Opinião

Inteligência à lagareiro

Uma crónica de Vera Esperança.

A empatia pelos animais é, de facto, uma condição não disponível para todos. Alguns por nunca terem experienciado uma convivência interespécie que lhes permita evidenciar o óbvio; Para outros, por manifesta ausência de benevolência.

E é tão bom quando percebo que mais alguém mudou o seu comportamento, porque finalmente compreendeu que aquele ser ao seu lado é tão semelhante ao humano no meio de tão aparente diferença. Quinhentos milhões de neurónios espalhados por um cérebro e oito braços fortes e versáteis, três corações, um bico, duas mil ventosas, tudo num corpo sem esqueleto e com uma bolsa de tinta. E no final tão igual a si.

O polvo é um dos seres mais inteligentes da vida marinha, inteligência comparável à de um cão, ou de um gato, ou ainda de um primata inferior. É o único invertebrado com um sistema nervoso amplamente desenvolvido. Presume-se que o desenvolvimento da sua inteligência relaciona-se com a luta pela sobrevivência, já que é um ser mole sem uma concha que o escude. No seu cérebro tem áreas dedicadas à aprendizagem e à memória.

Este espetacular molúsculo marinho, com uma vida mais ativa durante a noite vive em tocas rochosas que lhe permitem esconder-se dos seus predadores naturais, como tubarões. Fora delas, consegue enrolar-se em folhas de algas deixando uma abertura por onde espreita o perigo. Com as suas ventosas, consegue confundir-se com uma pedra ou pedaço de rocha – basta-lhe sugar com as ventosas algumas conchas, pequenas pedras e areias e enrolar-se como uma bola. São métodos de defesa desenvolvidos há milhões de anos, cujas ameaças foram aperfeiçoando. A camuflagem é um dos seus truques mais inteligentes, que faz deste ser um mestre nesta arte.

Alimenta-se de peixes e crustáceos, sendo capaz das mais ardilosas emboscadas. Na sua boca tem um bico quitinoso (broca) – com ele, através de um cálculo geométrico perfeito, perfura o ápice das duras conchas – um furo perfeito, no sítio exato, onde injeta o seu veneno.

Os braços (compostos por duas mil ventosas controladas individualmente) permitem-lhe ainda passear em terra por breves instantes, nomeadamente quando se sentem em perigo dentro de água.

Este cefalópede tem boa acuidade visual, uns olhos parecidos com os seus, e um apurado sentido sensorial – com os seus braços conseguem sentir, reconhecer diferentes texturas, provar e tocar.

E tal como certamente é seu apanágio, o polvo defende os seus descendentes ferozmente. É-lhes tão dedicado que, por regra, o seu acasalamento marca o início da sua morte. Para ficarem salvaguardados de ataques de outros organismos, os ovos são escondidos e protegidos pela fêmea até eclodirem. É ainda ela que providencia a sua oxigenação, através da circulação de correntes de agua. Até lá, não se alimenta e de tão fraca, ao sair da toca fica à mercê dos seus predadores, que a devoram de forma impiedosa

Não acredita no que lhe digo? Assista ao documentário Myoctopusteacher e ouça Craig Foster, fundador do projeto SeaChange . Prometo que não vai ficar indiferente.

“I hadn’t been a person who was overly sentimental towards animals before. I realized I was changing […] You start to care about all the animals. You realize that everyone is important.”

Craig Foster – My Octopus Teacher

https://veganhacktivists.org/blog/my-octopus-teacher-2020-step-into-nature-and-develop-a-gentleness

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”. 


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