Opinião

No intervalo das 2 guerras

Esta semana um artigo de opinião de Samuel Marques, Chefe de Maquinas Marítimas        

 

Caros(as) leitores(as) apesar do título do meu artigo poder parecer um tanto alarmista tal só pode suceder e for tomado à letra.

Certamente que já perceberam que falo do intervalo entre eleições. Obviamente que a ideia é agarrar os(as) leitores(as) quando escrevemos um título e este foi aquele que achei por bem colocar enquanto imaginava este artigo de opinião.

Em Portugal vive-se um momento político que faz lembrar a Europa do séc. XX no período entre guerras. Estamos, goste-se ou não, a viver um fim de ciclo. Um tempo de paz podre onde as várias lideranças dos vários partidos tradicionais parecem mortos-vivos a deambular como se de um filme de Apocalipse se trata-se.

Nada de novo dirão vocês com toda a razão. A GERINGONÇA está morta como a conhecemos só não houve ainda a coragem de lhe passarem a certidão de óbito e de a enterrarem de forma condigna.

Foram 4 anos de vida com conquistas sociais e muitos erros grosseiros. Alguns quiçá graves. Uma GERINGONÇA é como o nome indica por natureza uma máquina que não foi feita para durar mas para in-extremis cumprir uma função de forma mais ou menos deficiente e depois ir parar à sucata. Quando ela arrancou tinha à partida um combustível de mistura mais ou menos volátil, a saber:

Os anticorpos gerados na sociedade ao governo da PAF por ter ido cegamente além da TROIKA; a maioria de deputados eleitos superior à PAF; um caderno reivindicativo de vários sectores laborais e sociais e um inimigo comum a abater na pessoa de Pedro Passos Coelho.

Ora ao princípio as três forças partidárias da geringonça lá foram convivendo com maior ou menor dificuldade como se de num casamento de conveniência a três.

Ora o tempo passou e as diferenças foram aparecendo nenhum no início destes partidos prescindiu da sua matriz e também algumas propostas do BE e PCP chumbadas. Mas nada do outro mundo.

Culpava-se era do governo anterior, Passos Coelho ainda deambulava pelos corredores de São Bento como líder do PSD.  Ora BE e PCP acabados de chegar ao arco da governação tinham ali o adversário político que necessitavam. Ao mesmo tempo que na companhia do PS anunciavam um “RESET” às medidas da TROIKA ia haver dinheiro para todos.

Paralelamente com o BE e PCP a enfrentarem no hemiciclo Pedro Passos Coelho e Assunção Cristas o PS ficava livre para limpar a sua imagem pública exorcizando o fantasma Sócrates.

Mas nada é para sempre: E o PS cavalgando a reposição de rendimentos consegue roubar ao PCP várias câmaras municipais. Em 2018 Pedro Paços Coelho abandona a liderança do PSD.

E de cereja no topo foram os escândalos do BE (caso Robles) e os do PCP em Loures e no Seixal.

Agora foram as eleições europeias com os resultados que se viram. Uma abstenção clamorosa na ordem dos 69,3%. O PS 33,4% de votos dos cidadãos que se deram ao trabalho de ir votar. Já o PCP consegue 6,9% contra os 12,7% que tinha conseguido. Nisto e para cúmulo da situação o BE elege mais um deputado que nas eleições anteriores. Uma esquerda moderna e mais cosmopolita com outras preocupações que suplantou a esquerda do proletariado.

E como a desgraça (no entender de alguns) nunca vem só, o PAN consegue eleger um deputado tendo conseguido cativar o eleitorado sobretudo jovem com preocupações novas nomeadamente as ambientais.

Uma nota para o PSD e para o CDS. Estes partidos se já estavam mal e desnorteados com o efeito GERINGONÇA agora ficaram pior. A campanha eleitoral, que até não estava a correr mal de todo apesar de não ter chama e se basear em casos, lá ia andando. Mas o escorregar na casca de banana do caso dos professores foi um erro de palmatoria clamoroso. Se a isto juntarmos o surgimento dos pequenos partidos à direita então para o PSD e CDS foi a tempestade perfeita. Portanto após o fim da guerra (eleições) vêm por aí as próximas já em 22 de Setembro na Madeira onde o PSD joga a sua sobrevivência política. Talvez fazendo desta região a sua aldeia de Astérix a fazer frente à PAX socialista.

Até agora isto foi andando calmo sob a liderança de António Costa. Nem mesmo TANCOS ou os incêndios de 2017 quebraram a solidariedade da Geringonça. Tudo isto teria talvez continuado com ligeiras alterações se o PS não tivesse capitalizado as conquistas sociais (património político do PCP).

E não tivesse “roubado” câmaras municipais aqui na margem sul. Isso o PCP não perdoa. Certamente que a esta hora já estão a afiar as baionetas no Hotel Vitória (sede do PCP).

Aliás o verniz já estalou com o PCP e BE a falarem da SOFLUSA e dos transportes com o atual ministro da pasta a ter que vir pedir desculpas públicas.

Já o caso do BE é diferente. É um partido mais plástico e adaptável. Mas só ter lugares na Assembleia da República já não basta. O BE ainda não sendo um partido autárquico, tem como projecto de sobrevivência política estar na esfera do poder governativo. Nem que para isso tenha que baixar algumas bandeiras. O que para o BE é mais fácil que o PCP. Pois o BE não é um partido que se possa chamar dogmático. Já o PAN poderá ou não vir a ser a surpresa de entrar no governo dependendo dos resultados eleitorais que tiver.

Agora para terminar caros(as) leitores(as). Tenho a ligeira impressão de que as próximas eleições legislativas para além de bastante renhidas, vão ser recheadas de casos políticos ajustes de contas e rasteiras à socapa. Talvez se venham a abrir alguns arquivos. Muito por conta de 4 anos a engolir sapos quer à direita quer à esquerda. Há por aí muitos ódios políticos a virem à tona. Basta seguir os grupos do Facebook aqui na Margem Sul. Oxalá eu me engane e esteja aqui em Outubro a fazer um texto de MEA CULPA por ter falhado redondamente. Mas a minha intuição política é para aí que aponta.


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