Opinião

O S.O.S DOS 13 DO NPR MONDEGO

Caros(as) leitores(as) desta vez venho a público dar a minha opinião sobre o caso do NPR MONDEGO.

E desde já afirmo que a mesma só a mim me vincula e pela qual me disponho a enfrentar as consequências que daí advenham. Passei pela vida militar no tempo em que ainda havia SMO. E atualmente sou chefe de maquinas marítimas portanto. Aquilo que aqui vou escrever é com conhecimento de causa. Com o saber de experiência feito. Não escrevo este artigo de forma leviana.

No passado sábado assistimos a um episódio de recusa de embarque para uma missão no NPR MONDEGO por parte de 13 militares da Armada portuguesa.

O episódio quase insólito na história deste país teríamos que recuar no tempo ao dia 19 de Julho de 1925. A bordo do cruzador Vasco da Gama deu-se uma tentativa de golpe militar que ficou conhecido como o 31 da Armada. Vindo a culminar na revolta militar do 28 de Maio, que levou à implementação do Estado Novo em Portugal. 

Mas é aqui que as semelhanças acabam. Porque estes homens não pretenderam implementar nenhum regime. Nem subverter a hierarquia militar vigente na Armada Portuguesa. Apenas tomaram uma atitude de alerta público. Esta situação foi um grito de S.O.S. Antes de tudo isto ter acontecido os militares enviaram por escrito ao CEMA Sr Almirante Gouveia e Melo das condições em que o navio se encontrava. Ao que parece a falta de resposta precipitou os acontecimentos que vieram a público.

Segundo informações oficiais e até de forma oficiosa e informal de gente que conhecendo a situação tem colocado nas redes sociais o verdadeiro retrato da situação do NPR Mondego.

Vamos lá tentar mostrar o verdadeiro retrato das condições reais do NPR Mondego.

Um navio que opera sem um adequado sistema de esgoto para um tanque de óleos usados. Cujos mesmos vão para os porões/ cavernas ( espaço debaixo dos estados da casa da maquina onde assenta os berços das máquinas principais. E passam os encanamentos.)

Na ARMADA designam-se de porões. Na marinha mercante de cavernas.

Um espaço que por norma deve estar seco. Por duas ordens de razões. A primeira prende-se com a estabilidade do navio e flutuabilidade. A segunda é que um navio a operar nestas condições é um barril de petróleo à espera que se lhe chegue um fósforo.

Se falamos de um vaso de guerra o risco é ainda maior devido ao facto de poder ser atingido por um projétil e resultar num incêndio imediato.

Um gerador INOP uma MÁQUINA PRINCIPAL INOPERACIONAL. Então não temos condições de segurança para navegar.

Uma das avarias referidas era a falha de refrigeração nos espaço de máquinas reduzindo a capacidade de combate a incêndios por já haver consumo no circuito

A segunda montes de resíduos oleosos nos porões por escorrimento de vários equipamentos não havendo capacidade de armazenamento a bordo para tal quantidade

A terceira, existência de fugas de óleo no motor operacional pelo colector de evacuação.

Pela minha experiência, não é difícil estes entrarem em combustão devido às temperaturas elevadas no colector, ainda para mais sendo o único motor operacional , logo sujeito a maior esforço.

Correndo o risco e saindo para a missão ordenada

Temos um navio construído com resinas, logo com menor temperatura de ignição que a madeira

Com vagas de 2 a 4 metros óleo a ser arrastado para todas as superfícies já que num acompanhamento, e fora das 12 milhas pode fazer o rumo que lhe aprouver.

E de repente, uma ignição

No caso de sorte um simples extintor resolve, mas devido ao mar não acontece.

O que acontece se a resina entrar em combustão?

A autoridade marítima quando vem passar os certificados de navegabilidade aos navios da Marinha Mercante; aos barcos rebocadores e de recreio só para não me alongar muito. Exige que estas situações não existam.

E agora levamos com isto? Que vergonha.

Sou solidário com o pessoal de máquinas. Afinal é a minha guerra. Sair para o mar só com um gerador. É pura estupidez. Em caso de incêndio ou entrada franca de água a bordo não há como lançar as bombas de incêndio ou esgoto se falhar o único gerador que está a trabalhar. Redundâncias não me fio nisso. Se o arquiteto naval colocou lá dois grupos eletrogeneos (geradores) foi exatamente por redundância. Aliás foi pedido ao construtor ENVC no caderno de encargos dois geradores por alguma razão.

ORDENS MAL DADAS NÃO DEVEM PARA SER CUMPRIDAS.

Na altura era um jovem e fazia-me confusão esta frase. Como se fosse um contra-senso. Uma autorização para quebrar a disciplina militar. Mas agora vejo que era apenas uma forma de dizer que o militar deve servir com honra e brio. Seguir a disciplina militar mas sempre a usar o cérebro. As FA não precisam de mártires. Precisam de efetivos. De homens inteligentes e não de um rebanho de ovelhas a caminho do matadouro.

A primeira função do comandante é assegurar a segurança do navio e da sua guarnição/tripulação. Não é só olhar para a sua carreira militar. A missão era fazer escolta a um navio de guerra russo não era salvar ninguém em perigo. Era apenas para marcar uma posição de presença militar. Eles até podem enfrentar um processo por crime de insubordinação e usurpação de funções. Uma vez que a decisão final cabia aos oficiais. Mas sinceramente que eu preferia entregar o meu uniforme a ter que embarcar com um oficial que acha que um navio nestas condições é apto para cumprir a missão. O comandando naval sabendo da situação deu a opção ao comandante de não efetuar a missão. Ele decidiu fazer. O pessoal da máquina achou que não. Os comandantes podem ser os maiores. São a cabeça do navio. Mas o pessoal da máquina é o coração. Sem máquinas marítimas o navio é apenas um pedaço de aço a flutuar. Isto se não estiver a meter água.

Caríssimos(as) quando o pessoal de máquinas diz que não há condições é porque não há. Eu pessoalmente já mantive um navio em operação com um trapo a segurar um tubo de retorno de gasóleo apenas com um pedaço de trapo atado até conseguir a reparação do mesmo. 

Créditos da imagem:

Carlos Ferreira no Blog Entusiastas de navios.

SERÁ QUE CONSEGUEM ENTENDER ISTO? É BÁSICO.

O Sr comandante desta classe de navios é um Primeiro Tenente com cerca de trinta anos de idade, não desvalorizando o seu profissionalismo, mas é um comandante com pouca experiência de mar e sem nenhuma experiência da parte técnica dos navios, motores, geradores, bombas de esgoto, circuito de incêndios, etc…

O navio teve que ser rebocado no passado dia 9 de Março pelas 9h, o NRP Mondego da Marinha Portuguesa ao entrar no Porto do Funchal foi acompanhado pelo rebocador CTE Passos Gouveia, que saiu do cais de S. Lázaro para acompanhar na entrada do patrulha, que recorde-se encontra-se de momento destacado na Região Autónoma da Madeira quando já há um prolongado período de tempo. Tal inusitado acontecimento levou à captura de raras imagens que aqui partilhamos.

 Créditos de imagem:

Carlos Ferreira Blog Entusiastas de Navios.

Os camaradas que formaram no cais são os responsáveis máximos da parte técnica nesta classe de Navios, tirando o Engenheiro que é um guarda marinha acabado de sair da escola naval e a fazer o seu primeiro embarque.

Estes Homens que formaram no cais são Sargentos e Praças que têm mais horas de navegação do que este Senhor Comandante tem de Marinha, mais anos de marinha do que o próprio navio tem na nossa armada, mas no entanto é desvalorizada a sua palavra e opinião e é validada a de alguém sem experiência neste assunto e que tem uma carreira pela frente, que é obrigado a vir dizer o que “alguém no comando” o obrigou a falar para não sofrer represálias e problemas na sua promoção..

Estes homens que formaram no cais não são números nem tão pouco miúdos com dois anos de marinha e sem experiência nenhuma de mar ou navios, são profissionais altamente qualificados e com muita experiência de mar, inclusive com várias condecorações, louvores e várias provas dadas do seu profissionalismo na marinha, com muitas horas longe de casa e da sua família sem nunca terem recusado uma missão e que já deram muito a esta casa, não são nenhuns delinquentes nem insubordinados como a imagem que os comandos estão a tentar passar!!

Os 13 da armada foram abandonados pela chefia. Tentaram amordaça-los.

Estes homens estão a ser vilipendiados em público.

Até pelo PR Marcelo Rebelo de Sousa que falta à verdade. Que ao afirmar que o inquérito se encontra concluído.

Ora que raio de inquérito pode estar concluído sem ouvir os visados???

Afinal eles ainda vão ser ouvidos pela PJ Militar.

Estes homens estão a ser usados como cortina de fumaça para esconder as responsabilidades políticas do primeiro ministro António Costa; do ex ministro das finanças Mário Centeno; Ex ministros da defesa Azeredo Lopes e João Gomes Cravinho. Que com as suas cativações retiraram dinheiro necessário à manutenção dos navios da ARMADA PORTUGUESA. Que neste momento tem 18 navios da frota parados.

Bem podem vir a público usar o mantra da disciplina militar.

Mas a disciplina militar não pode servir para esconder as responsabilidades políticas e de comando. Ou temos chefes militares que estão com os seus homens ou temos meros comissários políticos. Quase a fazer lembrar a tristemente famosa “brigada do reumático”.

Estes homens tiveram a atitude que muitos de nós já devíamos ter tido várias vezes, têm toda a minha consideração, respeito e apoio!!

Como disse o grande Salgueiro Maia: “As vezes é preciso Desobedecer…”

Por isso manifesto minha solidariedade para com estes 13 homens da ARMADA PORTUGUESA.

Por isso mesmo partilho aqui a PETIÇÃO PÚBLICA a favor destes homens.

DR – Carlos Ferreira no Blog Entusiastas de navios.


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