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Jornalista acusa Manuel Alberto Valente de assédio sexual: “Começou a tentar beijar-me na boca”

A jornalista Joana Emídio Marques acusou o escritor e antigo editor da Porto Editora, Manuel Alberto Valente, de a assediar em 2012.

A jornalista Joana Emídio Marques acusou o escritor e antigo editor da Porto Editora, Manuel Alberto Valente, de a assediar em 2012. Numa altura em que várias figuras públicas têm vindo a denunciar casos de assédio sexual, a jornalista foi mais longe e revelou nomes, caracterizando este episódio como “mais um dia normal” na vida de uma mulher.

Escreve que “no ano de 2012 começou a correr a notícia de que a Porto editora ia comprar a mais importante chancela de poesia a Assírio e Alvim, cujo catálogo tinha nomes como Herberto Helder. Para quem está fora do meio literário isto pode não significar nada. Para quem trabalha no meio era uma cacha (um furo jornalístico) e eu queria-o para mim. Era “amiga”, no facebook, do editor e homem forte da Porto Editora, que já então me enviava mensagens pseudo-sexutoras (não é erro, inventei esta palavra).

Aceitei jantar com ele para falarmos da compra da Assírio. Não por acaso ele marcou o jantar num fim de semana em que a sua mulher estava num festival literário no México. Mas esta ligação eu só fiz muito depois. Fomos a um restaurante (caro) ali ao fundo da rua do Alecrim, um que serve sushi. Ele, cavalheiro-me a ajudar-me a despir o casaco, a puxar a cadeira para eu me sentar. Estava eu a ficar bem impressionada, quando ele tira do bolso uma caixinha de comprimidos que espalhou na palma da mão e aproximou do meu rosto e lançou: estás a ver? Não tenho aqui nenhum comprido azul. Eu, que acabara de conhecer o homem e não queria parecer burra, forcei o meu cérebro a tentar entender a “piada” mas não consegui. “Oh, soltou ele ” não te faças de sonsa”. Assim, logo a tratar-me por tu e a insultar-me de forma velada.

Nesse momento eu entendi ( se nasces mulher aprendes cedo a descodificar alusões sexuais): o homem estava a mostrar-me, a dizer-me que não tomava Viagra. E aquilo que era para mim um jantar de trabalho tornou-se logo ali uma humilhação. Não me lembro do que falamos, para além de coisas como as dívidas e a falência iminente da Assírio, entre piadinhas aqui e ali ainda ouvi “pensava que fosses uma mulher totalmente frivola, mas és esperta”. Mesmo assim, nada de concreto consegui saber sobre o negócio da Porto Editora e a única coisa que eu realmente trouxe deste encontro foi um “diz que disse”. Nada consistente para a minha notícia. Perks of the job. Por essa altura já tinham sido medidas as forças.

Ele já tinha percebido que não me ia levar para a cama e eu já tinha percebido que sem isso não havia estória. Só história. Como fazia sempre, tinha deixado o meu carro estacionado na Rodrigues Sampaio, junto à porta do DN. Ele ofereceu-se para me dar boleia até lá. Aceitei. Erro meu. Quando parou o carro e ia dar-lhe os tradicionais 2 beijos de despedida, o Manuel Alberto Valente ainda achou por bem começar a tentar beijar-me na boca, com uma descontração que mostrava que ele deve ter feito isto centenas de vezes. Eu afastei-me e sai do carro. Em silêncio chamei-o de velho porco, em silêncio humilhado chorei até Setubal. Contei isto a vários amigos, mas não mais. Queixei-me ao (na altura) assessor de imprensa da Porto Editora, Rui Couceiro, que reconheceu “haver esse problema”, como quem aceita que pode chover num dia de sol.Se fores mulher, ser tratada sem vergonha nem respeito, é apenas mais um dia normal na tua vida.

O Manuel Alberto Valente, acabou no final do ano passado, por ser afastado da Porto Editora. Hoje em dia é cronista do Expresso. Colega do Henrique Raposo que veio a público pedir às mulheres que digam nomes. Aqui está um nome, caro Henrique. E tenho mais. Mas talvez não dê jeito ouvir”, pode ler-se.

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