Distrito de Lisboa

Lisboa | Biscoitos para cães e gatos evitam desperdício alimentar

ONU elogia projecto português Sancho Pancho por evitar desperdício alimentar

Os restaurantes de gastronomia japonesa não podem utilizar todas as partes do peixe para produzir sushi e sashimi. Por isso, todos os dias, quilos e mais quilos de cabeças, espinhas e peles de peixes iam parar literalmente ao lixo. Já não é tanto assim em Lisboa. Um pequeno negócio português transforma estas sobras de peixe fresco em petiscos para cães e gatos. A criadora da marca Sancho Pancho, Daria Demidenko, uma russa a morar em Portugal desde 2015, tem parcerias com restaurantes japoneses e algumas peixarias de Lisboa para aproveitar este desperdício alimentar, ao criar com ele petiscos para animais de estimação. 

No Sekai Sushi Bar, um restaurante japonês em Santos, todas as manhãs, são entregues cerca de 10 quilos de salmão, atum e peixe branco. As mãos hábeis do sushiman Sunil Basnet rapidamente limpam e preparam uma corvina de quase 3 quilos, capturada no litoral português. 

O proprietário do Sekai, Édson Neves, explica que, em média, 30% dos peixes não podem ser utilizados nos pratos do restaurante: “A espinha dorsal, parte do rabo, as arestas, as laterais, a parte que tem ligação ao estômago, algumas partes do peixe que são mais duras, que têm mais fibras e pele, não são utilizadas. Estes 30% a 40% que iriam para o lixo, reutilizamos através da Sancho Pancho.”

“Os biscoitos são feitos com este tipo de peixe branco”, explica Daria, “que primeiro cozemos, depois trituramos, misturamos com farinha e fazemos o biscoito. Desta forma os biscoitos têm uma textura muito mais suave. Mas também há outros tipos de desperdício, como peles de peixe branco ou peles de salmão, que têm um ar mais bonito e podemos desidratar. Este tipo de petisco entra na máquina, fica durante 20h a uma temperatura de 70˚ e, sai mais seco e estaladiço. Cortamo-lo em pedaços e fazemos como se fossem batatas fritas, lascas de pele de salmão.” 

A marca Sancho Pancho é uma alusão ao personagem Sancho Panza do livro Dom Quixote de Miguel de Cervantes e, também uma homenagem a um dos cães de Daria, o Pancho. Além de recolher as sobras no restaurante Sekai, Daria tem parcerias com outros restaurantes e peixarias de Lisboa. Ela recolhe cerca de 25 quilos de sobras de peixe por semana, que iriam parar ao lixo. 

Os petiscos com pele de salmão são ricos em ómega 3, que ajuda a saúde da pele e do pelo de cães e gatos. Além de reaproveitar sobras de pescado, a marca de Daria Demidenko produz biscoitos a partir de restos de carne de coelho e de porco desidratada. Daria diz já ter conseguido angariar muitos clientes para esta causa. “Alguns clientes dizem que com o nosso exemplo, quando agora vão às peixarias e aos talhos, também levam para casa algum desperdício. Não fazem produção, não fazem petiscos para venda, mas conseguem fazer alguma comida para os seus cães, gatos, ou para si mesmo.” 

A iniciativa é elogiada pelo especialista sénior de Pesca da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Márcio Castro de Souza que explica já existirem países europeus que aplicam uma política de desperdício zero no pescado. 

“É muito interessante essa iniciativa da Sancho Pancho e, de facto temos visto, não só à escala industrial, mas também com pequenos exemplos como reduzir o desperdício de pescado. Existem várias indústrias produtoras de salmão nos países escandinavos que já atingiram o patamar de utilizar 100% do pescado. Fazem filetes, usam o olho para adubo ou para fazer óleos essenciais. Há toda uma produção voltada para o zero desperdício.” 

Daria diz-nos “é preciso muita criatividade para evitar o desperdício de alimentos.”


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