Opinião

Mostrar as emoções não é fraqueza mas sim humanidade!

Uma crónica de Isabel de Almeida

O nosso mundo continua, cada vez mais, virado do avesso. Creio que no meio deste verdadeiro turbilhão, volvido quase um ano de pandemia e com Portugal a atravessar dificuldades generalizadas quer no controlo da pandemia, quer ainda com vários sectores da economia seriamente afectados e com danos que demorarão anos a recuperar é normal que a forte pressão psicológica comece a afectar também os governantes.

Nas redes sociais, onde as emoções tendem a ser demonstradas de forma muito negativa e agressiva por estes tempos, causou esta semana forte impacto o momento em que Marta Temido, Ministra da Saúde, se emocionou enquanto discursava numa cerimónia no Instituto Ricardo Jorge, agradecendo o empenho de todos quantos contribuem nos vários sectores no combate à pandemia.

Houve reparos ao facto de a Ministra ter demonstrado forte emotividade, mas da análise que faço, pessoalmente, devo concluir que a Ministra da Saúde ainda não se desumanizou, antes revelou que é uma pessoa empática e acusa o desgaste de longos meses de pressão, de incertezas, de receios.

É certo que não existem fórmulas mágicas, que a luta é contra um inimigo misterioso e imprevisível e ainda desconhecido em muitas facetas, absolutamente perverso nesta sua imprevisibilidade, naturalmente, foram cometidos erros, e provavelmente continuam a ser cometidos erros, mas há que podemos afirmar com toda a certeza: não haverá um único cidadão que gostasse de estar “na pele” dos nossos governantes.

De algum modo, a pressão terá aumentado certamente com o surgimento de infecções em Graça Freitas e noutros funcionários da área da Saúde.

Aliás, o grande sinal de alarme quanto ao desespero que grassa na Europa ( e no mundo) foi ver a Chanceler Alemã, Angela Merkel, a emocionar-se também enquanto discursava para os deputados rogando que fossem aprovadas medidas duras mas restritivas que tornem possível salvar vidas, agora que estão vacinas em perspectiva. Devo confessar que ver Angela Merkel sob forte carga emotiva de algum modo mostrou-me que é compreensível todas as sensações de medo, estranheza, ansiedade que eu própria tenho vivenciado o mesmo sucedendo a muitas pessoas no meu entorno.

Arrisco a conjeturar que nem mesmo Margaret Tatcher, Primeira Ministra Britânica que ficou conhecida como a Dama de Ferro conseguiria manter neste contexto actual a permanente firmeza e fleuma Britânicas.

Em suma, o ano está a terminar, é ambígua a nossa visão de passagem do tempo, pois se por um lado o relógio como que parou, por não termos vivido o nosso quotidiano habitual e por termos novos hábitos de vida, novas exigências e novos cenários de lazer (limitadíssimos) e de trabalho, por outro, e contraditoriamente não deixa de nos ser estranho notar que afinal já se passou mais um ano, talvez o ano mais difícil da nossa existência.

Em jeito de conclusão, o que me assusta não é ver governantes a não conseguir esconder emoções, a deixar mesmo cair lágrimas, a falar com a voz embargada, o que sim continua a assustar-me, e muito, é continuar a assistir à intolerância, à falta de empatia, à falta de respeito pelo próximo, a fortes expressões de violência verbal, física e psicológica que se tornam cada vez mais evidentes e que se banalizam, e isto precisamente no momento em que cada um de nós, como membros desta sociedade, teríamos muito mais a ganhar com estreitar laços e promover a entreajuda.

Enquanto existirem seres humanos capazes de mostrar emoções de forma espontânea, para mim tal significa que ainda existe para todos nós, quiçá, um raio de esperança. Como diz um amigo e colega meu estamos no meio do túnel, com a luz ao fundo, mas o meio do túnel é mesmo a parte mais difícil de ultrapassar.

Não tenhamos vergonha de expressar emoções, elas são preciosas para promover a activação das nossas ferramentas cognitivas de reacção à ameaça que paira sobre nós. Diria Obelix que “ O Céu caiu-nos sobre a cabeça!”


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