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Hospital de Setúbal em risco: “está pior”, “pior do que isto vai fazer encerrar o hospital”, alerta Ordem dos Médicos 

O Hospital de Setúbal recebeu ontem a visita do presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, e também do bastonário, Miguel Guimarães, e a situação encontrada é de grande gravidade. 

“A Ordem dos Médicos veio a este hospital na sequência de um acompanhamento que tem feito da situação do mesmo nos últimos três anos e uma das perguntas que fizemos aos médicos é se hoje estamos melhor ou pior do que estávamos há dois anos atrás e a resposta foi unânime: estamos muito pior. Apesar da pandemia, este hospital entrou num ciclo de degradação em que já não escapam serviços e, por isso, é necessário aplicar-lhe um choque que o reanime e que torne novamente um hospital digno de uma capital de distrito. Os problemas que nós vimos na Obstetrícia, na Urgência Geral, na Cirurgia Geral, são comuns às outras especialidades e resumem-se ao facto do capital humano estar muito degradado e o hospital recorrer cada vez mais a empresas prestadoras de serviços que não seguem os doentes apenas os vêem nas urgências e é importante fazer com que os últimos médicos que se aguentam neste hospital, muito próximos da reforma, mantenham este espírito e que os novos sigam o exemplo dos mesmos e que queiram manter-se quando acabam a especialidade. Os concursos não podem continuar a abrir e ficarem desertos e pior ainda em várias especialidades não abrirem em detrimento de outros hospitais menos carenciados. A Ordem veio ouvir estes médicos, vai continuar a manter as propostas como fez no passado e vai continuar a fazer pressão para que hajam medidas centrais legislativas e medidas locais que dignifiquem novamente este hospital”, partilhou Alexandre Valentim Lourenço.

A falta de clínicos é um problema que se estende há vários anos: “Nós não temos um número absoluto da falta de médicos, temos um número por especialidades, por exemplo, a Obstetrícia tinha de ter cerca de 21 médicos, tem 11, oito dos quais acima dos 57 anos que podiam não fazer urgência e continuam a fazer, dois que já fizeram o pedido de reforma e dois já têm a idade limite no próximo ano e não têm ninguém que fique depois deles. Os concursos que abriram para a Obstetrícia no seguimento destes ficaram desertos. O que acontece na Oncologia é a mesma coisa, a Oncologia tinha oito médicos e neste momento está com dois ou três. E, por isso, todas as especialidades replicam o mesmo tipo de padrão. As especialidades estão a perder médicos, porque estão a chegar à idade da reforma, há um hiato à volta dos 40 50 anos que este hospital e muitos outros não tem e, por isso, quando perdermos os mais velhos e se não conseguirmos fixar entretanto os muitos novos que se têm formado, este hospital não tem futuro.”

Os clínicos alertam para estas carências e que situação fica a cada dia mais difícil: “Este hospital teve a coragem de várias vezes em público assumir essa dificuldade, foram os médicos que o fizeram. Apesar de muitas vezes o Conselho de Administração minimizar este grito de alerta  é importante que este hospital e todos os que têm estas dificuldades se unam e eles próprios digam: queremos mudar. E tornem uma posição que mostre aos portugueses, que mostre ao Governo que é importante investir. A bazuca não é apenas em paredes, mas essencialmente nas pessoas.”

Alexandre Valentim Lourenço deixa o alerta: “Este é um dos hospitais que está no limite, mas é um hospital que já está no limite há três anos e nós fizemos várias ações neste hospital e vemos que está na mesma, este hospital não conseguiu inverter a situação. Foram os médicos que o disseram, todos unanimemente levantaram o braço quando perguntámos: este hospital esta pior ou melhor? Todos eles disseram que está pior nos últimos três anos e isso não pode acontecer mais, pior do que isto vai fazer encerrar o hospital.”

A época da gripe pode complicar ainda mais este cenário: “Este hospital está exactamente como estava há dois anos quando surgiu a pandemia e, por isso, ele respondeu de uma forma positiva com grande esforço e com grande desgaste. Não sabemos é se este desgaste sucessivo não faz com que os médicos saiam do hospital e aí seja impossível de corresponder, esperemos que se consiga invertes este ritmo, antes deste próximo inverno e antes das próximas pandemias e situações de crise.”

Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, mostrou-se bastante preocupado:  “Nós chegámos cá e a situação está pior ao que estava há meia dúzia de meses atrás de quando cá estivemos. É preciso dar um passo e seguir em frente, é preciso de facto apostar neste hospital francamente. Nós passámos no serviço de urgências e estavam 47 doentes em macas, o que é de facto completamente inaceitável, mas é porque não há espaço. A doença covid, os casos que tem são muito poucos, nós estamos agora naquilo que são os nossos doentes normais. É preciso actuar, aquilo que está orçamentando é preciso ser aplicado, porque este hospital precisa de mais espaço. É preciso reforçar o capital humano, são precisos muitos médicos, faltam muitos clínicos em várias especialidades. É preciso agir.”


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