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Leia aqui alguns dos relatos chocantes das vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica

O relatório anunciado esta segunda-feira pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica portuguesa revela algumas das denúncias de vítimas de abusos.

As histórias são deveras chocantes e pertencem a vários períodos temporais, com vítimas do sexo masculino e feminino, e ocorridas em todo o País. Os sociólogos Ana Nunes de Almeida e Vasco Ramos, elementos da comissão independente, leram os relatos em voz alta.

Ficam aqui três dos inúmeros relatos chocantes:

1 – “O padre ia à minha cama com a lanterna e apalpava-me, perguntava-me se eu já pecara. Vivi sempre sobressaltado. Tinha medo porque era pecador e ia para o inferno. Mandava-me ir buscar rebuçados de cada vez que tivesse maus pensamentos. Houve um dia que consegui 26 rebuçados. Quando ia ao seu quarto buscá-los, ele apalpava-me todo e metia a língua toda (…) Um dia, fui com o frei a casa de um benfeitor e, durante a noite, disse-me para dormir com ele. Ia rodando entre os rapazes, deitava-me e adormecia. Acordava com o pénis dele entre as minhas pernas e todo sujo. Depois dizia: ‘Agora tens de te ir confessar.’ Sentia muita culpabilidade, atolado em pecado. Não contava nada na confissão, sabia lá”.

2 – “Sei que não fui o último – pelo menos mais outros dois rapazes do meu quarto. Éramos os mais tímidos, talvez os mais medrosos. Estávamos juntos. Eu fui uma noite, o [F.] outra e o [H.] foi duas vezes – a primeira e a última da viagem de estudo. Sei que ele ainda é vivo, mas já não trabalha naquela escola. Mas penso onde andará esse tarado, pois em qualquer sítio ele fará mal a outros. Nunca me esqueço que o meu amigo não aguentou. Numa noite chegou, a meio da noite, e vinha a chorar, a chorar. Estava sentado na cama dele no nosso quarto. Ele não disse nada e eu também não contei que já tinha sido vítima disso na noite anterior. Então perguntei-lhe se ele tinha medo e ele, a chorar, disse que sim. Eu disse-lhe para ele se deitar na minha cama e assim dormíamos os dois e adormecemos, mas ele demorou tanto, tanto a parar de chorar. Foi no verão de 2000, nós estávamos de viagem de turma e estávamos ali sozinhos, longe de casa e dos pais. Não havia nada, nem ninguém a quem contar. Só nos consolámos um ao outro. E desculpem, pois agora estou eu a chorar. Escrevo isto e não sei mais dele. No final dessa viagem, acabámos a escola, separámo-nos e eu nunca mais o vi”.

3 – “O meu irmão faleceu agora. Ora, eu penso que ele nunca contou nada do que eu vi – e o que eu vi não foi bonito. Não posso eu ir para o outro mundo, falecendo a carregar comigo este segredo. Uma vez, na casita, eu estranhei. Quando fui lá espreitar, estava o meu irmão, coitadinho. Ele era muito bonito e perfeito, branquinho de pele. Estava ele despido, de calças e roupa de baixo, e o padre assim meio que no chão a por o sexo dele na boca. Nunca tal tinha visto na vida. Dantes, essas coisas não se viam. Parecia tudo a passar muito rápido, pois fugi com o olhar. E quando voltei a olhar, estava o meu irmãozito – coitadito dele, o que ele sofreu. Sei lá eu o que aquela alma deve ter sofrido. Estava ele agora no chão como um animal e ele, o padre, por trás a enfiar-se nele. E ele aflito, de lágrimas de chorar. Peço desculpa, já não consigo contar mais. Espero que chegue para saberem que foi tudo verdade. Ele [o irmão] detestava padres, tanto que disse que, quando morresse, não havia de querer nenhum. Que o deixassem ir em paz. Assim foi, quando faleceu agora há pouco tempo”.

 O relatório pode ser consultado na íntegra aqui.


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