Opinião

Há fome na GROUNDFORCE

Uma crónica de Bruno Fialho.

Para quem não sabe, a Groundforce é a empresa líder em Portugal no mercado de assistência aeroportuária de passageiros, bagagens, operações em pista e carga.

Os trabalhadores da Groundforce são altamente especializados, assistem as aeronaves em terra e preparam-nas para estarem prontas para descolar, garantindo a fiabilidade e segurança dos aviões.

É um trabalho de extrema complexidade, mas ao contrário do que muitos julgam, normalmente é mal pago.

Para além dos salários pouco acima do salário mínimo, muitos dos trabalhadores da Groundforce vivem uma situação insólita, como a seguir passo a descrever.

Como não existem transportes públicos de madrugada para o aeroporto, seja para o de Lisboa ou para o do Porto, devido aos salários de miséria que auferem, a maioria dos trabalhadores não tem veículo próprio e, por esse motivo, muitos optam por ir mais cedo e dormir em locais próximos, para estarem a tempo de entrarem, por exemplo, às 04h00, com o risco de, por mera necessidade, colocarem em perigo a segurança de voo.

Mas deixemos de falar nos pobres escravos da Groundforce e passemos aos ricos administradores ou àqueles que pensam que gerem uma “sanzala” em pleno séc. XXI.

Quem administra a Groundforce é Alfredo Casimiro, um empresário rico, na minha opinião, sem escrúpulos, que não passa fome, ao contrário de muitos dos seus trabalhadores.

Alfredo Casimiro tem uma vida de luxo, em parte, como tantos outros administradores de empresas, porque paga salários de miséria a quem tem as vidas dos passageiros nas mãos e porque esta empresa cai-lhe do céu, através de um contrato, no mínimo, muito suspeito feito com o Governo.

Nos últimos meses a maioria dos trabalhadores da Groundforce têm passado fome, sim, passam fome, mas trabalham, o que é uma incongruência, pois temos tantos inúteis no nosso país que são pagos para ficar em casa sem fazer nada e que não passam fome.

Portugal é, provavelmente, o único país do primeiro mundo onde se pagam salários de miséria a quem tem a vidas de outras pessoas nas mãos, como no caso dos trabalhadores da Groundforce. Todavia, em abono da verdade, Portugal, neste momento, é um país ao nível da Venezuela, ou seja, do terceiro mundo, inserido no grupo de países subdesenvolvidos.

Estar a trabalhar numa empresa na qual o Estado tem uma participação muito forte e não receber salários é de perder a cabeça.

No ano que passou, os trabalhadores da Groundforce continuaram a trabalhar no aeroporto, expostos a um vírus causador de uma pandemia, enquanto outros, devido à falta de voos, foram sendo despedidos. Isto aconteceu enquanto a maioria dos portugueses trabalhava de roupão e em segurança dentro de casa ou ficou em Lay-off com os salários garantidos.

Os trabalhadores da Groundforce, para além dos salários de miséria, também não têm recebido atempadamente o pagamento dos mesmos e do subsídio de férias e desde janeiro já houve três vezes atrasos no pagamento de salários, a última das quais no mês passado.

Imune a tudo isto, acredito que Alfredo Casimiro continue a passear num dos seus grandes bólides e a comer em restaurantes de luxo, enquanto os trabalhadores da Groundforce têm que mendigar junto dos amigos para terem o que comer.

Como última tentativa de terem dinheiro para comer ou pagar as rendas e os empréstimos bancários das suas habitações, os trabalhadores da Groundforce convocaram para este fim de semana uma greve, reivindicando o pagamento atempado dos salários e do subsídio de férias.

Um dos problemas é que o Estado é dono de 49,9% da Groundforce e nada faz, porque se estes trabalhadores fossem de uma qualquer minoria, já tinha “caído o Carmo e a Trindade” e já teriam os salários pagos e a segurança de voo efectivamente assegurada.

Assim, porque estes trabalhadores não pertencem a uma das chamadas minorias, o Governo não quer saber deles e o administrador rico não se preocupa com a fome que os eles passam.

Presumo que o dia em que tudo irá mudar é quando algum trabalhador, ao não conseguir dar de comer aos filhos, faça explodir a Assembleia da República, o Conselho de Ministros ou as sedes das empresas que têm salários em atraso, com os deputados e administradores lá dentro.

Enquanto isso não acontece, o mais provável é que algum destes trabalhadores venha a cometer suicídio, como outros já o fizeram no passado.

Espero que os trabalhadores da Groundforce consigam ter os salários pagos, bem como tudo aquilo que está em atraso, porque as moratórias estão à porta e o Governo, ao não ter adiado, pelo menos, por mais seis meses o início das mesmas, demonstrou, mais uma vez, que não quer saber dos portugueses.

Assim, hoje deixo aqui a minha solidariedade para com os excelentes profissionais da Groundforce, bem-haja a todos os que nos permitem e garantem voar em segurança.


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