Opinião

Os independentes nas “Autárquicas de 2021” à região de Setúbal

Da “lebre em Alcochete”… ao sempre falhado “assalto ao Castelo de Palmela”

Na verdade, quando olhamos para a realidade concreta dos chamados “Movimentos de Cidadãos Independentes”, que vêm concorrendo ultimamente às nossas autarquias locais, para além das boas intenções e das proclamações prosaicas de alguns…da feira de vaidades, das desmesuradas ambições pessoais e económicas de outros, o que trouxeram estes grupos de novo ao nosso panorama político local?

Em abstrato, essas candidatura vêm quase sempre “trasvestidas” do sofisma de que se trataria de novas pessoas, com novas ideias e perspetivas, com renovadas formas de fazer política.

Importa porém olhar para este fenómeno, não com a habitual e propensa bonomia generalista, mas antes procurar aferir em concreto no que se traduziram essas candidaturas, desde logo na Península de Setúbal, região em que o Poder Local nascido com o 25 de Abril tem tido um papel preponderante na melhoria qualitativa das condições de vida das populações.

Quem não se lembra da “lebre” que concorreu em 2017 sob a denominação “Somos Alcochete”?

Candidatura apenas assente na “cegueira revanchista” dum ex-eleito municipal, curiosamente também como independente nas listas da CDU, que acabou por “desistir à boca das urnas”, com os únicos objetivos de favorecer a vitória do PS na Câmara e de marcar território para os seus interesses pessoais. Não sendo assim de estranhar o seu silêncio conivente nestes 3 anos de desastrosa gestão no Município de Alcochete.

Ou da lista do “MIM”, alicerçada quase que exclusivamente na ambição de um homem com grandes interesses imobiliários no concelho, que instrumentalizou o prestígio que o movimento associativo local lhe conferiu como trampolim para os seus almejados interesses políticoeconómicos, mas que ao cabo de 3 anos enquanto vereador outra mudança não trouxe a Palmela senão a tentativa pífia de alguma instabilização na governação local?

Não olvidando existirem cidadãos bem intencionados no meio de tudo isto, estamos, no essencial e na sua larga maioria, perante ex-candidatos ou ex-eleitos que perderam ou não alcançaram a proeminência desejada no interior das estruturas partidárias e políticas que outrora integraram (muitos deles, durante largos anos), em busca de ajustes de contas pessoais…ou então perante candidaturas de personagens que ambicionam estender os seus negócios e/ou influência social ou associativa às autarquias locais.

Em concreto, encontramos nessas candidaturas ditas de “independentes”, na maior parte das vezes, as mesmas pessoas com as mesmas e requentadas ideias, e com apenas novos alinhamentos de interesses…mais pessoais, de certos grupos…mais económicos.

Os movimentos ditos de “cidadãos independentes” são quase sempre muito incipientes, de dinâmica e organização muito conjuntural e episódica. Depois das eleições, para além das fundadas dúvidas que muitas das vezes se levantam em torno de quem os suporta e financia, o que temos para além dum estranho realinhamento de dependências e de ambições?

Naturalmente que também há quem consiga manipular e desvirtuar o funcionamento de algumas estruturas partidárias locais com os mesmos objetivos…mas os partidos políticos, como pilares essenciais da organização política da nossa vida democrática, são por natureza estruturas mais sólidas e maduras que conseguem, na maioria dos casos, fazer prevalecer o interesse coletivo e das populações.

Hoje em dia é já quase um lugar comum afirmar-se, com relativa leviandade, que esses “movimentos independentes” surgem em função das insuficiências apontadas às estruturas partidárias.

Pelo que conhecemos e pela nossa experiência, perguntamos antes se esses “movimentos”:

– não surgem mais porque os cidadãos que lhes dão corpo deixaram de encontrar o “poleiro desejado” nos partidos existentes, onde quase todos já militaram?

– porque é mais fácil criar “ex novum” e moldar um novo movimento aos seus interesses conjunturais, pessoais ou de grupo, do que intervir e de lutar democraticamente no interior dos partidos existentes, pelos seus (muitas das vezes, inconfessados…) intentos?

– ou porque julgam conseguir, de forma mais efetiva, catapultar o seu prestígio individual, alcançado na vida associativa local, intelectual ou académica, pelos canais mediáticos existentes, para a ribalta política autárquica, de modo exponenciar toda a sua ambição pessoal?

Nesta senda, observem-se os interesses que já se perfilam também para as eleições autárquicas do próximo ano de 2021 em Montijo e Palmela, não obstante a grave crise pandémica, económica e social que atravessamos.

O “Movimento Montijo Primeiro”, alimentado fundamentalmente por personalidades dissidentes e descontentes com os partidos políticos locais, que, ao invés de procurar intervir e de contribuir para a mudança desejada no seio do partido que governa o Município ou para robustecer uma das outras forças políticas locais como alternativa, prefere fracionar ainda mais o espectro político atual da oposição e assim facilitar a manutenção da gestão que tão justamente criticam.

Por outro lado, no Município de Palmela, no maior concelho da AML e dos concelhos reconhecidamente com mais qualidade de vida e com o desenvolvimento mais sustentável da região, com uma gestão exemplar e índices que o colocam acima da média nacional (confirmados num estudo recente da Universidade Católica), os “apetites políticos” multiplicamse.

Caso contrário, como se justificaria a “candidatura datada” de um ex-autarca já reformado, “desparecido algures em combate” desde que perdeu a confiança política do seu ex-partido e renunciou à presidência da Câmara de Setúbal em 2006? Como se justificará doutro modo a tentativa de regresso ao passado, de um homem que deixou tantas dúvidas na sua famigerada gestão dos interesses?

Ou será, como alguns especulam, que CS “pelo concelho de Palmela” apenas retorna para acertar contas antigas, dividir… e tentar ajudar o PS e os interesses associados no seu até hoje sempre falhado “assalto ao Castelo de Palmela”?

Como se perceciona, impõe-se que reiteremos a questão de partida: que trouxeram ou podem trazer os ditos “grupos independentes” de novo e de melhor à nossa democracia local?


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