Autárquicas 2021Montijo

Nuno Canta: “A não execução do novo aeroporto vai colocar o país num beco sem saída”

Nuno Canta faz o balanço do mandato à frente da Câmara do Montijo e aborda o polémico tema do novo aeroporto.

Nuno Canta foi reeleito para o segundo mandato pelo Partido Socialista na Câmara Municipal do Montijo, nas eleições autárquicas de 2017. O PS elegeu quatro vereadores com 45,42% dos votos. Seguiu-se a CDU com dois vereadores e 20,11% dos votos, e o CDS-PP/PSD com 1 vereadores, com 19,44% dos votos.

Leia a primeira parte da entrevista de balanço do mandato de Nuno Canta ao Diário do Distrito:

Que balanço faz do mandato?

Correu bem e grande parte dos nossos compromissos estabelecidos com os eleitores foram cumpridos. As pessoas acreditaram plenamente em nós, por isso é que nos deram uma maioria absoluta com o dobro dos votos que tínhamos tido na eleição anterior. Poucos são os presidentes de Câmara do país que podem dizer que tiveram o dobro dos votos de uma eleição para a outra.

O que ficou por fazer, de algum modo, tinha sido avançado e está a ser estudado, como é o caso do Parque Desportivo Municipal. Outra ideia que está a ser estudada e que não foi possível iniciar neste mandato é a criação de piscinas lúdicas ribeirinhas.

Estas ideias não foram concretizadas por duas razões: os terrenos que o município queria ainda continuam em mãos privadas. Esperemos que o caso do Parque Desportivo seja resolvido a breve trecho porque existe já uma ideia de desenvolvimento, um loteamento urbano para esse local onde haverá construção privada, e por sua vez vai ter de ser cedido o terreno. No próximo mandato talvez poderemos libertar esta obra.

“Tudo o que nós tínhamos proposto nas freguesias e no município está realizado e atingimos os objetivos”

No caso das piscinas, entrámos em contato para negociações, mas não se concluiu a possibilidade de termos a salina que nós designamos de “Zé Leite”, que já foi um antigo presidente da Câmara. Não chegámos a um acordo para termos essa salina, mas também já tivemos indicações que o loteamento que faz parte da salina vai avançar.

De resto, tudo o que nós tínhamos proposto nas freguesias e no município está realizado e atingimos os objetivos, apesar de estarmos dentro de um problema grave que é a pandemia, e que colocou sobretudo em crise a forma de governar e a maneira de chegarmos às pessoas. Impediu toda a área da cultura, que é realmente uma situação que nos penaliza muito por não termos essa dinâmica como anteriormente. Obviamente que o nosso mandato é marcado pelo cumprimento dos compromissos e por este aspeto negativo da pandemia.

O concelho já tem metade da população com a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Como avalia o processo de vacinação?

A vacinação está a correr muito bem no Montijo e temos tido um retorno de satisfação das pessoas. Está a ser feita através de um Centro de Vacinação em massa que temos instalado no Pavilhão Desportivo do Esteval, e rege-se por uma parceria muito eficaz com o plano nacional de vacinação, com os nossos centros de saúde e obviamente com trabalhadores municipais que orientam as pessoas permanentemente.

“O serviço tem sido de excelência e o balanço é extremamente positivo. Já registamos mais de 30 mil inoculações”

O serviço tem sido de excelência e o balanço é extremamente positivo. Num fim de semana são administradas quase mil vacinas. Já registamos mais de 30 mil inoculações, temos todos os idosos com mais de 80 anos vacinados e temos os lares todos vacinados. Penso que existem condições para, talvez no final do verão, podermos começar a ultrapassar esta pandemia.

Como está a situação financeira do município?

Para já não temos tido uma consequência direta na Câmara relativamente a esta pandemia, apesar termos feito vários benefícios fiscais durante este período. Temos as contas controladas, até porque tínhamos alguma capacidade para poder amortecer este choque da pandemia.

No âmbito dos Serviços Municipalizados da Água e Saneamento (SMAS) demos apoios aos comerciantes e optámos por não proceder aos cortes de água às pessoas com dificuldades. Esta questão de ausência de corte da água vai afetar muitos municípios do distrito de Setúbal, tendo em conta o não pagamento da fatura. Os SMAS do Montijo em princípio vão apresentar dados líquidos negativos relativamente a 2020.

Mas além disso também reduzimos o IMI em 2020 e 2021, tal como tínhamos prometido às pessoas. É ligeiro, mas o Montijo tem vindo, desde que eu sou presidente da Câmara, sempre a baixar o IMI. Claro que é de forma sustentada e equilibrada para que não se ponham em causa as contas da Câmara.

“Fomos conseguindo reduzir os impostos e as dividas e graças a isso o Montijo é hoje um município praticamente estável.”

No geral as contas comportaram-se de forma positiva porque continuámos a ser um município com muita procura de compra e venda de propriedades. Isto é, o IMT – Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis, que se paga à Câmara, comportou-se muito bem em 2020 e não baixou como era expectável. Até agora também não está a baixar e, portanto, consideramos que em 2021 vamos manter as contas em ordem.

Este também foi um compromisso que eu tive com os montijenses, que foi manter as contas em dia. Pagamos a tempo e horas aos empreiteiros, aos fornecedores de serviços, as festas, ordenados, tudo. Felizmente, em oito anos que já levo como presidente da Câmara, nunca pedi um empréstimo de curto nem de longo prazo. Fomos conseguindo reduzir os impostos e as dividas e graças a isso o Montijo é hoje um município praticamente estável.

Que opinião tem sobre os sucessivos atrasos na execução do novo aeroporto?

Sobre a questão aeroportuária, a Câmara do Montijo já teve várias posições ao longo dos anos, do ponto de vista da sua localização. A primeira foi a de Rio Frio, nos anos 60, e que aparecia como elemento para fazer um grande aeroporto.

Depois estivemos a favor do aeroporto no campo de tiro de Alcochete, que por acaso até é no concelho de Benavente, mas entra-se por Canha. Na altura era o que estava decidido e nós achámos bem, mas chamámos atenção para uma coisa. O aeroporto nesse local fica entre 20 a 30 quilómetros daqui, e ao ser mais longe, é preciso ter atenção. Onde vai ficar a cidade aeroportuária? No meio da floresta ou aqui entre o Barreiro, Montijo e Moita?

“Onde vai ficar a cidade aeroportuária? No meio da floresta ou aqui entre o Barreiro, Montijo e Moita?”

O que muitos dos defensores do campo de tiro de Alcochete querem é fazer uma cidade aeroportuária à volta do aeroporto, independentemente do sítio. Agora surgiu a ideia do Montijo e nós defendemos essa localização porque é a que interessa mais à região de Setúbal. Este aeroporto na margem sul do Tejo irá reduzir a assimetria económica que existe entre as duas margens. Isto é, um jovem tem muito menos hipóteses de ter um bom emprego deste lado do que em Lisboa. Isso não é justo nem aceitável.

Como autarcas, temos de ter a responsabilidade e a visão de trabalhar para reduzir este problema. A maioria das pessoas tem de atravessar o Tejo todos os dias para ir trabalhar a Lisboa. Isso faz com que deixem os filhos sozinhos em casa e abandonem os idosos. Não conseguem, por exemplo, fazer uma coisa simples que é almoçar com os filhos, que é muito importante não só para o crescimento dos miúdos, como também para o próprio adulto.

Isto é um problema social grave e que tem de ser resolvido dentro da região de Lisboa. Para isso tem de haver investimento na margem Sul. Mas o facto de ser no campo de tiro não resolve este problema, porque é longe a as pessoas voltam a ter de ficar lá o dia todo.

Tem de haver investimento na margem sul, mas o facto do aeroporto ser no campo de tiro não resolve este problema

Pode ser uma situação de maior futuro, é verdade, mas só se resolve este problema social com emprego em proximidade. Isto é, tendo um grande investimento, como é o caso do aeroporto, que lhe permita depois ter várias empresas que ficam perto. O grande problema da península de Setúbal, que infelizmente foi agravado por muitos autarcas, é claramente não trabalharem para ter emprego. A não execução do aeroporto vai colocar o país num beco sem saída.

Trabalha-se muito para ter casas, mas depois as pessoas vão trabalhar para Lisboa. Isso não é nada. Mas se aeroporto for para o campo de tiro, não nos vamos opor. Claro que nos preocupa a questão do ruído e da qualidade de vida, mas assim que a questão do aeroporto se colocou aqui, a Câmara do Montijo exigiu desde a primeira hora, enquanto outros ainda estavam a dormir e vieram depois ser opositores, que uma das condições para o aeroporto ser feito era a existência de um estudo de impacto ambiental.

“De estudo em estudo vai-se comprovando a solução Montijo e só se atrasa o país”

Para os opositores claro que interessa esquecer que há um estudo, e até dizem que não há estudos nenhuns. Esse estudo científico e de competência técnica diz que é possível localizar o aeroporto no Montijo sem afetar em excesso as populações. Depois não acreditam que o que os técnicos fizeram é bom. Isso é grave, porque se nós não acreditamos na técnica, também não acreditamos que a vacina impede a pandemia, nem que os remédios nos curam, e por aí adiante. Somos negacionistas.

De estudo em estudo vai-se comprovando a solução Montijo e só se atrasa o país. Se a avaliação ambiental estratégica der o Montijo como a melhor solução, só perderam tempo. Aliás, grande parte do sobrevoo dos aviões para chegar à pista será sobre o rio, no Barreiro. Não vemos razão para o aeroporto aqui não ficar.


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