Opinião

Governo de fancaria a fingir ser de diamantes

Esta semana, mais um artigo de Pedro Guerreiro Cavaco.

Não eram 16 horas da tórrida tarde de Domingo, 16 de Junho, quando, ao chegar ao Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) para assistir à récita La Bohème, recebo das mãos dos funcionários da empresa externa ao TNSC um documento que me iria servir para pedir o reembolso do valor dos bilhetes que havia comprado.

Mesmo antes de chegar ao átrio do TNSC aferi, ao longe, haver uma manifestação. Eram os trabalhadores do Teatro em greve, agarrando uma tarja, em greve que se manifestavam diante dos expectadores que chegavam para assistir à ópera.

Vamos, pois, compreender as suas razões.

A greve marcada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE) afectou as cinco récitas da ópera La Bohème.

Na verdade, esta era a ópera do ano. Devo confessar que este ano a temporada lírica ficou muito aquém das expectativas. O TNSC apresentou somente duas grandes óperas para 2018/19. Além de La Bohème, que não se realizou, o TNSC levou à Invicta, em Outubro, La Traviata de Giuseppe Verdi, no Coliseu Porto Ageas.

Era grande a expectativa por Junho. Mas os expectadores que, como eu, adquiriram bilhetes em Novembro não sonhavam que iria irromper uma greve em final primaveril. E ela aconteceu, justamente, pela quebra de confiança em relação à administração e à tutela [ministério da Cultura], uma vez que os trabalhadores do TNSC reivindicam a harmonização salarial com os funcionários da Companhia Nacional de Bailado.

Em Março (estamos em Junho, é bom de lembrar), Graça Fonseca, Ministra da Cultura, disse no parlamento haver uma solução orçamental para resolver a diferença salarial entre trabalhadores técnicos do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) e da Companhia Nacional de Bailado (CNB), para que os técnicos dos dois organismos pudessem ter salários equivalentes. Importa clarificar que o TNSC e a CNB são geridos pelo Organismo de Produção Artística (Opart).

Que esperavam ao fim e ao cabo os trabalhadores? Uma garantia do Ministério das Finanças que não chegou.

Este governo que governa para o show-off não atendeu à prometida reivindicação dos trabalhadores, de harmonização salarial, e as negociações que estavam em curso terão sido mesmo suspensas, mantendo-se – infelizmente e com prejuízo para todos – o diferendo laboral no Organismo de Produção Artística (Opart). Desta forma, o Ministério das Finanças não prosseguiu com as responsabilidades assumidas e por via disso não libertou as verbas necessárias para dar resposta às reivindicações.

É um diferendo que se arrasta com incapacidade de Ministra da Cultura em o resolver. E desenganem-se os que pensam que a questão é nova. Não é. A promessa de harmonização salarial arrasta-se desde 2017.

Pior. Na pretérita sexta-feira foi anunciado uma verba de €3.000.000,00 (três milhões de euros) para obras (necessárias, na verdade…), mas as garantias aos trabalhadores (escritas, como exigido pelo sindicato), que custariam €60.000,00 (sessenta mil euros), ficaram para núpcias futuras. Setembro, consta agora.

Repare-se no ridículo a que este governo socialista nos sujeita a todos, sejam trabalhadores em greve, sejam expectadores que valorizam a cultura em Portugal. A devolução ao público dos pagamentos de bilheteira – já requeri o meu ressarcimento – poderão ascender a cerca de 200 mil euros”. Ora, cito um comunicado do PSD, este valor é bastante superior à verba de 60 mil euros que resolveria o conflito laboral em causa.

Além das cinco récitas da ópera La Bohème, o pré-aviso de greve contempla também as apresentações no Porto, de 11 a 13 de Julho, do espectáculo Dom Quixote, pela CNB, e o Festival Ao Largo, que este ano se realiza entre 5 e 27 de Julho.

Este é o estado da cultura em Portugal. Uma verdadeira lástima.

Duas notas mais. A primeira para o facto do PS perseguir a maioria absoluta a todo o custo e a troco de medidas eleitoralistas, populistas, inopinadas, como sejam manuais gratuitos até ao 12º ano de escolaridade, ou o fim de taxas moderadoras nos centros de saúde e exames prescritos no SNS. Além dos custos brutais que as medidas encerram, a sua prática consubstancia, em si, uma profunda desigualdade. Porque a igualdade faz imperar o tratamento diferente de situações desiguais. Justiça não é dar a todos igual medida. Justiça é antes dar a cada um o que lhe pertence. Ora, o que o PS nos traz, novamente, é mais despesismo público e situações de desigualdade social.

São medidas idênticas ao passe social cuja redução do preço não foi acompanhada por medidas absolutamente necessárias para o aumento da procura.

As medidas do PS, governo e deputados da nação, parecem diamantes. Mas é mesmo aparência. Na verdade, é fancaria.

A segunda e última nota para lamentar e repudiar a publicação (pública, aliás), na rede social Facebook, datada de 15 de Junho, por parte do secretário de estado João Costa, criticando deselegantemente o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada.

Caro Dr. João Costa, quero dizer-lhe que também eu abomino a ideologia de género que, afirmo, não passa de ideologia, quiçá passageira. E agora, para Vexa., terei deixado se ser um “advogado católico a sério?” O Papa, não é um “Papa a sério”? Os Cardeais não são “Cardeais a sério?” Os Bispos, também eles, não são “Bispos a sério”? E, por fim, os católicos coerentes com a doutrina que professam, serão eles “católicos a sério?” Em que ficamos? É que a Igreja Católica tem uma doutrina tão clara que não anda ao sabor do vento, dos apetites e muto menos das visões pessoais de cada um. O meu lamento não é tanto pela pessoa de Vexa., que nem conheço, antes pelo cargo público que ocupa. É inadmissível que um secretário de estado da educação profira tais afirmações. Absolutamente lamentável.


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