Opinião

Hipócritas

Fiz na pretérita semana o meu Retiro espiritual anual. Costumo dizer que, tal como num GPS, o Retiro permite-nos recentrar para que deixemos de ser o centro – parece um paradoxo – e alinhar com o caminho.

O centro de mim próprio não posso ser eu, ainda que haja uma natural tendência para que o seja. O hedonismo, o egoísmo, a presunção, entre tantas outras características que nos são comuns, fazem-nos querer ser deuses, mais não seja, deuses de nós mesmos, fechando-nos aos outros.

Recuando 2000 anos observo que muito pouco mudou no apostolado. Jesus, ontem como hoje, não foi o melhor dos seleccionadores. Antes pelo contrário. Não podia ter escolhido piores trabalhadores para a Sua messe. Aliás, sorte não ter trabalhado, na altura, como gestor de recursos humanos pois seria, certamente, despedido por inadaptação.

Reparemos sobre os Apóstolos. A sua inteligência não era propriamente extraordinária. Jesus tinha de lhes explicar tudo por parábolas… imagino quão cansado se sentia Jesus ao fim do dia para, em cada ensinamento, ter de imaginar uma história para contornar a sua incapacidade; por outro lado, eram muito terrenos, tal como nós, e Jesus dizia-lhes, tantas vezes, que só mais tarde compreenderiam, não sendo, por via disso, astutos; eram preguiçosos, ao ponto de Jesus os repreender sistematicamente quando adormeciam e não oravam e/ou vigiavam. Jesus foi traído por um deles e negado por outro. Que selecção! E na altura em que foi crucificado fugiram todos, excepto João, o discípulo amado. Os demais fugiram para onde puderam para salvarem a vida. E haviam dito que estariam com Mestre em qualquer circunstância. Mas fugiram… No mais, quem esteve ao lado de Jesus foram, a par de João, as mulheres, a quem deixo publicamente um louvor pela habitual coragem.

Em 2019 não vislumbramos menores diferenças. Também nós fomos escolhidos a dedo pelo mesmo seleccionador, quiçá olhando as nossas fraquezas e debilidades, em tudo semelhantes àqueles. Não somos como Paulo, nem como Estevão. Nem como Teresa de Ávila ou João da Cruz. Mas a História da Igreja está repleta de casos extraordinários, como sejam a vida de Santa Mónica e Santo Agostinho. E, neste caso, é caso ímpar uma santa pôr um santo fora de casa!

Quero com isto retirar responsabilidades a pela nossa (eventual) ausência de estofo? Não, de todo. Ainda que na mediocridade, somos chamados – todos – à santidade. E esta não é coisa de alguns. E devemos encarar esse caminho de forma alegre e sorridente porque os cristãos são alegres e é isso confunde tantos. É o nosso caminho. Porque na verdade, ainda que sejamos singulares, temos os exemplos dos santos que em tudo foram pessoas iguais a nós pelo que o almejar das virtudes deve ser algo impresso em nós como um selo indelével.

Dentro de inúmeras fragilidades e deficiências, são os apóstolos dos novos tempos chamados a intervir. Não faltam assuntos. Numa época dominada pela cristianofobia, que parece não incomodar ninguém, os cristãos são chamados a assumir a sua condição, pelo exemplo da família, pelo exemplo no trabalho (um cristão trabalha sempre bem e procura a perfeição), por conhecer a doutrina e, quando necessário, vir a terreiro defender os seus valores, seja nas redes sociais, num jornal, num artigo de opinião.

Se as anteriores foram generosas, a legislatura que se segue terá as suas lutas. Não serão poucas e exigirão de nós garbo, alegria e fortaleza.

Os católicos são todos hipócritas! – ouvimos.

É um facto. Não faço deles melhores que ninguém porque não o são.

Os católicos são todos hipócritas! – ouvimos.

É verdade. Não fosse a graça de deus e seriam piores que todos os outros.

Os católicos são todos hipócritas! – ouvimos.

Sem dúvida. Tantas e tantas vezes não agem de acordo com o que proferem.

Os católicos são hipócritas! – ouvimos.

Absolutamente. São pessoas que, em grande escala, não têm uma vida una, não rezam, não se mortificam, não praticam a caridade e não se esforçam por sair dessa esquizofrenia.

Os católicos são hipócritas! – ouvimos.

É verdade. Somos. Mas costumo responder, a quem o diz, que há entre nós, e sempre, lugar para mais um. Seja bem-vindo.

P.S: para quando passadeiras contra a cristianofobia?


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