Opinião

Nem sempre anedotas, nem sempre pandemia…

            – Impedido de ir desconfinar por Vaticanos e Madrides, entendi seguir o conselho do meu “médico de eleição”, por acaso quem mais sabe de Covid-19, 20 e 21, em Portugal. O Fortimel que me recomendou terá ajudado a fortalecer-me o ânimo, mas não nego que a “geringonça da pandemia”, que ora acelerava demais ora travava a fundo, já usa três mudanças: “devagar”, “devagarinho” e “marcha-atrás”…

Enquanto cidadão e médico, desde há mais de um ano que venho denunciando desastrosas práticas no combate à pandemia, ao mesmo tempo que antecipei propostas e previsões que se revelaram certeiras. No entanto, depois de tanta crítica, entendo ser meu dever registar indícios de que, finalmente, existe alguma melhoria na gestão de uma crise que, por graves erros, falhas e omissões, acarretou trágicas consequências.  

Assim parecendo, e enquanto o Fortimel atua, nada melhor que recordar algumas das anedotas que todos os dias nos soltam o humor. Algumas são alentejanas e outras não, mas comecemos por uma alentejana, oriunda da capital da região.

Foi aí mesmo, em Évora, há semanas, que a passagem de uma carrinha de transporte de vacinas levou a uma intervenção “militarizada”, que quase degenerou numa “guerra” entre as duas principais forças de segurança interna, ao caso a PSP e a GNR: um ato de alto significado civil e militar e por que todos os portugueses terão manifestado apreço; a começar pelo Senhor Ministro da Administração Interna que, por certo, irá proporcionar uma qualquer “ordem de mérito a tão zelosos servidores da nação”, já no próximo 10 de junho.  

Em franca ascensão na carreira, e sempre heroicamente na defesa da Saúde Pública, o comando da PSP daquela cidade entendeu agora apelar de novo às televisões: não, para voltar a barrar a passagem da “inimiga” GNR, que, ilegalmente, ousara passear as vacinas pelo território à sua guarda; desta vez, à cata de outros “violadores da lei” ainda mais sinistros e perigosos, ao caso os estafetas dos restaurantes.

Pois não é que, na entrega ao domicílio de jantares previamente encomendados, circulavam com bebidas alcoólicas depois das vinte horas? E perante tão grave violação da lei, que proíbe o fornecimento de bebidas alcoólicas por estabelecimentos abertos ao público, vão de multar quem aparecia. Uma dúvida deixo:

– Esta gente nasceu sobredotada ou também anda a tomar Fortimel?

A segunda estória tem a ver com uma medida ainda mais “inteligente”, a do confinamento proibir a circulação entre concelhos e não um certo afastamento da residência, 20 ou 30 Km, medida muito mais racional e que, com recurso ao GPS das forças policiais, facilmente poderia ser aplicada.

A versão em vigor, pelo contrário, está a dar azo a interpretações delirantes, geradoras de prejuízos e contratempos. Foi assim que, na TV, assisti a mais uma “operação policial”, desta vez na Feira de Santana, na confluência dos concelhos de Alcobaça, Caldas da Rainha e Rio Maior: Haverá melhor “ponto estratégico” em Portugal, para a caça à multa?

– Então, de onde és tu, ó marmelo?

– Moro no sítio tal. É aquela aldeia ali ao fundo.

– Mas isso é concelho de Rio Maior e tu estás em Caldas!

– Mas…

– Não há mas… nem meio-mas! Passa para cá duzentos euritos e, vá lá, que não comes com mil em cima.

– E tu? Vais a fugir, porquê?

– Ai, mas isso é em Alcobaça e deste lado da estrada é Rio Maior.

Um “toma-lá-que-já-almoçaste”, que pôs um amigo morador numa vivenda assente em três concelhos – Mira, Cantanhede e Vagos – a rabiar. Será que não leva rebocada, se for visto a passar da sala para a cozinha? E pode dormir descansado com a legítima, se as fronteiras cortam o leito conjugal mesmo ao meio?   

Como se percebe, neste primeiro registo de não desacerto total na luta contra a pandemia, ainda é muito cedo para eleger heróis. Até porque, com os recursos existentes, a distribuição das vacinas e a campanha de vacinação seriam sempre tarefas muito fáceis de executar. No entanto, face ao desastre inicial, deixo a indicação de que as orientações recentes começam a ter alguma precisão e lógica, o caminho a percorrer.

Os portugueses não são números, antes são pessoas e nem compreendem medidas assentes em estatísticas feitas de “esses-e-erres”. Há que avançar na senda do desconfinamento, com a consciência de que temos de libertar os setores onde não incide grande risco de contágio e aplicar emergentes medidas de contenção ou mesmo retrocesso, em áreas em que tal seja imperioso. A dar que pensar, num futuro próximo, tudo indicia que os novos contágios parecem agora incidir sobretudo nas populações mais jovens, alguma da qual fica com importantes sequelas para o resto da vida.

Um vice-almirante está ao leme, afinal a chefia do tipo militar que defendi há mais de um ano. Agora… navegar é preciso!


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