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‘Gostava de incentivar os jovens a praticar esta modalidade’

A frase é de João Loureiro, jovem que conquistou este ano o título de campeão regional de kickboxing, na primeira vez que participou numa prova de competição, na categoria -64 e classificou-se assim para o Campeonato Nacional que terá lugar em Novembro, na cidade de Odivelas.

No campeonato que decorreu em Torres Vedras entre 29 Fevereiro e 1 Março, participaram 620 atletas de 70 equipas, e o atleta do Grupo Popular Recreativo Cabanense, Palmela, conquistou com orgulho o seu primeiro título.

“Não estava à espera de vencer, mas o mestre sempre me apoiou e dizia que eu ia conseguir. Não conhecia ninguém, mas gosto muito de cumprimentar os adversários e ter esse fair-play, embora só tenha ainda participado em duas provas de combates para ‘ganhar experiência’, um antes e outro depois do campeonato e foi bom, porque gosto de combater mesmo que não seja para ganhar algo.”

Entrou na modalidade através de um primo que “me incentivou a vir fazer um treino, o que fiz e o mestre Leonel incentivou-me a voltar, e agora já estou a praticar há ano e meio.”

A modalidade atraiu-o mais do que outras como o futebol, “onde nunca fui muito bom, mas no kickboxing, embora não soubesse como ia ser no início, tenho vindo a evoluir”.

João Loureiro completou no início de Junho 18 anos e é aluno do 10.º ano no curso de técnico de soldadura. Afirma que não tem dificuldades em conciliar os horários escolares com os treinos “porque são compatíveis”, mas também notou uma certa diferença na sua forma de estar desde que iniciou os treinos. “Por vezes chego da escola cansado e venho para o treino e alívio a cabeça, e sei que os treinos servem para descontrair e descarregar.”

Além do apoio do mestre e treinador, Leonel dos Santos, tem o apoio da família, embora confesse que de início a mãe “não gostava muito porque acha um desporto violento, mas gosta de me ver treinar; o meu pai gosta de ver combates comigo na televisão e ajuda-me a comprar equipamento”.

Como ídolo tem o lutador Conor McGregor, atleta irlandês de artes marciais mistas, conhecido por ‘The Notorious’, “que fazia UFC e sempre gozei do estilo dele de luta, mas já anunciou que se vai retirar”.

O seu desejo é que “não aconteça nada que me impeça de continuar porque gosto mesmo muito desta modalidade” e é esse gosto que também tenta incutir nos seus amigos e colegas. “Incentivo os meus colegas a praticar, não apenas porque é algo que nos faz bem, mas também porque nunca sabemos quando precisamos de nos ter de defender na rua.

E gostava de incentivar os jovens a praticar esta modalidade, e um dia talvez ser professor.”

No entanto a pandemia de covid-19 veio interromper os treinos, bem como as competições, o que deixou João Loureiro “um bocado triste, mas treinei em casa porque não quis estar parado pois isso prejudica-nos”.

«O que eles aprendem nas aulas, serve-lhes para o resto da vida»

A postura e o fair-play de João Loureiro são elogiados por Leonel dos Santos, o treinador que iniciou a modalidade no GPR Cabanense há cerca de dois anos “com cinco atletas e depois passou a seis, a sete e agora antes da pandemia estávamos com 22 atletas” explica ao Diário do Distrito.

“Uso um pouco o João Loureiro como exemplo para os outros alunos pelo que ele tem conseguido conquistar. Trata-se de um jovem aplicado, muito trabalhador e que gosta muito disto.”

E conta uma história que o tocou protagonizada pelo jovem atleta “logo ao início dele frequentar a modalidade, o João teve um problema na escola com um colega que costuma fazer bullying com os outros miúdos e vieram dizer-me que tinha havido ‘pancadaria’, embora afinal fosse apenas uma provocação em que o outro rapaz ainda o atingiu de raspão.

Quando o João chegou ao treino perguntei-lhe porque não se tinha defendido, uma vez que já tinha algumas bases de kickboxing, e ele respondeu-me que não o fez porque ‘podia tê-lo aleijado’.

Esta noção não se aprende noutras modalidades, apenas nas de combate, com o respeito que temos de ter para com o adversário, seja qual for.”

Leonel dos Santos enaltece outros aspectos da modalidade “que são mais valias para os jovens, dando-lhes mais autoconfiança e disciplina, o que os leva também a ficarem mais concentrados noutras actividades  como a escola e também dá-lhes mais autoestima para alguns problemas que por vezes têm de enfrentar na escola, quer no bullying, quer também ao nível do rendimento escolar, porque os ensinamentos que aprendem aqui, vão servir-lhes para o resto da vida, uma vez que a mensagem que aqui passamos é sempre positiva e de respeito para com o adversário.”

Sobre o jovem pupilo, Leonel dos Santos está confiante quanto ao futuro. “O João tem ainda muito caminho pela frente, mas já conseguiu alcançar o título de Campeão Regional de Regional de Lisboa e Vale do Tejo e nessa qualidade vai disputar o Campeonato Nacional em Odivelas, no mês de Novembro, e não tenho dúvidas nenhumas que será campeão nacional.

Puxo muito por ele, dou-lhe ‘porrada’ no sentido positivo e espero que daqui a ano e meio ou dois anos possa estar com ele a competir em K1 ou em competições internacionais. Gostava de já o levar a competir a outros níveis, mas temos de ir degrau a degrau.”

Leonel dos Santos explica ainda como ‘nasceu’ a modalidade no GPR Cabanense. “A colectividade estava um pouco parada, apesar do futebol, e a direção pensou em iniciar uma nova modalidade.

Falaram com o meu mestre, o Lister Silva do Ginásio Total Combat, onde pertenço, e como moro em Cabanas, foi ele quem sugeriu que fosse eu a iniciar a modalidade. Começámos apenas com as paredes, sem sacos ou sequer chão próprio para as aulas, mas aos poucos fomos conquistando o que agora temos, algum equipamento que trouxe de outros lados e que ia para o lixo, outros que comprei no OLX ao desbarato, uns pneus para ajudar nos treinos e outros itens.”

Leonel dos Santos lamenta a falta de apoios da autarquia de Palmela, “esperamos que possamos vir a ter no futuro, ao nível do equipamento individual para os alunos como para usarmos nos treinos, ajuda para os transportes quando participamos em competições”.

Terminado o confinamento imposto pelo covid-19, a equipa vai retomando os treinos “com as medidas de proteção e usando o campo de futebol sintético, ao ar livre e sem contactos, respeitando as distâncias e trabalhando muito.

Antes da pandemia estávamos a treinar apenas duas vezes por semana, o que é pouco mas mesmo assim conseguimos ter um campeão regional no campeonato regional que decorreu em Torres Vedras e onde o João teve quatro combates fantásticos, e que correram muito bem, embora com grande sacrifício, e eu e os parceiros ficámos muito orgulhosos e estamos expectantes pelo campeonato nacional para o tornar a ver a combater.”

E como encara o futuro? “Vejo o João e outros dos jovens que aqui estão a voar mais alto e a ir além do campeonato nacional, porque têm muito futuro pela frente, e a representar a colectividade, mas também o concelho e a região.”

João Loureiro com membros da equipa, o pai e um elemento da direção do Cabanense


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