Opinião

Há 9.500 anos a abusar de si

Uma crónica de Vera Esperança.

Todos sabemos que os miaus têm o seu caráter. São uns tipos fantásticos que fazem dos tutores o que querem. E parece que agora, a verdade veio toda ao de cima, não podendo ser negada por quem pratica atos demonstrativos do total desinteresse que nutre por si.

Tudo isto porque veio a público o resultado de um estudo que indica que os gatos reconhecem a voz dos donos, bem como o seu nome, mas estão-se a marimbar para o que os rodeia. Mas de uma forma completamente descarada! Meu amigo, se tem um gato, lembre-se que tem de viver para ele, pensar nele, cuidar dele, dar tudo ao bicho e, por favor, esqueça-se das suas necessidades mais básicas.

Assim, muito resumidamente, o estudo consistiu no seguinte: gravaram-se as vozes dos tutores e de outras pessoas estranhas ao animal. Sempre que o tutor falava, sabe, aquele tipo que é o criado do gato, o animal virava a cabeça, mas rapidamente ignorava a ordem que lhe era dada. Está bem, bacano, agora deixa-me em paz ou vai arranjar qualquer coisita para eu morder que já estou a ficar com larica. O quê? Outra vez frango? Meu amor, quero salmão, não o da aquicultura, o de mar, aquele do bom. Vai, vai lá, eu espero, mas não de demores…. Estou de olho emtiMiau…

Na verdade, este comportamento tem origem no seu processo de domesticação, pois os gatos, ao contrário dos cães, não foram habituados a receber ordens para irem à caça, para procurarem objetos perdidos ou para guardarem ou defenderem o seu tutor. Na verdade, o gato existe para ser servido. Pode começar por perceber este conceito através do nome científico dado ao animal – Felissilvestriscatus…. Percebeu? Silvestre… selvagem…livre, que não acata ordens. Sim, sou eu, bacano… e esse salmão? Está demorado?

Estima-se que o primeiro encontro entre gatos e o ser humano foi há nove mil e quinhentos anos, milhares de anos de servidão que deixam o humano feliz. Sim, porque aqui o patudo é lindo, faz rom-rom e ajuda na caça ao rato, esse desgraçado que foi e é considerado uma das piores pragas. Assim, o felino vive à custa do humano, porque este descobriu que aquele persegue o rato num divertimento sem fim, ajudando o nosso antepassado agricultor (e o atual também!) a manter os roedores longe das colheitas que se arrecadam nos celeiros e armazéns.

É ainda curioso notar que os gatos foram venerados pelos antigos egípcios e depois, mais tarde, pelos persas, chineses, budistas, tendo inclusivamente sido implementada pelos primeiros a pena de morte dedicada a quem traficasse ou matasse um gato. E quando um destes animais morria, o membro da família que não se vestisse de luto juntar-se-ia rapidamente ao gato falecido.

Lamentavelmente, na Idade Média, os gatos foram conotados como estando associados à bruxaria e a espíritos malévolos… pudera… eles faziam o que queriam e os seus tutores obedeciam-lhes… era natural que os mais céticos acreditassem que estes felinos estavam possuídos pelo diabo e que hipnotizavam os seus tutores para deles fazerem o que quisessem. Só pode ser isso…

Também temos a questão das suas vidas que na realidade até são sete. Este mito está associado ao facto deste animais conseguirem escapar à morte quando se encontram perante situações de elevado risco – veja-se que quando caem, caem sempre de pé. E porquê? Por causa do seu apurado e desenvolvido sentido de equilíbrio complementado por uma cauda que serve de contrapeso.

Mas o mais importante é: onde está esse salmão, pá! Não me aborreçasolha que eu não gosto…. Mau, Maria.

Voltarei, porque, afinal, “somos todos iguais”. 


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