Opinião

“NÃO TEM DE SER ASSIM”

Eça de Queiroz, o grande Eça, fez parte de uma geração que se auto intitulava “os vencidos da vida” nas sua cartas e na sua obra Eça descreve como ninguém a decadência de valores e a corrupção da sociedade do final do seculo XIX que redundou no regicídio e conduziu à república.

O fim de um ciclo, seja de regime, de sistema ou de forma de governo dá-se sempre e quando este já não consegue ter forças para se regenerar, minado pela corrupção e pela decadência de valores, que tornam o fosso entre governantes e governados tão grande que os primeiros deixam de ter contacto com os segundos e os segundos perdem a esperança nos primeiros.

A grande novidade do nosso tempo é que essa crise é mundialmente generalizada e agudizada pela pandemia que vivemos.

E nada mais emblemático da decadência de uma civilização do que a forma como trata os seus anciãos.

A par do aumento da esperança média de vida, esta sociedade do fútil e do efémero, que transformou o ser humano em consumidor, não sabe o que fazer com os mais velhos e como tal varre-os literalmente para debaixo do tapete sem qualquer compaixão. O que não é bonito e apelativo não é para se ver.

E mesmo os que resistem, sozinhos ou com as suas famílias, acabam por ser empurrados para o degredo.

Já não têm utilidade, são um peso para todos, há que encerra-los em verdadeiros campos de concentração que são os “lares”, à espera da morte, isto quando a morte não os espera nesta espécie exilio forçado.

Enquanto isso vemos ser produzida legislação que criminaliza o abandono de animais de companhia.

Entende-se, porque os segundos são fofinhos e os primeiros não, só têm problemas, rugas, mau feitio, enfim.

Ser “velho” passou a ser sinónimo de abandono, solidão, punição, degredo. Os poucos que têm a sorte de poder viver com amor até ao fim são uma verdadeira excepção.

Mas todos seremos um dia “velhos”. E quando a eminência desse dia chegar teremos medo. Medo de ficar sós, doentes, pobres, mas sobretudo medo de perder a dignidade e a nossa autodeterminação.

Uma sociedade que nega aos seus “velhos” o respeito e a compaixão não é uma sociedade digna.

Mas não tem de ser assim. A família, essa instituição que é a base da sociedade, e que tanto tem sido espezinhada por ideologias aberrantes que se tornaram dominantes, é a solução. E por família não se entenda apenas a de sangue, mas a que de facto se une por laços emocionais.

É preciso devolver à família o seu papel social para que a vida comece e acabe no seio da mesma. E para isso é preciso dar-lhe dignidade, protecção e apoios para que não tenha de largar os seus “velhos” num qualquer depósito, onde ninguém largaria um cão.

Deixamos que o individualismo corroesse os alicerces da nossa comunidade, agora é preciso voltar atrás e perceber onde caímos, antes que seja tarde demais. Reguengos é apenas um exemplo dos muitos que não foram notícia e se nada fizermos continuarão a existir.

A crise pandémica que vivemos é uma boa oportunidade para por tudo em causa e começar de novo.  Cooperação em vez de competição. Empatia em vez de egoísmo. Devolvamos aos nossos “velhos” o seu papel de raíz da comunidade e descobriremos que ser feliz afinal é uma coisa simples.

A mudança começa em cada um de nós, quando recursarmos este modelo de sociedade que nos bestializa e nos rouba a nossa humanidade.


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