e as salas têm bolores”.

Perante o problema de saúde da filha, Nuno Caldeira irá fazer exames a alergias por indicação da médica de família, “que nos disse que é muito provável que estes sintomas tenham a ver com a exposição aos bolores. Só não fizemos ainda os exames porque a menina teve uma amigdalite, esteve a antibióticos, e agora temos de esperar um tempo para realizar os exames”.

Salas com bolor e humidade

A situação de humidade e bolores nas salas e refeitório da escola foi divulgada nas redes sociais por Sónia Alves, chegando mesmo a ter uma reunião com a vereadora da Educação na Câmara Municipal do Seixal, Manuela Calado.

“No último dia de Julho, quando soube que o meu filho ia ficar colocado naquela escola, e não na EB de Santa Marta do Pinhal, apesar de morarmos a poucos metros dessa, fui visitar a escola para saber se o ATL funcionaria nos meses de Verão.

Quando entrei na escola, deparei-me com um intenso cheiro a mofo, isto com tempo seco e dias de muito calor. Fui conduzida ao refeitório e qual não foi o meu espanto quando vi as paredes cobertas de bolor, assim como os caixilhos das janelas.

Estamos a falar de um espaço relativamente pequeno, que serve com refeitório e ginásio. E o cheiro a mofo ainda piorou quando a funcionária abriu a porta da biblioteca, um barracão pré-fabricado, com uma temperatura horrível de quente e vidros partidos.

Tudo isto me deixou ainda mais alarmada e imediatamente pedi a transferência de escola do meu filho, porque achei que não era local para ele. Nunca aceitaram os pedidos de transferência que fiz invocando os motivos de falta de salubridade da escola, alegando que na outra escola recém-inaugurada, não havia vagas.”

Noutra ocasião, durante uma reunião de país, voltou a constatar os níveis de humidade das salas. “Além do cheiro a mofo, o meu marido meteu a mão no parapeito da janela, e esta ficou encharcada e não tinha chovido nesse dia nem nos dias anteriores. Notámos também que os livros guardados num armário estavam todos dobrados devido à humidade e até as fichas de avaliação que estavam sobre as mesas, em apenas meia hora ficaram húmidas. E nenhum dos pais fez referência a isso.”

Nuno Caldeira não é também alheio à falta de condições da escola. “A minha filha, nos dias mais frios, chegava a casa a queixar-se de estar enregelada nas aulas… chegou a ir para a sala de aula com três camisolas polares e um casaco.”

Este encarregado de educação, que também reside a poucos metros da recém-inaugurada EB de Santa Marta do Pinhal, no início do ano lectivo viu a sua filha colocada “na EB do Alto do Moinho, mas pedimos a transferência porque era longe e para que pudesse ficar com os coleguinhas que já conhecia da Brincolândia”.

Alerta às entidades

Quando se apercebeu do estado da escola, construída em 1982, Sónia Alves tirou algumas fotos das salas, que divulgou nas redes sociais, e alertou para a situação a autarquia seixalense “através de um email enviado ao pelouro da educação e à presidência, a 31 de Agosto, com as fotos, e no mesmo dia fiz o pedido de transferência do meu filho.

DR

Fui também a uma Assembleia Municipal onde pessoalmente apresentei a situação, e na altura a vereadora Manuela Calado disse que ‘esse não seria o local indicado para falar do assunto’, agendando uma reunião comigo e com o meu marido, em Outubro, na qual conversámos cerca de três horas, e onde a alertei para as condições da escola.

Na altura a vereadora concordou que o ideal seria o encerramento da escola e a realização de ‘obras profundas’. Ora sei que a autarquia tinha garantido à directora da escola que essas obras de fundo iriam ter lugar durante a pausa lectiva do Verão de 2018, e questionei a vereadora sobre isso, que me respondeu com o subterfúgio de que ‘a escola será intervencionada na próxima pausa lectiva’.”

Depois dessa reunião, Sónia Alves voltou a intervir numa Assembleia Municipal do Seixal, à qual foi acompanhada por Nuno Caldeira, “e o que percebi da resposta da vereadora, foi de que iam apenas pintar as paredes e os muros exteriores da escola, o que no meu entender não é prioritário”.

Depois de ter apresentado o caso ao delegado de Saúde Pública e ao Gabinete da Família, da Criança e do Jovem do Ministério Público, “que têm estado em contacto comigo”, garante que o próximo passo será “seguir com o caso para o Ministério Público, porque isto tem de ser resolvido com a máxima urgência, não se pode desresponsabilizar quem de direito, e depois encharcar as crianças com medicamentos.

Pretendo que façam a transferência do meu filho, que tem sido recusada, e nem consigo falar com a directora do Agrupamento, apesar de vários emails que enviei, até para lhe mostrar o resultado do exame de alergologia. A resposta, quando telefono, é que ela não está e que faça um pedido por escrito, que já foi feito por diversas vezes, sem resposta.

Sou pela verdade, quero ver isto resolvido e garantir a qualidade de vida do meu filho e quem sabe de outras crianças que estejam ou venham a passar pelo mesmo.

Desde que comecei a alertar para esta situação, até já me acusaram publicamente de fazer ‘acusações descabidas’. Agora pergunto, se os meus alertas são tão ‘descabidos’ como tentam vender, porque motivo é que a vereadora Manuela Calado reconheceu que a escola precisa de uma ‘intervenção profunda’ e que para isso precisava de ser encerrada? Então porque continua a escola a funcionar e as crianças expostas a tudo aquilo?”

Da parte de Nuno Caldeira, “iremos aguardar os resultados dos exames, e falar depois com a psicóloga que acompanha a minha filha, para saber se nos recomenda a transferência, devido a todo o processo de integração porque ela teria de passar. Mas se a escola não for alvo de uma intervenção de fundo, e não apenas besuntarem as paredes com tinta para disfarçar, colocaremos a hipótese de exigir a transferência.”

Ambos os encarregados de educação lamentam que outros pais não tenham também demonstrado junto das entidades as suas preocupações. “Recebi no meu Facebook algumas mensagens a darem-me força pelo que tenho mostrado publicamente, mas depois não há país que se cheguem à frente e se pronunciem sobre o estado da escola, parece-me que têm algum receio de dar a cara e de algumas represálias sobre os filhos” refere Sónia Alves.

“É preciso perceber que se a escola for intervencionada de forma correcta, todas as crianças vão ser beneficiadas, quer apresentem ou não estes sintomas. Agora fechar os olhos e dizer que os problemas não existem porque os filhos não se queixam, não faz sentido.”

Associação de Pais
sem conhecimento de queixas,
agrupamento em silêncio

O Diário do Distrito contactou com a Câmara Municipal do Seixal, para obter um esclarecimento da vereadora da Câmara Municipal, Manuela Calado, com a direção do Agrupamento de Escolas de Vale de Milhaços, onde se integra a EB/JI, com a direcção da EB/JI, e ainda com a Associação de Pais da referida escola, com um prazo de dez dias para o envio das respostas.

Recebemos unicamente uma mensagem de Anabela Lopes, em representação da Associação de Pais, com o seguinte teor: «Antes de mais, e em nome da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica de 1º ciclo e Jardim de infância Quinta de Santa Marta de Corroios, agradeço o seu contato. Contudo, não temos muito a dizer sobre o assunto que nos aborda uma vez que até à data nenhum pai ou encarregado de Educação nos contatou para reportar queixas relativamente a questões de saúde ou de humidade e/ou bolores.

Mais informo de que, a União Concelhia das Associações de Pais e Encarregados do Seixal (UCAPS) realizou uma visita à escola e não detetou qualquer situação denunciadora.»

Autarquia respondeu às questões do Diário do Distrito após publicação da reportagem

O Diário do Distrito colocou algumas questões à Câmara Municipa do Seixal, tendo dado o prazo de dez dias para o envio das respostas, ao abrigo do ódigo do Procedimento Administrativo e da Lei de Acesso a Documentos Administrativos, e recebemos esta noite a resposta.

A Câmara Municipal do Seixal tem todo o interesse em que as suas infraestuturas e todos os seus munícipes possam ter as melhores condições, pelo que tem trabalhado nesse sentido. Importa lembrar que a Escola Básica de Santa Marta de Corroios é um edifício escolar datado de 1982, sendo que as salas de aula apresentam um bom estado de conservação, em resultado da manutenção constante de que são alvo.

Esta mesma constatação foi emitida à autarquia pelo ACES de Almada/Seixal, no âmbito de uma visita realizada à referida escola no dia 20 de fevereiro, onde o relatório da referida visita refere que “as salas de aula apresentam-se em bom estado de conservação e limpeza e as salas de trabalho e espaços comuns apresentam-se em boas condições de conservação e limpeza”.

Da mesma visita, o relatório aponta apenas como medidas a tomar “proceder-se à limpeza das vidraças e janelas existentes junto ao teto e proceder-se também à limpeza do teto da despensa da cozinha”, situações qua a autarquia pretende resolver o quanto antes.

O relatório indica ainda que “as inconformidades constatadas durante a visita não são de relevância ambiental para dar procedimento à queixa apresentada”.

As intervenções já desenvolvidas e o que está previsto fazer pela Autarquia:

A autarquia procedeu, no presente ano letivo, a um conjunto de intervenções no refeitório deste edifício escolar, no sentido de melhorar as condições do mesmo e que no ano letivo 2017-2018<tel:2017-2018> foram ainda concretizadas pequenas reparações nos espaços exteriores da escola, substituição e ampliação de telheiros exteriores. Foi também colocado um equipamento no espaço de jogo e recreio, bem como um minicampo de jogos em relva sintética.

Está agora em fase final de concurso o processo de aquisição de mobiliário escolar, no quadro da normal renovação e substituição do mobiliário escolar mais antigo.

A autarquia irá também realizar no final do ano letivo, durante a pausa letiva de verão, um conjunto de intervenções para a beneficiação da escola. Estas visam a requalificação total das casas de banho, a pintura interior da escola (salas de aula, espaços de circulação, entre outros), a colocação de estores interiores no refeitório e substituição dos estores das janelas exteriores das salas de aula e das portas de entrada.

Para além das intervenções de conservação e requalificação da escola já mencionadas, está prevista a sua ampliação. Neste âmbito, será feita uma portaria, para melhorar as condições de segurança no acesso à escola, bem como a construção de um espaço para polivalente e biblioteca. Esta ampliação está na fase de projeto.


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comentário

  1. Olá eu sou o marido da Sónia Alves, sem duvida estranho que uma associação de pais não procure ela mesmo garantir as melhores condições de hegiene e salubridade para os seus filhos, ficando á espera de queixas em vez de ela mesmo vestoriar a escola e apontar o que tem de melhorar … parece-me a mim que a associação de país precisa de órgãos dirigentes novos!

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